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quinta-feira, 12 de março de 2020

GALERIA DE HONRA LETRA I

 YVETTE MARIZ



GRANDE AUSENTE, SEMPRE PRESENTE

Yvette - Romacild - Margarida - três  nomes  que  representam a glória máxima do Botafogo nos esportes femininos nacionais!
Yvette  Mariz -  o Atleta Padrão - o maior atleta botafoguense de todos  os tempos - e expresamo-nos propositadamente no masculino, porque nenhum homem a excede em pontos dados ao Glorioso, encontra­ se em Paris, onde permanecerá perto de dois anos fazendo um curso especializado de esportes da Escola de Educação Física de Joinville Le Pont. Foi a 25 de janeiro último que, a bordo  do  "Provence",  Yvette  zarpou da Guanabara, deixando uma imensa saudade aos corações botafoguenses. Dias antes, a 21, a Diretoria do Clube   ofereceu-lhe no restaurante da sede um jantar de despedida, que decorreu na maior cordialidade, tendo sido ofertada à Yvette por  iniciativa de suas companheiras de lutas, uma linda máquina portátil de escrever, para  a  redação de  suas tão  apreciadas crônicas desportivas.
Oferecendo o banquete, falou o Vice-Presidente Dr. Sérgio Darcy, pronunciando, em seguida, o Dr. Alceu de Oliveira Castro as seguintes palavras: "Yvette. Não  se  assuste: não vou fazer um longo discurso.
Apenas algumas palavras, oferecendo-lhe, em nome das duas Diretorias do Botafogo de Futebol e Regatas, a passada e a atual, das  quais sou o traço de união, e de suas fiéis companheiras de lutas, esta singela homenagem, desejando-lhe as  maiores felicidades na Europa e um breve, brevíssimo regresso.
Também não vou relembrar sua longa e gloriosa carreira  esportiva, pois que todos a conhecem. Seu nome é uma bandeira desfraldada um símbolo. Você é multi-campeã de atletismo, basketball e volleyball, recordista  sul-americana  e   brasileira de  disco e dardo.
Você é ,uma das  maiores  glórias do Botafogo, um orgulho do Brasil.
Terminarei parodiando velhos versos  esportivos  de  "pé quebrado":
- Esta é  a  Yvette, a capitã  do Botafogo,
- E quando   altiva   em   campo  ela aparece,
- Comandando o seu quadro glorioso,
- A assistência delirando de gôzo,
- Sauda-a-a tanto quanto ela o mereçe.
- Ninguém a vence no bolão de couro,
- É   a  cortadora  mais  linda  e mais perfeita,
- Dêste Rio de Janeiro!

Yvette querida, pedindo a Romacild, sua mais antiga e dedicada companheira de glórias, que lhe entregue nossa lembrança, ergo minha  taça pela sua felicidade.
Quando Yvette e Romacild se abraçaram, a emoção foi geral, pois que era a despedida da dupla inigualável, representando  anos e anos de glórias.

Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Boletim Oficial do BFR n° 95 de agosto de 1952
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Dr.Ibsen de Rossi



Hesitamos em começar a dizer, por óbvio, quem foi IBSEN DE ROSSI, que o Destino nos roubou no dia 5 de agosto último. 
Todos sabemos a perda irreparável que sofremos. Foi um tremendo impacto. Um homem decente, correto, afável, amigo, bondoso, belo de físico e de espirito, sofre, baqueia e morre. Que mal fêz êle e que mal fizemos nós para perdê-lo tão prematuramente? Era o amigo de tôdas as horas. Tranquilo, educado, nobre nas atitudes, nunca o vimos irritado, mal humorado, conturbado, ao contrário, sempre contornando situações, alvitrando medidas conciliatórias. Era de urna placidez de água parada. Com voz mansa, com um imenso poder de convicção, Ibsen acomodava tudo, aquietando desavenças, desfazendo mal entendidos, amortecendo ressentimentos. Um homem bom com sua vida intima votada ao bem, à felicidade do seu semelhante, o verdadeiro cultivo do amor ao próximo. E ao Botafogo? O que êle deu de coração, de alma, de vida ao Glorioso? Grande-Benemérito por dever de conquista, antigo Presidente já o tinha sido, e dos melhores, do antigo Club de Regatas Botafogo. Com a fusão dos dois BOTAFOGO transpôs os umbrais do antigo Botafogo F. C., como um vitorioso, e como vencedor entrou pelos nossos corações botafoguenses, onde só fêz amigos e os mais queridos e os mais diletos. Como podemos nós do Botafogo sobreviver ao golpe? O Botafogo perpetua-se através de seus homens. IBSEN DE ROSSI, que teve seu perfil retratado no Boletim de agôsto, precisamente no triste mês de seu desaparecimento, foi uma das vigas-mestres dêste admirável monumento, que os vértices do tempo não derrubaram porque é eterno! IBSEN DE ROSSI no tristíssimo dia 6 de agôsto, recebeu as homenagens com que o Botafogo pranteia os seus mortos queridos. Seu corpo foi velado pelos atletas, em cuja escola de civismo e desportividade, IBSEN encaminhou seus passos. Uma multidão aturdida, emocionada, contrita, horas e horas desfilou pelo seu velório, com os olhos ratos d'água, a respiração opressa, coração oprimido. Era o desalento dos que perdem a esperança de uma surprêsa, a dolorosa certeza do fim a verdade do incognoscível, do irremediável, da maldade do destino impiedoso que apunhalou a nós todos, roubando-nos o grande amigo, o grande presidente, o homem bom, o Grande Benemérito, o chefe de família exemplar, o homem público sem mácula, o botafoguense que deixa um imenso vácuo que nunca mais se preencherá. Ao descer o ataúde, naquela tarde cinzenta de 6 de agôsto, Sergio Darcy, chorando, disse de nossa imensa tristeza, de nossa desolação, e falou em voz embargada, proferindo palavras que mais e mais nos deprimiram e nos atordoaram. Disse muito bem de tudo que sentíamos, e da falta que êle nos fazia com seu desaparecimento, assegurando com muita firmeza e convicção que aquêle ato era o inicio de uma peregrinação ao seu túmulo, pois que ali voltaríamos sempre para cultuar a memória do grande IBSEN DE ROSSI. Generoso Ponce, orador de sua turma de bacharelandos, despediu-se compungindamente de seu amigo e colega dos bancos acadêmicos, exaltando as qualidades do grande e querido morto. Foi por igual tocante e punjente sua oração de despedida. Abelardo Martins Torres, nosso Benemérito, relembrou os longínquos tempos eles bancos escolares do Colégio Santo Ignácio. Suas palavra; que representavam um hino de justos louvores, a quem viveu em paz com os homens, sem desfalecimentos para quem sempre produziu o bem, são transcritas em separado neste Boletim" de setembro, que ao invés de ser o mês da esperançosa Primavera, é igual a agôsto e os que se seguem pelos anos a fora, meses de luto e de tristeza. As brumas da noite desceram sôbre todos nós com as trevas que se avizinham. Cerramos os olhes, mas não conseguimos afastar de nossas retinas as cenas que se sucederam. Todos choravam e sua dedicada espôsa, companheira desvelada de tôdas as horas, era a figura viva da Tristeza. Os mausoléus, em volta, o silêncio do Campo-Santo, os soluços abafados, e assim saímos todos vencidos pela dor, mas certos de que para nós IBSEN viverá sempre legendário. Seus valiosos ensinamentos nortearão nossos atos para grandeza cada vez maior do Botafogo, que êle muito honrou e amou sem limites. Que sua bondosa alma repouse na paz do Senhor, justo prêmio dos que vivem com amor e doçura. 
Nosso Benemérito Abelardo Martins Torres, profundamente emocionado, proferiu o seguinte discurso ante o túmulo de Ibsen De Rossi: Neste crepúsculo de tarde, tarde cinzenta e triste, aqui estamos, nós, teus amigos. E para que? Para presenciarmos o momento mais solene da vida — a morte. Rasga-se na terra uma cova para receber um cadáver. E êste corpo, ontem vida, hoje silêncio, amanhã podridão, ver-me, depois esqueleto, enfim pó, estará extinto, por acaso? Traduzirá, porventura, o nada das grandezas humanas a cena a que assistirnos? Não. Neste amontoado de carne inanimada existia uma alma, um espírito, uma inteligência, uma vontade, um caráter. Esses atributos são eternos. E, em cada um de nós, teus amigos, enquanto Deus se aprouver de nos conservar a vida, todos nós nos lembraremos, com saudade, da tua simpática figura, alegre e comunicativa. Ibsen, num mandato tácito dos meninos do Santo Ignácio de 1910; dos jovens da Faculdade de Ciência Jurídicas e Sociais da Turma de 1915 e 1919; dos velhos soldados do 3º Regimento de Infantaria de 1922; e dos Botafoguenses da velha guarda, eu, companheiro nesse passado tão saudoso, mas alegre também, eu, em nome de todos, deixo cair sôbre teu túmulo uma lágrima sentida, penhor de nossa amizade. Já os sinos, ao longe, num tanger melancólico, anunciam para nós o fim do dia, e, crepúsculo da nova aurora da outra vida que hoje inicia. Que a imagem do Cristo, lá do alto do Corcovado, se derrame sôbre êste sepulcro uma última benção. Ibsen descansa em paz. 

Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Boletim Oficial do BFR nº 202 de setembro de 1963
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IVANY BENITA RIVERA
Exemplo de fibra e de boa vontade, sempre pronta a servir o Botafogo em qualquer equipe ou setor, como Marise, garota Ivany saiu da simpática quadrinha da Imaculada  Conceição, para velho e glorioso Mourisco onde, em fins de 1950, começou a receber os dedicados cuidados de Romacild e Nelsinho, para estrear como levantadora da nossa  segunda equipe que, a 25 de novembro, derrotou a do Flamengo, em metch oficial continuando, no ano seguinte, no mesmo quadro, com progressos sensiveis. 
Em 1952, Margarida e Bolonha começaram a lança-la na equipe principal e a nossa muito querida "Ivanosca" fez duas inesqueciveis: na primeira, no torneio início, entrando em fim de jogo, provocou a nossa desclassificação com "fóra de zona" que deixou-a inconsolavel e na segunda... ah! esta foi boa bola... 
Foi em um jogo em Grajaú, contra a equipe local. O Botafogo esquecera os cartões de identidade e o árbitro, por grande concessão, admitiu que si chegassem antes do final do jôgo, não anotaria a falta . 
"Seu" Arthur foi mandado de taxi ao Mourisco, mas como a distância era enorme, Bolonha, o técnico, para ganhar tempo e demorar o jôgo, passou a fazer modificações na equipe de momento a momento e determinou a entrada de Ivany, com ordens para perder o saque. Ivany arrastou-se como uma sonâmbula até à mesa do apontador, desesperando o público, penetrou na quadra e para cumprir as instruções, resolveu executar aquilo de que em 1952 apenas se começara a falar: o saque americano. Resultado: saiu uma bomba que derrubou todo o quadro do Grajau. Ponto do Botafogo e... Ivany substituida... E, por mais algum tempo, continuou quietinha no banco, sentadinha junto do Dr. Alceu até ser elevada definitivamente ao quadro, na grande vitória sôbre o valoroso Tijuca, de 28 de junho de 1952, que abriu o returno. Levantadora excelente, sempre lutando com alma e coração, Ivany impôs-se à nossa estima e admiração, já tendo dado muito de seu físico ao Botafogo: um joelho arrebentado em Bangú, em 52, que levou-a a extração do menisco, pelas mãos habillssimas do Dr. Mario Jorge e a terrível queda da noite de 23 de julho de 1954, na sensacional vitória do Botafogo sôbre o Minas T.C. no Troféu João Lyra Filho, quando Ivany saiu da quadra carregada e coberta de sangue, com ameaça de comoção cerebral e pequena fratura no nariz, vitória que constitue sua maior emoção esportiva e da qual teve conhecimento deitada no vestiário — triunfo verdadeiramente de "sangue, suor e lágrimas". De uma boa vontade notável, este ano, para colaborar com a direção técnica, Ivany jogou em nossas duas equipes, na principal, como levantadora eficientissima que é e na secundária, improvisando-se em cortadora, para preencher uma vaga, formando dupla com Lucia, brilhando, capitaneando o quadro e levantando magnificamente o titulo, após sensacional "melhor de três" com o Fluminense. No remo, Ivany brilhou na regata da Primavera de 1954, quando obteve dois vice-campeonatos, o de yole a dois e o de yole a oito e no basket-ball, Ivany tentou-o em 1952, mas assustada com a sua própria "raça", desistiu ao fim de poucos ensaios, pois que em um lance de grande decisão, teve a infelicicidade de quebrar o nariz de Maria Lucia, sua melhor amiga, deixando-a inconsolável. 
No volley da Primavera de 55, Ivany obteve grande vitória sôbre a formidável equipe do Mackenzie, campeã de Belo Horizonte. brilhando intensamente e sagrou-se campeã pela Escola de Educação Física. 
Simpática, alegre, comunicativa, com um lindo palminho de rosto, Ivany bem merece ser o que realmente é: uma das mais valorosas e das mais queridas atletas do Botafogo, o seu único clube até hoje. 

Acervo particular Alceu Oliveira Castro Jungsted
Fonte: Boletim Oficial do BFR nº 110 de dezembro de 1955
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