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quinta-feira, 12 de março de 2020

GENERAL SEVERIANO DÉCADA DE 80


A HISTÓRIA DO TERRENO DE GENERAL SEVERIANO 

É sabido que o nome General Severiano esteve sempre ligado ao do Botafogo. E ao longo dos anos tornaram-se sinônimos. O Botafogo das crônicas esportivas era o clube de General Severiano. E a Rua General Severiano era a rua do Botafogo, como todos conheciam. 

E foi em General Severiano que o Botafogo se tornou grande e conquistou glórias. Construído na era romântica do futebol carioca, o estadinho fora projetado para abrigar 25 mil espectadores. Pouca gente sabe que o segundo lance das arquibancadas e da parte social estava previsto. Como ficou, o estádio teve seu recorde de público no jogo Botafogo x Vasco, decisivo do Campeonato Carioca de 1948: 12 mil e 300 pessoas viram a partida que entrou para a lenda do futebol carioca, com o, Botafogo campeão. 

Ali, em General Severiano como já se falou, o Botafogo se tornou supersticioso, brigão e galhofeiro. Supersticioso como Carlito Rocha, brigão como Heleno de Freitas, galhofeiro como Garrincha.

Em General Severiano a torcida viu os primeiros dribles de Garrincha, a classe de Nilton Santos, a pose de Didi e a aplicação de Zagalo, todos eles bi-campeões do mundo ao lado do jovem Amarildo. Ali no pequeno estadinho de General Severiano surgiram centenas de gols de Carvalho Leite -- o maior artilheiro da história do Botafogo — Pascoal, Patesko, Heleno, Otavio, Pirilo, Geninho, Ariosto, Dino da Costa, Vinícius, Quarentinha e Paulo Valentim. Um pouco mais tarde — já no apogeu do Maracanã — os torcedores do Botafogo ainda puderam ver os dribles Jairzinho, os passes precisos de Gérson, a habilidade de Paulo César e a coragem de Roberto. 

Ali em General Severiano, em 1944, o time do Flamengo, inconformado com a goleada (5 a 2) sentou em campo. Ali, em 1948, o público aprendeu de cor o nome de 11 jogadores que deram ao clube um título tão esperado através dos anos: Osvaldo, Gérson e Santos; Rubinho, Ávila e Juvenal; Paraguaio, Geninho, Pirilo, Otavio e Braguinha. Dizem os saudosistas que, com a morte de General Severiano, o Botafogo perdeu muito do seu encanto, do seu passado e de sua história. Não vamos mais discutir o assunto, já por demais conhecido de todos. Não tivemos nenhuma culpa na venda de General Severiano. Mas foi, como todos sabem, a salvação do clube, hoje já inteiramente recuperado, com seu novo campo em Marechal Hermes. Todos os campos desapareceram da Zona Sul, estão condenados. O problema maior é o da sede. Aí é que está o motivo desta reportagem. 

Antes, porém, convém recuar ao tempo. 

Depois de percorrer as ruas do bairro, o Botafogo deixou a Rua Conde Irajá, em 1906, transferindo sua sede social para a Rua São Clemente, 182 —onde morava o benemérito Alfredo Chaves — e o campo para a Rua Real Grandeza, 11, alugado por 150 mil réis. Daí, já disputando o Campeonato Carioca, o clube se mudou para a Rua Voluntários da Pátria, 209, inaugurando seu novo campo a 31 de maio de 1908. Três anos depois, os dirigentes do Botafogo receberam uma inesperada notícia: o proprietário do terreno — onde o clube erguera sua primeira arquibancada social — não queria renovar o contrato de aluguel. Assim, no início de 1912, o Botafogo se via mais uma vez sem sede e campo. 

— O Botafogo morreu, acabou!. Era o comentário maldoso que doeu no grupo então dirigente do clube. Esse grupo saiu à procura de um novo campo e descobriu na Rua General Severiano um terreno que pertencia ao Ministério da Justiça. No meio do matagal, um casarão em ruínas. Ali, segundo os projetos, deveria ser construída a Universidade do Brasil. Depois de alguma hesitação, o Ministério aceitou alugar, a título precário, o terreno ao Botafogo por 300 mil réis mensais. 

O campo construído em sentido diferente do existente ultimamente —uma baliza em General Severiano, outra em Venceslau Brás — custou nove contos de réis e foi oficialmente inaugurado em 1913, numa série de jogos. A temporada rendeu bem e o Botafogo, que gastara 10 contos com a vinda da seleção portuguesa, ainda ficou com saldo em caixa. Em seu livro "O Futebol no Botafogo, 1904-1950", o nosso inesquecível Alceu Mendes de Oliveira Castro diz que a inauguração extra-oficial ocorreu a 13 de maio, no jogo Botafogo 1 x 0 Flamengo, pelo Campeonato Carioca. 

De 1912 a 1924 — sempre renovando contratos a título precário — o Botafogo utilizou o gramado de General Severiano. A dois de janeiro de 1925, porém, o Presidente da República, Artur Bernardes, sancionou decreto do Congresso Nacional, autorizando o Governo a ceder por aforamento o terreno da Rua General Severiano, 97, ao Botafogo. Após tantos anos de luta, o clube pisava seus próprios domínios. Começava aí uma nova batalha: a da construção da sede, cujo projeto foi entregue aos arquitetos A. Memoria e F. Couchet.  Quase três anos se passaram. até que na manhã de 15 de dezembro de 1928, o Rio amanheceu em festa. 

O Botafogo, orgulhoso de seu palácio colonial, programou um baile de gala. A diretoria — segundo nota publicada na página esportiva do "Jornal do Brasil" — tomou todas as providências para o brilhantismo da festa, tendo contratado as orquestras mais conhecidas da cidade: A "Blue Bird", do maestro Harry Fleming, e a conhecidíssima orquestra de tangos do não menos famoso maestro Andreoni. O Botafogo começou então a pensar na construção de um estádio, de concreto armado, que fizesse frente ao do Fluminense. O Botafogo, porém, não tinha dinheiro e teve que esperar para ver seu novo sonho realizado. Na verdade, passaram-se mais 10 anos até que o projeto do arquiteto Rafael Galvão fosse levado adiante. A inauguração do estádio ocorreu na tarde de 28 de agosto de 1938. O campo agora tinha suas balizas colocadas diante do Asilo (atual Avenida Lauro Sodré, que dá acesso ao túnel do Pasmado) e da Saúde Pública, atual Hospital Rocha Maia. O adversário escolhido para o primeiro jogo foi o Fluminense. O Botafogo ganhou por 3 a 2, com dois gols de Patesko e um de Peracio, e jogou assim: Aimoré Moreira, Bibi e Nariz; Zezé Moreira, Martim e Canali; Téo, Pascoal, Carvalho Leite, Peracio e Patesko. Diga-se ainda, para melhor esclarecimento, no momento que se discute sobre uma faixa de terreno ocupada pelo Botafogo, na construção do seu estádio, faixa essa de 18 metros, que, antes da sua ocupação, houve um novo ato do Governo, um decreto-lei do Presidente Getúlio Vargas, extendendo o aforamento do terreno até a ponta do quarteirão, incluindo, portanto, toda a área do atual Hospital Rocha Maia. A ocupação, assim, daquela faixa de terreno, então, baldio, um matagal, foi legitima, devidamente legal autorizada. Não houve nenhuma ocupação indébita, como muita gente possa pensar. E ali o Botafogo permaneceu por mais de 40 anos, sem nenhum protesto ou reivindicação por quem quer que seja. Não há, pois, qualquer dúvida quanto ao direito do Botafogo com relação àquele pedaço de terreno, que não foi incluído na venda à Vale do Rio Doce. E é ali que o Botafogo agora espera soerguer uma nova, sede com piscina e todas as demais modalidades de lazer para os associados, face a grande colaboração do Presidente da CBF, Giulite Coutinho. 

É essa a verdadeira história, nada mais. Agora, vamos ao resto. O Conselho Diretor se reuniu para tomar conhecimento do que estava ocorrendo entre o Botafogo e o Hospital Rocha Maia, em face daquela faixa de terreno de, aproximadamente, 1.700 metros quadrados, existentes entre os dois vizinhos, cuja posse o referido Hospital, de uma hora para outra, sofisma ser sua sem mais nem menos. Vejam como são as coisas. Tudo aquilo foi dado ao Botafogo, que apenas usou uma pequena faixa de terreno abandonado quando da construção do seu estádio, podia ter ficado com toda aquela área do Hospital e nunca providenciou a sua saída. Ë o tal negócio. 

A reunião transcorria normalmente, quando o Presidente e os demais membros do Conselho Diretor foram convidados a comparecer àquele nosocômio, onde já nos aguardava um representante do Prefeito, Sr. José Tabosa de Almeida, quando, ao que tudo indicava, seria abordado o assunto objeto da reunião do CD. 

Para lá se dirigiram o Presidente e vários vice-presidentes do Clube. Fomos então cientificados pelo representante do Prefeito que o dono da faixa de terra não estava devidamente comprovado com o que não concordou o Presidente Charles Borer, alegando, inclusive, que aquele terreno pertencia ao Botafogo há mais de 40 anos. Que o Botafogo havia aberto um portão ao lado da Av. Venceslau Brás, onde pretende costruir sua sede e uma praça de esportes. Deparamos entretanto, na ocasião, com outro portão aberto pelo Hospital Rocha Mala, no muro divisionário entre o Hospital e o terreno do Botafogo, o qual vinha sendo franqueado para guarda de carros de "terceiros", usando-o, assim, como estacionamento. 

Em face das dúvidas surgidas no momento e verificando-se que o assunto competia mais à área judicial, o Presidente propôs ao diretor do Hospital fechar o portão que havia ali, desde que o Hospital procedesse da mesma forma, fechando igualmente o buraco que havia aberto no muro. E que após estas providências, o assunto seria resolvido, então, no âmbito da Justiça. O Presidente autorizou o vice-jurídico a tomar as medidas legais necessárias, com urgência que o caso requer, em defesa do patrimônio do clube. Incumbiu ainda providência, junto à Municipalidade, para reintegração da propriedade, tendo em vista as escrituras existentes e dos documentos afins. O Botafogo é realmente dono daquela área, até mesmo pelo tempo decorrido da sua posse, desde a construção do seu estádio de General Severiano até a venda do seu campo à Vale do Rio Doce. São mais de 40 anos de ocupação.  Tudo acontece ao Botafogo... é uma vida eterna de lutas. Mas sempre brilha sua estrela solitária. 

Acervo particular Angelo Antonio Seraphini

Fonte: Boletim Oficial do BFR nº 238 de maio de 1980

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GENERAL SEVERIANO UMA QUESTÃO DE POUCO TEMPO 

O Dr. Rodrigo Alberto Neves Tovar, vice-presidente jurídico, em reunião do Conselho Deliberativo, agradeceu ao presidente do Clube a indicação de seu nome para o recebimento do titulo de Benemérito do Botafogo, como também aos Conselheiros a votação no sentido da concessão do benefício. Aproveitou a ocasião e prestou a seguinte informação: 

«Muita gente tem me indagado sobre o assunto palpitante da recuperação da nossa, sede de Venceslau Braz/General Severiano, e entendi que me cabe, nesta oportunidade, dar uma satisfação aos Srs. Conselheiros. Creio que foi na última reunião do Conselho Deliberativo que o Presidente aludiu à decretação do tombamento da sede e disse que iria deixar assentar a poeira para manifestarmos as nossas pretensões. Naquela mesma oportunidade disse eu que a minha meta era realmente trabalhar na recuperação da sede, já que entendia que o futebol é muito aleatório, sujeito a vários fatores e imprevistos. Pouco tempo depois, o Presidente disse-me que havia estado com o Prefeito e esse lhe havia falado que prestaria seu apoio no sentido da recuperação da sede. Logo depois, temei a iniciativa de ir ao Departamento Jurídico de Cia. Vale do Rio Doce e saber da disposição da empresa em relação ao assunto. Passados cinco dias, através de telefonema, fui informado que a Diretoria da Vale estava de «portas abertas para negociações», pedindo que o BOTAFOGO apresentasse uma proposta concreta sobre o assunto. 

Elaborei, então, um Protocolo de Intenções para ser assinado pelo BOTAFOGO, Vale e Prefeitura. Esse Protocolo, em suma, prevê a devolução à Vale, dos quatro andares do Edifício da, Aeronáutica, com que ela, anteriormente, havia pago ao BOTAFOGO a parte correspondente a 1/3 do valor da compra do imóvel de Venceslau Braz/General Severiano. Em contraprestação, receberemos, portanto, 1/3 do total dos metros quadrados outrora vendidos. Os outros 2/3 serão permutados diretamente com a Prefeitura, por terreno que ela oferecer à Vale. Fomos falar com o Prefeito e ele achou que deveríamos reformular nossa pretensão, por entender que, com o tombamento da sede e à vista da qualificação de “non edificandi” daquele terreno, a sua desvalorização se tornaria inconteste, e, por isso, nós deveríamos pedir mais metros quadrados em troca dos quatro andares do Edifício da Aeronáutica. Reformulei o meu Protocolo nesse sentido, e estamos aguardando uma nova, audiência com o Sr. Prefeito, que se ofereceu para: conduzir as negociações com a Vale. Esta-os muito esperançosos numa breve solução favorável, e achamos mesmo que a recuperação de Venceslau Braz/General Severiano é a própria recuperação do BOTAFOGO. Devemos recuperar General Severiano! Precisamos recuperar General Severiano! Temos que recuperar General Severiano! Isso é apenas uma questão de tempo.» 

Para efeito de registro, publicamos o ofício do Prefeito Marcelo Alencar, datado de 15 de dezembro de 1983, ao Presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Vereador Maurício Azêdo, sancionando a Projeto que declara de interesse Cultural e Histórico, para eleito de tombamento, a imóvel de General Severiano, nos seguintes termos; “Tenho a honra de comunicar a Vossa Excelência que, de acordo com art. 53 da Lei Complementar nº 3, de 22 de setembro de 1976, sancionei o Projeto-de-lei nº 353, de 1983, que DECLARA DE INTERESSE CULTURAL E HISTÓRICO, PARA EFEITO DE TOMBAMENTO, O IMÓVEL DA AVENIDA VENCESLAU BRÁS Nº 72, ONDE ESTAVA LOCALIZADA A ANTIGA SEDE DO BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS, cuja segunda via restituo com o presente.” 

PROTOCOLO DE INTENÇÕES 

Para mostrar o Interesse da atual administração do Botafogo em recuperar General Severiano, publicamos, na Integra, para, conhecimento de todos os botafoguenses, o Protocolo de Intenções redigido pelo vice-presidente juridico, Dr. Rodrigo Alberto Neves Tovar, a ser assinado, pelo Clube, a Companhia Vale do Rio Doce e a Prefeitura do Município do Rio de Janeiro, cuja solução está prestes a se realizar. Ninguém trabalhou mais nesse sentido do que o atual Conselho Diretor, que já teve resolvido o problema da marina, a grande esperança do Clube para seus problemas financeiros e tudo isso em um mandato-tampão de um ano. Eis o referido Protocolo: Considerando que o BOTAFOGO DE FUTEBOL  E REGATAS é uma instituição desportiva e social que vem servindo á comunidade do Município do Rio de Janeiro há quase um século de existência, com reflexos de âmbito nacional e internacional, projetando o nome do Brasil através dos seus atletas nas competições esportivas dessa amplitude; Considerando não somente o interesse dos botafoguenses, mas o dever de toda a comunidade de que faz parte o BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS, prestigiar e apoiar o soerguimento do Clube cuja estrutura foi seriamente abalada com a venda de sua sede e parque de esportes situados na Avenida Wenceslau Bras, no Rio de Janeiro, efetivada em época de dificuldades econômicas financeiras que a tanto o levaram; 

Considerando que somente a recuperação dessa sede através de um entendimento amigável com a Companhia Vale do Rio Doce e a Municipalidade do Rio de Janeiro, poderá retornar ao BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS sua pujança social e desportiva em proveito de grande parte da comunidade que o circunda, sendo isso de seu manifesto interesse; Considerando que a companhia Vale do Rio Doce, em obediência ao programa de contenção inflacionária determinado pelo Governo Federal não chegou a realizar construções na área adquirida ao BOTAFOGO, como entes planejava, não mais estando isso nas suas cogitações; Considerando que o edifício-sede, outrora pertencente ao BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS, foi tombado pela municipalidade, sendo declarado o mesmo património histórico do Município, proibida a sua demolição, havendo por conseguinte uma pesada restrição ao direito de propriedade nesse particular à Companhia Vale do Rio Doce; Considerando que essa Companhia reconstruiu a sua sede, de mais de 20 pavimentos, incendiada, na Avenida Graça Aranha, centro da cidade, onde deverá fixar-se definitivamente com suas instalações, não pretendendo mais utilizar-se do terreno da AV. Wenceslau Bras, adquirido ao BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS para o sobredito fim; Considerando que à COMPANHIA VALE DO RIO DOCE não interessa a manutenção dessa área inaproveitada como está, quando a mesma poderá bem servir à comunidade que ela representa com a maioria do seu capital social, estando disposta, por conseguinte, a orientar-se nesse sentido, desde que lhe sejam dados em troca direitos e valores que a isso correspondam; Considerando que também a Prefeitura do Município do Rio de Janeiro tem o melhor interesse no aproveitamento dessa área para servir à comunidade local; Considerando que não seria recomendável ao Poder Público permitir a construção de edificações de grande porte e elevadas nessa área, o que determinaria, prejudicialmente, entre outras coisas, a impossibilidade de ventilação ao bairro de Botafogo, via Copacabana, o acúmulo populacional desaconselhado no local, a obstrução ao fluxo livre do trânsito para a Zona Sul, como ocorre atualmente; Considerando que a Municipalidade reconhece a projeção do BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS no cenário nacional, atuando como veículo publicitário do Município do Rio de Janeiro, e que ao mesmo compete auxiliar proveitosamente as instituições esportivas e sociais dessa investidura, sobretudo proporcionando áreas de lazer à comunidade local, para a prática benéfica e eugênica das competições desportivas; O BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS, sociedade civil, com sede na Praia de Botafogo s/nº, neste ato representado pelo seu Presidente, EMMANUEL SODRE VIVEIROS DE CASTRO, cart. de identidade nº OAB/RJ 3.960 e CIC nº   008.472.597-49, e seu Vice-Presidente Jurídico, RODRIGO ALBERTO NEVES TOVAR, cart. de identidade nº 6.197 (OAB/ RJ) e CIC nº 008.5 6.887-15; A COMPANHIA VALE DO RIO DOCE, sociedade de economia mista federal, com sede em Brasília, na                 neste ato representada por seu Presidente e Diretor-Financeiro, respectivamente, Dr. ELIEZER BATISTA, cart. de identidade nº           e CIC nº       , e SAMIR ZRAICK, cart. de identidade nº           e CIC nº             O MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, neste ato representado por seu Prefeito Dr. MARCELO NUNES DE ALENCAR, resolvem firmar o presente PROTOCOLO, no qual os mesmos manifestam as suas Intenções de se comportarem conforme os termos e condições das cláusulas abaixo estabelecidas, procedendo aos respectivos atos para a sua, formalização: CLAUSULA PRIMEIRA:..O BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS e a COMPANHIA VALE DO RIO DOCE estão dispostos a desfazer o negócio anteriormente realizado entre as duas entidades, em dezembro de 1977, com a compra e venda do imóvel da Av. Wenceslau Braz nº 72; CLAUSULA SEGUNDA: Esse desfazimento importará, na restituição ao BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS da parte do imóvel da Av. Wenceslau Braz, onde se encontra construído o prédio de sua antiga sede, hoje tombada, e respectivo lote de terreno denominado lote 1, do PA nº 32.413, e mais 7.236 metros quadrados do lote nº 2, a ele outrora adquiridos, que correspondem ao preço de aquisição antes efetuada, devidamente corrigido, dos quatro (4) andares do Edifício do Clube da Aeronáutica, 27º, 31º, 32º e 33º pavimentos e correspondentes vagas de garagem, que foram objeto da doação em pagamento — escritura de 12-12-1977, fls 19 do Livro 2351 do 18º Ofício de Notas, feita pela COMPANHIA VALE DO RIO DOCE ao BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS na oportunidade da aquisição do imóvel da Av. Wenceslau Bras, os quais voltarão à propriedade da COMPANHIA VALE DO RIO DOCE, através dessa permuta, configurando-se esta como uma restituição da mesma coisa e correspondente valor.  - CLÁUSULA TERCEIRA: O restante em m2 (metros quadrados) da área constante do lote nº 2 (onde se achava localizado o campo de futebol), também anteriormente adquirido pela COMPANHIA VALE DO RIO DOCE; será permutado por outro imóvel de igual preço — corrigindo-se o valor da aquisição anteriormente feita — com a Prefeitura do Município do Rio de Janeiro, que se compromete desde já a oferecer para a permuta um outro imóvel de sua propriedade que interesse à COMPANHIA VALE DO RIO DOCE. - CLAUSULA QUARTA: A área restante do lote nº 2, do PA nº 32.413, que após a permuta com o Município do Rio de Janeiro ficará propriedade deste, será transformada em parque esportivo e de lazer para a comunidade local, à guisa, do que foi feito no Parque do Flamengo, na Lagoa Rodrigo de Freitas, etc..., com quadras de tênis, basquete, volei, etc". E, por haverem assim ajustado, foi lavrado o presente instrumentos em 06 (seis) vias, de igual teor, que as partes assinam para os efeitos de direito, juntamente com as testemunhas abaixo, manifestando sua aprovação ao quanto nele ficou acordado, comprometendo-se à execução, prontamente, das medidas a seu cargo. Rio de Janeiro, 



Pelo BOTAFOGO DE FUTEBOL E RE-GATAS: E. S. VIVEIROS DE CASTRO Presidente 

RODRIGO ALBFRTO NEVES TOVAR Vice-Presidente Jurídico 

Pela COMPANHIA VALE DO RIO DOCE ELlEZER BATISTA Presidente 

SAMIR ZRAICK Diretor-Financeiro 

Pela PREFEITURA DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO: MARCELO NUNES ALENCAR Prefeito 

Acervo particular Angelo Antonio Seraphini

Fonte Boletim Oficial do BFR nº 244 de novembro de 1984

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A reinvenção do Botafogo

Na Avenida Wenceslau Braz, esquina de Lauro Sodré, 

Há uma casa antiga, mas amiga de lúcida memória, 

Que insiste em permanecer, como se sobrevivesse, 

Anciã e sozinha de ajuda, sem número e sem luz própria, 

A casa é tal qual estrela, dessas que são solitárias 

E vão se extinguindo longe, muito longe e lentamente.

 As vezes parece gente, decadente. Mas contente. 

Feliz, como uma velha bailarina aplaudida de repente. 

Com altivez, sim senhora, e até com certo bom senso.

 (Ora, direis, ouvir estrelas...coisas de botafoguenses). 

Onde se sustentam esses ossos velhos, inconformados, 

De tijolo e de cimento, argamassados? 

Onde se acende o brilho que ainda brilha, 

Em raros, quase momentos,

 Nas órbitas vazias dos olhos que eram janelas, 

Cegas, pobres, desaparecidas? 

Só alguns desvendam fundo esse álbum de família, 

Essa vontade desumana de viver das nossas alvenarias, 

O desenhado de ternura, do projeto da nossa vã arquitetura. 

E esse imortal soluço que rebenta. 

Que rebenta das nossas páginas. 

Ai passam, frente a nós diariamente, transeuntes tão indiferentes. 

Incapazes de reconhecer a glória na coisa arruinada, 

Não sabem que é placenta, de preto e branco ensanguentada. 

Nos fere, ferida aberta. Nos dói, solidão fechada, 

De preto e branco, enlutada. 

Nos fins das tardes quentes de qualquer verão 

(Dá um plano americano, vozes no fundo, capela, cantando: 

Botafogo, Botafogo, campeão... muito ,longe e bem piano). 

Só nós compreendemos essa casa, essa causa, esse dano. 

Na varanda da frente, toda a nossa gente está sentada,

 Descansada. Nas cadeiras de vime, como antigamente. 

Não são fantasmas desses comuns, impenitentes 

Nem estão vestidos em fúnebres sobrecasacas. 

Só nós os vemos vivos e lindos, muito mais que findos, 

Em seus ternos  SS 120 de linho branco, elegantes. 

(Mil novecentos e oitenta e sete, fusão ,da imagem, 

Passa para a mesma vara no ano quarenta e sete.) 

Oi Dr. Paulo Azeredo, Oi Flavio Ramos Trindade, 

Nelson Cintra, Sergio Darcy, oi Ney Cidade, 

Dr. Ibsen de Rossi, oi Dr. Rivadavia, oi Dr. Jair Tovar, 

Oi Lulu Aranha, oi Carlos Martins da Rocha, ah! Seu Carlito, 

Oi Adhemar Bebiano, Seu Julio, ai Estelita, 

Dr. Alceu, oi Julinho, Arrepiado, Otacilio, 

Oi Augusto Frederico Schmidt, oi Nilo Murtinho Braga, 

oi Chico Barbastefano, oi General Saddock de Sá, oi Bibi, oi Mimi Castrostro, oi Vitor, Moysés, 

Oi Graham Bell, oi Nariz Alvaro Lopes Cauçado, 

Oi Alvaro Manieta, Pascoal Boneca, oi Perácio Zé, 

Oi Martim Silveira, Canalli, oi Heleno de Freitas, 

Oi Tim Elba de Padua Lima, oi Aluisio, oi Rubinho, 

Oi Geninho Efigênio de Freitas Bahiense, oi Lugano, 

Oi Zézinho, oi Ary Fanho, oi Gussi, oi Biné, ai Tréca, 

Oi Sherife Nilo Raposo, oi Mané Garrincha, oi Lobato, 

Oi Paulo Valentim, oi Valtencir, Guilherme Bode,

Oi Doroteu, oi Patesko, oi Deus! 

São só nomes, são só homens. Somos homens, 

Que sofremos, que estamos e estivemos lá. 

E entre os mortos e os feridos, entre os novos e os antigos,

 Aturdidos perguntamos: o que de nós restará? 

Ah! Botafogo, meu Botafogo, igualzinho ao meu Brasil. 

(Recebe o afeto que se encerra em vosso peito varonil. 

E quem não gostar do Botafogo...)

 Brasil-Botafogo de Futebol e Regatas 

Que não atas nem desatas, 

Onde está teu futebol, onde estão tuas regatas? 

Se há vendilhões no templo, regateias, não resgatas. 

Se há fáceis benemerências, condecoras os piratas. 

Te falta amor, Botafogo, sobram as receitas baratas. 

De milhares de emoções, fizestes massa falida. 

Nossa herança merecida, puseste a fluido, perdida. 

E é isso que nos mata; concordar com a concordata. 

Mas, um dia desses, num rio que passou em nossas vidas, 

com certeza num Rio de Janeiro, às margens plácidas, 

Quem sabe num morro do Cão, hoje no chão, 

Ou noutra rua Conde de Irajá, ao largo do Humaitá, 

Novos moços amigos lembrarão moços antigos, 

Por nomes Pedros, ou Mem, outros Estácios, 

Alguns chamados Flávios, ou Carlos, eu sei lá, 

Das famílias Azeredo, Meyer, Bebiano, Palmeiro, 

Que tal Rocha, Aranha, Sodré, Tovar, não serve Sá? 

E eles vão te fundar outra vez, Botafogo... 

Te inventar outra vez, no bairro que ainda está. 

E a mesma velha emoção voltará, bem requentada, 

mesmo preto preto e o mesmo branco branco. 

A mesma estrela solitária, dessa vez mais solidária, 

Prá variar. 

E fazendo música e jogando bola, 

E fazendo música e jogando bola, 

Para que a poesia, nossa particular poesia, 

Torne á sua origem. 

Vê se não morre Botafogo! Pelo menos antes de nós. 

Nós os herdeiros, postos a ferro, marinheiros, 

Nas galés das galerias, da nossa máxima galera! 

Ai! Ninguém vai comparecer ao formidável enterro, 

Da nossa última, última quimera.

Octavio Sérgio De Moraes, arquiteto, foi centro avante da Seleção Brasileira campeã Sul Americana de 1949 e do Botafogo campeão carioca de 1948. Filho da escritora Eneida, é também compósitos popular ( parceiro, de entre outros, de Elton de Medeiros) e foi casado com a cantora Elizeth Cardoso.

Acervo particular Angelo Antonio Seraphini

Fonte: Jornal O Globo caderno B/Especial de 26 de junho de 1988

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