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quinta-feira, 12 de março de 2020

GALERIA DE HONRA LETRA N

 NENÉM PRANCHA


   Neném Prancha

Poucos conhecem Antônio Franco de Oliveira, que foi um grande revelador de talentos nas décadas de 1940 e 1950 no Botafogo. Mas se falarmos seu apelido, Neném Prancha (Resende-RJ, 16/06/1906 – Rio de Janeiro, 17/01/1976), aí sim: muitos dirão que foi um dos grandes caça-talentos, principalmente para o Botafogo. Uma de suas mais famosas descobertas foi o irrequieto craque Heleno de Freitas, cuja biografia foi escrita pelo rubro-negro Marcos Eduardo Neves, e tendo sido representado no cinema por Rodrigo Santoro.
Neném Prancha foi roupeiro, massagista, olheiro e técnico de futebol. Além de descobridor de talentos, ficou mais famoso por suas frases de efeito, o que lhe rendeu a alcunha de O Filósofo do Futebol, conferida pelo jornalista Armando Nogueira, torcedor do Botafogo. Muitas das tiradas cômicas atribuídas a Neném Prancha, na verdade, foram de são de outros autores, como o jornalista e alvinegro João Saldanha.
O próprio Neném Prancha explicou a origem da famosa frase “pênalti é uma coisa tão importante, que quem deveria bater era o presidente do clube”. Ele diz: “O que eu falei foi que pênalti é tão fácil que até o presidente pode bater”.
Outra frases de Neném Prancha:
“Goleiro que é bom dorme com a bola, se for casado, dorme com as duas”.
“Futebol não tem mistério: quem está com a bola ataca, quem não está se defende”.

Fonte: Solidário Portal de Notícias
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Neném Prancha - Que fim levou? - Terceiro Tempo
O maior filósofo do futebol brasileiro está esquecido. Chamava-se Neném Prancha, isto é, mais precisamente, Antônio Ferreira Franco de Oliveira. Autor de frases folclóricas – “Se macumba ganhasse jogo, campeonato baiano terminara, sempre, empatado; Se concentração fosse bom, o time da penitenciária não perderia uma partida; Goleiro deve dormir abraçado à bola. Se for casado, com a bola e a mulher” – ele tentou ser craque, mas logo viu que não dava, complicando a vida de um time peladeiro chamado Carioca.
Para não ficar longe da pelota, ele trocou os gramados, pelas areias da praia de Copacabana, e foi ser treinador de crianças e adolescentes. Dizia sentir se o boleiro era craque “pelo cheiro”. Tanto que descobriu cracaços como Heleno de Freitas, eterno ídolo do Botafogo, e Leovegildo Júnior, lateral flamenguista que disputou duas Copas do Mundo-1982/86.
Filho de biscateiro com uma empregada doméstica e nascido em Rezende-RJ, o filósofo Neném Prancha era alto e forte, tipo parrudão. As mãos mediam 23 centímetros de comprimento e os sapatos de n úmero 44 foram os responsáveis pelo apelido de “pranchático”. Sempre usando uma boina, bronqueava duro com quem não o obedecia, taticamente. Vaidoso, quando teve problemas com as vistas, recusou-se a usar óculos.
Para o Botafogo, trabalhou com os seus garotos infanto-juvenis, sem se contentar em ser apenas roupeiro e massagista do departamento de atletismo. Nas horas vagas, era olheiro.
Alguns pesquisadores da história do futebol brasileiro sustentam que nem todas as frases atribuídas a Neném Prancha saíram de sua cabeça. Teriam sido criações dos jornalistas Sandro Moreyra, Lúcio Rangel, Sérgio Porto, o “Stanislaw Ponte Preta”, e João Saldanha, que faziam de tudo para divulga-lo. Já houve até quem garantira nunca ter existido um tal de Neném Prancha, jurando ser personagem do Saldanha.
O certo é que ficaram na sua conta frases eternas. Anote: 1 – “O meu jogador é “indisplicente”, mistura de indisciplinado com displicente”; 2 – “Futebol não deve ser jogado pelo alto, pois a bola é de couro, que vem da vaca, que come grama”; 3 – “Goleiro é dono de posição tão amaldiçoadas que, onde ele pisa, nem nasce grama”; 4 – “Pênalti é algos tão importante que deveria ser batido pelo presidente do clube”.
Na verdade, Neném Prancha não falou última esta frase acima e que é considerada a “máxima das máximas” do folclore do futebol brasileiro. Ele contou a Ronald Alzuguir, um dos seus atletas nos times de base botafoguense, que falou, na verdade, isso “Pênalti é tão fácil (de cobrar) que até o presidente do clube pode bater”. As versões ficam por conta de Sandro Moreyra e João Saldanha, principalmente.
Neném Prancha passou 69 temporadas neste planeta, tornando-se uma pessoa espiritual em 1976, levado por um enfarto, quando estava internado em um hospital do bairro de Botafogo. Assim com nasceu, partiu pobre de grana, mas rico de fama, histórias e lendas.

Fonte: Site Jornal de Brasilia
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Nenem Prancha foi um nome muito conhecido em todas as praias da Zona Sul. E ele viveu quase toda a sua existência no BOTAFOGO, onde trabalhou por muitos anos. Pela sua Carteira Profissional no 14.316, série 243, foi admitido no clube em 10 de junho de 194.2, como Roupeiro, recebendo, por mês, o salário de 300 mil réis, da época. As únicas anotações aii existentes são as do BOTAFOGO. Quando morreu ganhava Cr$ 947,60 de remuneração e mais Cr$ 271,00 de gratificação, descontando Cr$ 97,49 para o INPS. Era eleitor da Quarta Zona, onde nunca deixou de votar nos seus próprios candidatos. E era solteirão.
Era, como diziam, uma "filósofo do futebol". Mereceu, inclusive em vida, o ano passado, o titulo de um livro. Apesar da sua simplicidade, criou frases inesquecíveis, de bom humor e sabedoria. Assim era Antonio Franco de Oliveira, o verdadeiro nome de Nenem Prancha, imortalizado em crônicas da imprensa carioca. Foram seus principais propagandistas Armando Nogueira, João Saldanha e Sandro Moreira.
Ele nasceu no dia 16 de junho de 1906, na cidade de Rezende, no antigo Estado do Rio. Filho de Antonio Franco de Oliveira e Julia Maria de Oliveira. E faleceu no dia 16 de janeiro deste ano, com 70 anos
O FUTEBOL DE PRAIA ERA A SUA  GRANDE PAIXÃO

A sua grande paixão foi o futebol de praia. Durante muito tempo, jogou suas peladas e criou vários times, alguns, inclusive, ainda disputando o Campeonato de Praia. Fazia questão de dizer que, quando jogava, metia o sarrafo. E a sua maior alegria foi quando dirigiu um time do BOTAFOGO, da Divisão de Amadores da Federação Carioca de Futebol de Praia, sagrando-se campeão. Por suas mãos, passaram quatro gerações de garotos de Copacabana ao Leblon. Quatro deles já, chegaram, inclusive, a governar Estados. Um está aqui, no atual Rio de Janeiro, Faria Lima. Os outros três foram Rafael de Almeida Magalhães, Haroldo Leon Peres e Roberto Silveira. O próprio Prefeito Marcos Tamoio também jogou nos times do Nenem Prancha. Procurava lapidar todos eles. E, por isso mesmo, ele deu muitos jogadores ao futebol carioca. Mas o maior de todos eles, sem dúvida, foi o grande Heleno de Freitas, um dos maiores craques que já passaram pela vida do BFR, e do futebol brasileiro. Até hoje ele é lembrado.

MORREU, MAS FICOU SUA HISTÓRIA

As histórias e os dizeres de Nenem Prancha são, a toda hora e a cada instante, citados pelos cronistas esportivos, trazendo a todos nós, aqui no BOTAFOGO, a sua lembrança. Era de feitio caladão e tinha aquele jeitão simplório. Ele não se abria para qualquer um. Mas, quando queria falar, era um grande papo. Estava sempre ao pé da arquibancada de General Severiano, onde morou até os seus últimos dias. Assistia a tudo, calado. Estava sempre perto da antiga Sala da Imprensa. Todos o conheciam, respeitavam e admiravam. Ficou muito triste quando soube da demolição do campo. Declarava, inclusive, que seria o ultimo a sair do cômodo que ocupava. Queria mesmo morrer ali. E quase aconteceu, morreu pouco antes que a picareta iniciasse seu terrível trabalho. Dizem que isso o abalou profundamente. Seu corpo foi trazido e velado no salão nobre do clube, com a presença, no enterro, de diretores, amigos e familiares. Foi o primeiro empregado do BOTAFOGO que mereceu essa distinção. E não há, nesse sentido, nenhuma proibição estatutária, conforme andaram falando. Houve, depois, missa de sétimo dia, no mesmo local, quando também a ela compareceu o "seu" Carlito Rocha, seu amigo de muitos anos, que comungou na ocasião.

NENEM PRANCHA E SUAS "TIRADAS FILOSÓFICAS"

Nenem Prancha morreu em janeiro deste ano mas ficou a sua história, muito perto do BFR. Suas tiradas repentinas ficarão para sempre. Ele que chegou sem saber, a ser motivo, inclusive, de reportagem cinematográfica. Como homenagem póstuma a esse “filósofo do futebol", como era chamado, esta Revista transcrevo, para conhecimento de todas as gerações que por aqui passarem, algumas frases de sua autoria, já fixadas pelos jornais e também usadas no livro sob o titulo “Assim falou Nenen Prancha", obra de Jocelin Brasil ou Pedro Zamora (seu pseudônimo).

Ei-las, ditas sempre em partidas de futebol ou falando de futebol:

Como conselho a jogador de defesa:  "Jogue a bola para cima, pois enquanto ela estiver no céu, não tem perigo de gol".

Quando do campeonato do mundo, no México:  "Jogador brasileiro não vai ter problema no México. A maioria morou em favela e não pode se queixar da altitude".

Para goleiro que se ajoelhava para apanhar a bola, ele costumava tirar de campo e dizer: - "Que lugar de ajoelhar é na igreja”.

Ao "cabeça de bagre", ele dizia:  “Não maltrate a menina que ela nunca fez mal a você".

Ao "pé-torto" ele apontava o Cristo Redentor e dizia:  "Aquele ali não tá. jogando não. Pelo menos eu não escalei".

Ao jogador que rebolava:  "O futebol é simples; o difícil é querer jogar bonito".

Aos macumbeiros ele costumava dizer: "se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminaria empatado".

Para todo jogador:  "Ir na bola como num prato de comida".

Dizia sempre:  "O goleiro deve dormir com a bola e se for casado, dormir com as duas”.

E ainda:  "O pênalti é tão importante que quem devia cobrar era o presidente do clube".

Outra tirada formidável de Nenem Prancha: "Se concentração ganhasse jogo, o time do presídio não perdia um".
E concluía sempre:  “Jogador de futebol tem que ser que nem sorveteria: ter muitas qualidades"

E muitas outras expressões que marcaram a filosofia de  Nenem  Prancha. 

Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Boletim Oficial do BFR no 224 de outubro de 1976
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NA ÁREA CELESTIAL 

Eia senão quando me vejo com Nenem Prancha, cercado de velhos amigos de antanho, de praia e de clube, à margem de estranho e singular estádio. 
Todos eles são bons de bola, e eu, bem os conheço. Em outros tempos privei de sua amizade. Já me aprumo e concateno melhor as idéias. 
Provavelmente me encontro na eterna mansão dos justos. Temor e alegria se apossaria de minha alma. Procuro contactar-me com eles. Em vão. Não me vêem, nem me ouvem. Apenas, seu Neném, com a sua tarimbada percepção entrega-me uma camisa regra-três e me pede para aguardar ordens. 
Temeroso, balbucio: — Mas, seu Neném, eu não estou em condições de entrar no Bota cá de cima. Não mereço tanto. Ando barrigudo, encarquilhado e fora de forma. Do jeito que estou não me aprumo nem no do Macaé, lá em Baixo. Só dá pra brincar com bola parada em montinho de areia e com bola seca. . . Pelo que aqui observo, a moçada joga em gramado azul e com a bola embebida de orvalho celestial. Assim, não dá, seu Neném. . . E de mais a mais sou forasteiro. Mau enxerto não dá boa cepa. Que me consta, ainda faço parte do bagaço lá da Miguel Lemos e olhe lá. E assim mesmo na reserveira.  
Prometo-te, seu Neném, que lá de Baixo vou me preparar com afinco. Quando a minha hora chegar, estarei tinindo: na ponta dos cascos e para toda a eternidade a tua disposição. A minha Guida, em preces, anunciar-te-á o meu retorno definitivo com o eterno passe-livre ore na algibeira do coração, protocolado e sacramentado pelas irmãs Samar e Camélia — idólatras botafoguenses. Portanto, saque-me, seu Neném. 
O velho filósofo retruca-me: — Sempre foste fiel correligionário de nossas alvi-negras cores. Aguardar-te-ei no Bota cá de Cima. Tua vez, nem que seja no come-e-dorme está garantida. Já que retornas, diz ao Macaé que catequise a garotada com o nosso uniforme, flâmulas e bandeiras. E conte histórias do Mané Garrincha, Nilton Santos, Didi. Amarildo e Zagalo, nossos campeões do mundo. E que aplique o bloqueio cerrado na moçada que não for boafoguense. E agora, com licença. O time está se aquecendo com o Sabiá, o diretor Julinho Azevedo acaba de papear ao microfone com o repórter Edgard Pereira, integrante da famosa turma do bate-papo, e o vice-presidente Renato Estelita, com o seu incomensurável carinho, cuida — e cuida bem — da nossa horta. O Fluminense vem para arrepiar com Batataes, Romeu, Celeste, Carreiro, Tintas e a sensação do momento, Jorge Domingues da Silva — o Bacalhau de Copacabana.
Olha como o "Biriba" está indócil. A propósito segreda ao Macaé que o "Biriba" ficou enciumado quando soube que ele havia arrumado outro Biriba" para substitui-lo e apresentá-lo ao seu Carlito. Essa não, Macaé, mais respeito. Neném Prancha ao despedir-se, aplica-me aquela temível e amiga raquetada nas costas e é alertado pelo seu eficiente assessor, o Governador Roberto Silveira. — "Pombas! Que zum-zum é esse? É verdade, Silveirinha. Está faltando um na asa lateral direita. E não é Comandante Edu. Esse encontra-se tramando algumas catimbas com o Bicudo seu companheiro de setor na defesa e em outros setores... ajudado pelo Bruxa da Vassoura Encantada. 
                                                                                                                                                                                                             LAMANA 

Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Boletim Oficial do BFR nº 228 abr e mai de 1977
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NEI CIDADE PALMEIRO

NEI CIDADE PALMEIRO

Morreu, no dia 26 de fevereiro deste ano, o ex-presidente e Grande Benemérito do Botafogo, Ney Cidade Palmeiro, aos 70 anos, desembargador aposentado e Reitor da UERJ. Na história da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Ney Cidade Palmeiro figura como um dos seus fundadores, integrante de seu primeiro Colégio Universitário (1952), um dois primeiros vice-reitores (1958), diretor da Faculdade de Filosofia durante 11 anos consecutivos (1949/1960) e da Faculdade de Serviço Social durante cinco anos (1964/1969). Foi nomeado reitor em janeiro do ano passado, para um mandato de quatro anos.

No magistério, sua atuação foi longa e intensa. Em 1930 ainda acadêmico de Direito, começou a trabalhar, como professor, no Instituto Lafayette. Por concurso, em 1939, chegou ao magistério oficiai, como professor de Sociologia do Colégio Universitário da Universidade do Brasil. Extinto esse estabelecimento, foi transferido para o Pedro II.
Professor de Sociologia há 30 anos na Faculdade de Filosofia da UERJ, lecionou essa disciplina também na Faculdade de Direito desde que a matéria foi incluída como disciplina curricular, tendo sido ainda titular da Faculdade de Humanidades do Colégio Pedro II.
Nascido em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, em 19 de setembro de 1910, Ney Cidade Palmeiro ingressou na Faculdade de Direito da antiga Universidade do Rio de Janeiro em 1930, diplomando-se em 1933.
Depois de exercer a advocacia por vários anos, ingressou na magistratura na então capital federal, em 1951 mediante concurso de títulos e provas. Em 1972 foi nomeado desembargador, passando a integrar a 2a  Câmara Criminal.
Essa foi, de relance a sua vida, de grande saber jurídico, professor e criatura humana, qualidades por todos reconhecidas.
Como desportista, destacou-se como  presidente do Botafogo de Futebol e Regatas, de 1964 a 1967, quando se sagrou campeão, preocupando-se com a escolinha de futebol. Numa de suas entrevistas, sobre o Botafogo, disse: "A escolinha de futebol é meu grande sonho. Quero unir minha velha experiência de professor e desportista, no trabalho de formação dos futuros craques do Botafogo. Pretendo criar uma espécie de bolsa de futebol, pela qual todos os garotos terão assistência educacional, médica e alimentar durante todo o período de sua formação profissional”.
Gaúcho de Uruguaiana, veio muito cedo estudar no Rio e logo se tornou sócio-atleta do Botafogo, que deixaria pouco depois devido aos estudos. Em 1940, Ney Cidade Palmeiro voltaria ao Botafogo, na gestão do presidente Carlito Rocha, como membro do Conselho Fiscal. Na última administração de Paulo Azeredo, ocupou a vice-presidência e por várias vezes esteve interinamente na presidência. Eleito em 16 de dezembro de 1963, seria reeleito em mais dois períodos. Como presidente, Ney Cidade Palmeiro conquistou os títulos cariocas de remo, em 1964, e de futebol em 1967 - Campeonato Carioca e Taça Guanabara. Tetracampeão de
de atletismo de 1964 a 1967, dirigia o Departamento de Atletismo, Otávio Pinto Guimarães, atual presidente da FERJ.
Ney Cidade chamou o então técnico Charles Borer, atual presidente, para dirigir, junto de Júlio Azevedo, o Departamento de Basquete. Em 29 de abril de 1963, recebeu o título de benemérito do Botafogo, E em janeiro de 1968, passou o cargo a Alternar Dutra de Castilho. Na gestão de Rivadávia Correa Méier, de 1973 a 1975, ocupou a presidência do Conselho Deliberativo, 
Casado com Lúcia Cidade Palmeiro, deixou os filhos Maria Lúcia, Mauro Ney e Sérgio Nei, ex-diretores do Botafogo e que representaram o clube na FERJ. Tinha três netas, Silvia Lúcia, Teresa Lúcia e Maria Lúcia, esta sócia proprietária mirim nº 1 do Botafogo. A diretoria decretou luto oficial de três dias e o caixão teve por cima a bandeira do Botafogo. O enterro foi no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju. 


Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Boletim do Botafogo no 240 de maio de 1981
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NILTON SANTOS


Você está vendo aquele jogador ali? Chama-se Nílton Santos e é beque esquerdo como você. Pois vá lá perto, passe a mão na perna dele que o seu jogo melhora. Vá, ande, que o futebol de todos os grandes beques do mundo está ali naquelas pernas.
A frase é de Nestor Rossi, o que dá bem uma medida de sua importância. Nestor Rossi, para quem não se lembra — mas só os muitos jovens ou os que não amam o futebol não se lembrarão — foi um dos maiores centromédios de todos os tempos, não só no seu país, a Argentina, como em todo o mundo. O episódio — narrado no livro Drama e Glória dos Bicampeões, de Armando Nogueira e Araújo Neto — é talvez o que melhor define a importância e a categoria de Nílton Santos. 
Nílton Santos começou no Botafogo e no futebol profissional, portanto, pois o Botafogo foi o único clube que ele defendeu em toda a sua carreira — mais tarde do que o comum dos jogadores. Tinha 23 anos quando assinou o seu primeiro contrato com o clube, no início do campeonato de 1948. Tal como iria acontecer com Garrincha, cinco anos depois, só jogou uma partida pelos aspirantes. Uma semana depois, foi promovido a titular e nunca mais deixou de ser o dono da posição. Posição que, curiosamente, defendia pela primeira vez na vida ao estrear no time de cima. Em sua infância e juventude na Ilha do Governador, nas peladas locais, sempre fora atacante. Um perigoso atacante, de fazer muitos gols, tanto nas peladas como no Flecheiras — que era uma espécie de escrete da ilha —, do qual ele só saiu para ir para o Botafogo. No Botafogo, embora relutasse em jogar na defesa, onde o técnico Zezé Moreira o lançara para tapar buraco, em pouco tempo passou a ser considerado o melhor beque da cidade. Sua segurança, seu estilo ágil e sua alta categoria ao entregar a bola, ajudando logo o jogo a ir se desenvolvendo lá na frente, o consagraram em poucas semanas. Sobretudo porque o Botafogo estava com uma grande equipe naquele 1948 — e com o Biriba, cachorrinho que a superstição de Carlito Rocha fez acompanhar o time em todos os jogos, como mascote. E com a grande equipe e com o Biriba iria ser campeão, fazendo com que, antes mesmo de compreender bem o que era a aventura de mudar do Flecheiras para um grande time profissional da cidade, acordasse com uma faixa no peito, um dos donos do título carioca daquele ano. Só então Nílton viu que, bem mais que a obrigação de uma viagem de barca todo dia da ilha à cidade — naquele tempo ainda não havia a ponte —, aquilo era uma transformação total em sua vida. Quase sem perceber, ele era um campeão de futebol dos mais comentados do país. Nome nos jornais, entrevistas às estações de rádio, começava a ser reconhecido nas ruas quando passava. Não havia mais dúvida. Sua vida estava definida. 
Se alguma vez ele sonhou ser profissional de futebol, sonhara sempre ser um Heleno de Freitas, um Ademir, um Zizinho, um atacante, enfim, que fizesse muitos gols, que construísse jogadas de gol, participasse delas. Mas estava ali, campeão da cidade, firme como lateral-esquerdo (naquele tempo o nome ainda não era esse, mas médio-esquerdo). Tão firme, que já no ano seguinte foi chamado para a seleção brasileira que disputou o sul-americano. Tinha apenas um ano de profissionalismo e chegar à seleção assim era um verdadeiro recorde. E no ano seguinte, ele voltaria a ela, não mais para um sul-americano, mas para disputar uma Copa do Mundo, a de 1950. Num e noutro caso, foi deslocado da posição em que ia se firmando, pois tinha sido convocado para jogar pelo lado direito. Não chegou a ser titular do Brasil, pois Augusto, do Vasco, era então o dono absoluto da posição. Nesse mesmo 1950, antes da Copa do Mundo, Nílton Santos tinha sido convocado para a seleção carioca, que se sagrou tetracampeã brasileira derrotando os paulista na final. Embora também tivesse sido deslocado para o lado direito, no campeonato brasileiro, dessa vez revezou com Augusto, entrando em alguns jogos, inclusive na final, quando foi expulso de campo ao cometer uma falta mais dura em Friaça, ponta-esquerda do selecionado paulista. No ano seguinte, quando o Brasil conquistaria seu primeiro titulo internacional no exterior, Nílton Santos lá estava de titular absoluto. E daí para a frente jamais iria perder essa condição, cujos méritos ninguém nunca discutiu, até o bicampeonato mundial de 1962, no Chile. Por essa época, já deixara o posto de lateral-esquerdo no Botafogo, pois por aquela faixa externa do campo sua irreprimível vocação de atacante o fazia avançar frequentemente, quase sempre criando uma jogada de gol para um ata: cante ou, não raro, fazendo o gol ele mesmo. Mas voltar no tempo exato já era coisa que se ia tornando mais difícil, com a idade. 
Para não se desprender tanto, então, passou a quarto-zagueiro, jogando mais pelo meio da área. Mas na seleção brasileira bicampeã voltou a jogar como lateral-esquerdo. Era uma imposição nacional. Aquele lugar já era tão seu quanto a camisa número 10 era de Pelé. Ainda mais naquele ano, em que ele vinha da inesquecível equipe do Botafogo campeã de 1961 e dona de todas as condições para ser bicampeã da cidade — como seria. Não importava que ele fosse quarto-zagueiro no Botafogo. O técnico Aimoré Moreira achou que ele deveria continuar como lateral-esquerdo na seleção — e lateral-esquerdo ele continuou, com o mesmo brilho de sempre. Na verdade, não importava, em qualquer circunstância, que Nílton Santos fosse lateral-direito ou esquerdo ou quarto-zagueiro. O importante é que ele criara um estilo novo, desenvolvendo a inconfundível escola criada no Brasil por Domingos da Guia. Domingos não se contentava em parar o atacante adversário, em barrar os seus passos. Fazia questão de amaciar a bola, com carinho, entregá-la jeitosa-mente a um companheiro bem colocado mais à frente. Nílton Santos sempre fez o mesmo quando jogou pelo meio da área. E quando tinha a faixa direita ou esquerda do campo para correr (mas a esquerda é que o consagrou), ele desenvolveu esse estilo, criando no Brasil o que se poderia chamar de beque-atacante, muito antes que se descobrisse em 1966, na Inglaterra, o que se chamou insistentemente ora de futebol-força, de vaivém, de sanfona, onde defender não era mais exclusividade dos beques e atacar já não era uma função só dos atacantes. Hoje em dia o estilo de Nílton Santos é festejado como o modelo da melhor escola de zagueiros pelas laterais. Só que ninguém jamais conseguiu fazer a coisa com tanta beleza, habilidade, categoria e eficiência como o mestre do estilo. E provavelmente algumas gerações se passarão ainda, até que surja um novo Nílton Santos.  

Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Revista Os grandes clubes brasileiros nº 13 de 1972
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NILTON SANTOS

NILTON SANTOS -"A ENCICLOPÉDIA" 
"Você está vendo aquele jogador ali? Chama-se Nilton Santos e é beque esquerdo como você. Pois vá lá perto e passa a mão na perna dele que seu jogo melhora. Vá, ande, que o futebol de todos os grandes beques do mundo está ali naquelas pernas." Esta frase, de Nestor Rossi (um dos maiores jogadores argentinos de todos os tempos), narrada no livro Drama e Glória dos Bicampeões, de Armando Nogueira e Araújo Neto, define bem aquele que foi o maior lateral esquerdo do mundo em todos os tempos, O grande NILTON SANTOS, a ENCICLOPÉDIA DO FUTEBOL, como era chamado, numa justa homenagem a um dos maiores craques do futebol brasileiro. 
Neste número, o Boletim do Botafogo conta a história do exemplo de profissional, de atleta, e de homem que foi NILTON SANTOS. O atleta de uma única camisa, a camisa alvinegra, que ele tanto amou e fez com que respeitassem. Foram 16 anos vestindo e honrando a camisa do Botafogo. Foram 16 anos encantando o mundo com sua categoria e classe jamais igualados por qualquer outro lateral. Foi o único jogador brasileiro a conquistar todos os títulos disputados no futebol. Foi campeão carioca, brasileiro, sul-americano, panamericano e mundial. Um dos realmente supercraques do futebol brasileiro 
Nilton Santos começou no Botafogo no início do ano de 1948, vindo de um clube de peladas, o Flexeiros, da Ilha do Governador. Foi logo promovido a titular do time que viria, naquele mesmo ano, conquistar o Campeonato Carioca. Logo em seu primeiro treino, empolgou ao técnico Zezé Moreira e ao dirigente Carlito Rocha que profetizou: "Meu filho, você será o maior lateral do mundo, você será desde campeão carioca a campeão mundial." Estava certo o grande Carlito. Começava ali a carreira do maior lateral do mundo de todos os tempos. Na copa de 1950 Nilton Santos foi reserva. O técnico de nossa seleção não gostava de zagueiros clássicos, que marcassem com técnica, categoria e que fossem ao ataque tentar o gol. Preferiu escalar outro em seu lugar. O resto nós já sabemos. Nossa seleção foi derrotada na final, com gol do ponta direita uruguaio, que passou como quis pelo lateral esquerdo de nossa seleção. E Nilton Santos no banco de reservas, acreditem. Durante muitos anos, Nilton Santos foi a estrela solitária do Botafogo. Atuou em equipes fraquíssimas, até que aparecessem Garrincha, Didi, Paulinho, etc... Mas sempre foi o exemplo de amor à camisa, o exemplo de profissional que amava seu clube. Até hoje, quando ouve alguém falar mal do Botafogo, Nilton reage, exigindo o máximo respeito. Pena que o Botafogo não consiga outro Nilton Santos. Pena que no Brasil não apareça outro lateral esquerdo com toda aquela categoria. Pena que os torcedores mais jovens não tenham tido a oportunidade de ver jogar aquela maravilha de futebol, o lateral que os pontas temiam enfrentar, a ENCICLOPÉDIA DO FUTEBOL. 

Acero particular Roberto Castro Barbosa
Fonte: Boletim Oficial do BFR ano 2 nº 5 de 1988
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Nelson Fernandes Coelho Cintra
Por Alceu Mendes de Oliveira Castro 

Cessou de pulsar, na triste noite de 23 de fevereiro, um nobre e generoso coração — o de Nelson Fernandes Coelho Cintra, nosso amigo querido, nosso abnegado diretor de futebol.
 Botafoguense da mais pura raça, desde o berço revelado, Nelson Cintra viveu, lutou, sofreu e morreu pelo BOTAFOGO, do qual sentia um verdadeiro orgulho em ser adepto. 
Esta convicção absoluta, ressaltava de todos os seus pensamentos, de seus mínimos gestos e atitudes, como claramente transluz, dêste admiráveis versos de sua lavra: «Dizem que somos vinte — vinte loucos! — As elites se Formam de bem poucos, -- Que glória o sermos poucos: Somos bons! 
Muito moço ingressou na administração botafoguense, em 1945, como sub-diretor do Departamento Técnico, passando, mêses após, a Diretor, cargo que exerceu dedicada e eficientemente até 31 de dezembro de 1949, servindo, assim, às presidências de Adhemar Bebiano, Oswaldo Costa e Carlito Rocha, esta última, com menos efetividade, pois já fraquejava o seu magnânimo coração, bom demais para as misérias desta terra. 
Operado em 1951, restabeleceu-se Nelson, para a grande alegria de seus incontáveis amigos e companheiros e assim, a 2 de janeiro de 1954, na presidência Paulo Azeredo, voltou a servir o seu Glorioso, futebol profissional, como colaborador direto e indispensável de seu sincero e dileto amigo, o vice-presidente e grande-benemérito Adhemar Alves Bebianno, a quem fõra, confiado o setõr. 
E, nêsse cargo, veia colhê-lo brutal e inesperadamente a morte, após a malfadada campanha de 1955, suportada por Nelson Cintra com admirável estoicismo, com absoluto espírito de sacrifício, enfrentando ataques e ondas, não fugindo à responsabilidade, como desportista impar que sabia perder, o que poucos sabem, embora empregando os mais ingentes esforços para levantar a equipe do seu e do nosso BOTAFOGO — sua razão de ser na vida — perseguida por uma série de circunstâncias cruéis, independentes de sua vontade. 
Quantas e quantas vezes, em nossa função de Diretor do Departamento de Comunicações, entregamos-lhe pessoalmente, centenas de cartas, dirigidas à Diretoria e despachadas ao Departamento de Futebol, criticando acerbamente a atuação do team, umas com espírito real de colaboração, mas a maioria, ofensivas, insultuosas ou profundamente imbecis: Nelson, em nossa presença, li-as com atenção e, depois, sem um comentário, deixava aflorar aos lábios, apenas aquêle sorriso bom, compreensivo, como quem diz: êles pensam que é facil? Queria vê-los em meu lugar...
Não desertando o seu posto no momento da desdita, manténdo-se fiel aos seus companheiros, Nelson escreveu em seu inesquecível «Pelourinho» êste vaticínio impressionante, que tornou-se cruel realidade e de onde, mais uma vez, ressalta o seu orgulho de ser botafoguense, ainda que em fases amargas: «Mas não peço clemência nem socorro --- E com as «armas na mão», juro que morro - Eu sou - modéstia à parte — é BOTAFOGO!...
A 31 de dezembro, sentindo novamente fraquejar o coração, Nelson, na atual administração, pensou deixar o cargo, indicando para substituto o dedicado Renato Estelita: não lhe foi possível afastar-se totalmente, ficando então, como assistente técnico, encarregado dos contratos nessa função cumpriu-se sua trágica profecia, arrebatando-o dos braços de sua idolatrada esposa e de seus inconsoláveis amigos.
Atingido pelo enfarte que o levaria em pouco mais de 48 horas, Nelson não deixou de pensar um minuto no seu BOTAFOGO e, na tenda de oxigênio, ao receber a visita amiga de Renato Estelita e Zezé Moreira, embora proibido de falar, só queria os detalhes do último treino que naquela tarde se realizára! 
Na quinta-feira, 23, quando parecia dominada a crise e todos nós começavamos a nos regosijar, sobreveio uma mais violenta e fatal, levando sua alma tão imensamente, boa para o regaço do Creador!
O seu enterramento, acompanhado por milhares de desportistas de todos os clubes foi uma consagração impressionante e quando o esquife coberto pela bandeira alvi-negra que êle sempre idolatrou e defendeu, desceu ao sarcófago e Sergio Darcy dirigiu-lhe o último adeus do BOTAFOGO, todos choravam. 
Repouse em paz, Nelson Cintra: seus amigos e todos os botafoguenses, jamais esquecerão o grande e nobre coração, o sorriso compreensivo e bom, a alma generosa e magnânima, que tanto amou o BOTAFOGO! 
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BOTAFOGO EM FUNERAL 
Cel. Jocelyn de Souza Lopes

Chocante foi a notícia que celere correu pelos ciclos desportivos da cidade, com o infausto passamento do desportista alvi-negro, Nelson Cintra. 
É tão forte foi para nós essa emoção que, sómente a dura realidade pode calcar a dúvida que nos fazia querer não crêr que esse desportista vivaz, esse botafouense de escól, esse cidadão prestimoso que sempre pôs ao serviço do clube e do desporto a sua bôa vontade, o seu pertinaz desvêlo sem mostras nunca de desânimo, havia sucumbido. 
Nelson Cintra era um desses homens cuja têmpera não se abalava nos recalques naturais das jornadas inglórias; o seu elan, a sua fibra foi sempre o anteparo onde os pusilânimes faziam parar os seus temores e desânimos. 
Nelson Cintra lutou sempre, porque sabia lutar. Era de vêr com que serena energia propugnava sempre ao lado de seu Departamento, tangendo com denodo ss cordas invisiveis do maior instrumento harmônico com que sempre pautou os seus atos — o seu grande e amigo coração, dando ao Botafogo e pelo Botafogo o esforço de seu tino administrativo, a sequência de sua util assistência e a característica imutável de seu caráter, a franqueza de suas convicções.
Foi, em eras que o conhecemos nos aureos tempos de 1948, ao lado do desportista cem por cento, Ademar Bebiano, que travamos contato quando por generosa consideração do então presidente, chefiamos duas delegações que buscavam vitórias no Paraná e mais tarde outras glorias na Bolivia. 
Aí privamos, e porque não dizer, com grande felicidade, com esse desportista valoroso que nunca antevia dificuldades e pudemos aquilatar do seu valôr invejável eterno homem de ação, de fibra e de inquebrantável energia. 
Tornamo-nos, amigos, porquê na esfera desportiva, são amigos aqueles que pugnam com sinceridade por um mesmo ideal. E, apesar de pequenas incompreensões, nunca deixamos um só dia de lutar pela gloria de um Clube merecedor de destacado lugar no cenário desportivo nacional. 
Em qualquer terreno, onde se debatiam os interesses do Botafogo, lá encontrávamos o Cintra sempre altaneiro no seu lugar de honra. E daí tornar-se esse baluarte, onde o Botafogo sempre achou apoio às grandes ideias para concretisação de suas maiores jornadas. 
Nelson Cintra, na vitória, exultava. Nas derrotas, animava, fraternisava. Nunca ouvi de seus lábios, uma palavra de revolta, nem um gesto de repulsa, porque no Botafogo os desportistas cultuam o slogan, «saber ganhar, para melhor saber perder». 
Superfluas e dispensaveis se tornam estas despretenciosas considerações, porque Nelson Cintra gosou no Botafogo e no desporto da metrópole do conceito que sempre mereceu. 
Porisso não desejamos expressar nestas palavras, senão o desejo de juntarmos sinceramente as justas homenagens que se prestaram ao insigne desportista umas pálidas pétalas de saudade com que os verdadeiros botafoguenses viram partir esse denodado amigo que foi Nelson Cintra. 
Assim, queremos expressar a nossa sincera dôr pela perda desse amigo que foi na vida Nelson Cintra, e que com a sua morte veio se tornar mais um símbolo onde os desportistas do Glorioso hão de mirar uma luz que não se extinguirá jamais enquanto a sombra benfazeja do alvi-negro se abrigarem corações botafoguenses sinceros. 
Adeus, Nelson Cintra, e que teu nome seja sempre lembrado, pois o que fizestes em vida, a sinceridade do julgamento dos justos fará erigir em tua honra, um pedestal de gratidão e um panteon de reconhecimento. 

Acervo particular Alceu Oliveira Castro Jungsted
Fonte: Boletim Oficial do BFR nº 113 de abril de 1956
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Neuci Ramos da Silva 
A garota endiabrada que conquistou tôda a torcida alvi-negra no campeonato de basketball de 1955, a pequena, agil e vibrante Neuci Ramos da Silva, verdadeiro azougue das quadras nacionais, iniciou sua carreira esportiva em 1953, em seu querido Clube de Regatas Icaraí, ao qual até hoje pertence no volleyball. 
Neuci surgiu nos famosos Jogos Infantis de "Jornal dos Sports", onde colheu a maior emoção de sua vida esportiva, tão curta e já tão cheia de sucessos impressionantes, quando vencendo as competições de basketball e volleyball, deu a vitória global ao Icaraí nos referidos jogos. 
Depois, foi uma sucessão ininterrupta de façanhas, nas competições de Niteroi, onde o valoroso C. R. Icaraí é o eterno campeão de volleyball, consagrando-se Neuci bi-campeã da vizinha capital e su-percampeã fluminense, tendo brilhado esplendidamente nas competições de nosso Cinquentenário, quando disputou o torneio interclubes da 1ª Divisão e o famoso Trofeu João Lyra Filho. 
Ainda em 1954, Neuci conseguiu uma grande proeza, pelo Icarai, tornando-se campeã do remo da Primavera, tendo integrado a yole a oito vitoriosa e sido excluida,, com imensa mágoa, da prova de balieiras por um pequeno e involuntario atrazo. 
Depois disso, Neuci dedicou-se de corpo e alma ao basketball integrando a seleção fluminense que disputou o Brasileiro, realizado no ginásio do Caio Martins, em janeiro de 1955. 
Ela, que na sua estréia, nos Jogos Infantis de 53, fôra considerada a mais eficiente jogadora de basketbaal, foi uma esplêndida revelação, praticando a proeza de conquistar o título individual no Campeonato Brasileiro de Lance Livre, com 16 cestas em 20 arremessos. 
Daí, Mário Amancio, indicado para técnico da representação nacional aos jogos Pan-Americanos do México, não teve duvidas: convocou a garotinha e não se arrependeu, pois Neuci, entre jogadoras consagradas e de grande cancha, brilhou, destacando-se pela coragem e pela vivacidade com que sempre luta: venceu o Canada (66 x43) e no jôgo returno com os Estados Unidos, não teve o menor receio das atléticas americanas, que já haviam agredido Eugenia, reagindo à altura dos fouls recebidos, embora tão mignon, o que valeu a exclusão da partida. 
Terceira colocada no Pan-Americano, Neuci, em seguida foi, pelo Icaraí, a cestinha do Troféu Armando Albano com 187 pontos, tendo obtido 5 vitórias e 5 derrotas, ingressando no BOTAFOGO, por expontânea simpatia, para a disputa do Campeonato Carioca, que levantou invencivelmente, como uma das maiores daquela equipe formidavel. 
Sua cesta na Gávea, no jôgo do turno contra o Flamengo, empatando a luta último segundo e proporcionando a prorrogação que viriamos a vencer, passou à história e foi o estimulo e a chave de invicta conquista, consagrando Neuci o "diabinho alvi-negro" que, com 105 pontos em oito jogos, foi a nossa segunda cestinha, já que o primeiro posto coube Marlene.
 E agora, em janeiro de 1956, nova conquista extraordinária obteve Neuci, pois integrando a seleção carioca, levantou o brasileiro de Porto Alegre, título que pertencia a São Paulo por sete vezes, numero dos certames anteriormente disputados.
 Atleta extraordinária, na Primavera 55, Neuci defendeu o seu colégio, o Anglo Americano, em ciclismo, remo, volleyball,  basketball, tenis e atletismo, triunfando quasi tudo, que é o que todos nós desejamos vê-la fazer um dia pelo BOTAFOGO que tanto a estima e admira. 

Acervo particular Alceu Oliveira Castro Jungsted
Fonte: Boletim Oficial do BFR nº 113 de abril de 1956
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NADIM SEVERO MARREIS

HONRA À FIDELIDADE

Como nos anos anteriores, no monumental desfile que inaugurará sua Olimpíada Interna, o BOTAFOGO fará a solene entrega do Prêmio Honra à Fidelidade, e criado em 1954,por ocasião do Cinquentenário, para enaltecer os amadores que então estivessem em atividade, com dez temporadas sucessivas, em defesa do pavilhão alvinegro.
Posteriormente, em 1957, a Diretoria tornou o prêmio permanente, regulamentando-o, mas ficou uma falha, quanto à temporada para a contagem inicial, que, nas condições existentes, era a de 1945, quando o mais justo seria fazer retroagir tal contagem, a partir de 1943, ano primeiro do BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS. 

Aprovada tão equitativa sugestão, beneficia ela, um único atleta, que cessou suas atividades antes de 1954,  o veterano Domingos César Cãmara (Mingote), nosso bravo defensor em remo, natação e water-polo, que esteve em ininterrupta atividade, de 1940 a 53, e agora receberá sua medalha de prata.

Dos novos, temos Efrânio Caboudy, que se iniciou em 1951, nos Jogos Infantis do "Jornal dos Sports" e prosseguiu, primeiro na natação e, depois, no basket, até hoje.
E, com quinze temporadas - medalha de ouro - o extraordinário e dedicadíssimo atleta Nadím Severo Marreis, que tendo estreado em 1946, reúne em seu acervo os títulos por equipe, de campeão de novíssimos de 1946 e carioca de 48-49-50-51; campeão carioca individual de disco em 47-48-49-50-51 e 52 - novíssimos de 46 e juniores de 46-47; campeão carioca de peso em -47-48-49-50-51; de novíssimos em 46 e de juniores em 46 e 4:7; campeão carioca de martelo em 1949 e de novíssimos em 46: campeão brasileiro de disco em 49, 51 e 56 e de peso em 49 e 51, com 56 primeiros lugares e 33 segundos em defesa das cores botafoguenses.

Nadim possui, ainda, os seguintes resultados:

DISCO

23-6-46 - Carioca - 42m69
28-7-46 - Carioca - 43m58
24-8-46 - Carioca - 45m01
14-9-46 - Juniors - 41m30
30-10-46 - Juniors - 40m26
30-8-47 - Juniors - 43m88
9-11-47 - Juniors - 44m80
19-6-47 - Brasileiro - 46m46
20-6-48 - Brasileiro - 46m81

PÊSO

23-6-46 - Novíssimos - 13m82
12-9-47 - Troféu Brasil - 14m03
21-3-48 - Carioca e Brasileiro - 14m83
11-11-50 - Troféu Brasil - 14m55

MARTELO

23-6-46 - Novíssimos e Juniores - 44m37

Portanto, 29 títulos de campeão e 11 records reúne o querido Nadim que, na secção de atletismo, é o nosso mais vitorioso atleta de todas as épocas.

Com os novos premiados, fica assim constituído o invejável Quadro "Honra à Fidelidade":

- OURO -

1 - Adhemar Cecílio Manes; 2 - Fernando Pinto Dias; 3 - Margarida Tereza Nunes Leite; 4 - Nadim Severo Marreis.

- PRATA -

1 - Álvaro Roma Filho; 2 - Armando Caetano; 3 - Ariel Léo Rosemberg; 4 - Domingos César Câmara; 5 - Edinaldo Cavalcanti Ramalho; 6 - Efrânio Caboudy; 7 - Hermes Krohne; 8 - Ilo Monteiro da Fonseca: 9 - Irwin Steinberg; 10 - Ivany Benita Rivera; 11 - Jose Augusto Didier Barbosa Viana; 12 - José Roberto Haddock Lobo; 13 - Julien Gomes de Oliveira; 14 - Manoel Adolfo Pereira Gomes Filho; 15 - Marise Ribeiro Brito Freire; 16 - Mauricio de Toledo; 17 - Nuno Álvares Linhares Veloso; 18 - RauI  Gonçalves Soares; 19 - Ricardo Osborne Manso da Costa; 20 - Samuel Schemberg; 21 - Vercingetorix de Souza Rosas; 22 - William Scheimberg.

Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Boletim Oficial do BFR nº 167 de outubro de 1960

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