CARLOS MARTINS DA ROCHA
A renúncia do Presidente Carlos Martins da Rocha, motivada pela autorização dada pelo C. N. D. paca a vinda ao Brasil de clubes portuguêses que haviam desacatado o Botafogo, renúncia esta felizmente retirada quando do reconhecimento de nossos sagrados direitos, revolucionou todo o Botafogo que movimentou-se em massa, para não deixar partir o grande Presidente.
Por ocasião do jogo inicial do campeonato, a 3 de julho, a Comissão Pró Estádio, com o apôio de todo o quadro social, projetou uma grande manifestação a Carlito Rocha, que se efetuaria em plena cancha, com a entrega de um bronze e um discurso que seria pronunciado pelo professor Luiz Antonio da Costa Carvalho, ilustre diretor da Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil. Carlito Rocha, com a sua proverbial modestia, esquivou-se à manifestação mas, não nos furtamos ao prazer de transcrever aqui as belas palavras que proferiria o Dr. Costa Carvalho que teve a gentileza de nó-las enviar:
"Carlito: A Comissão Pró Estádio e os seus consócios cometeram-me o encargo honroso, que aceitei desvanecido e orgulhoso, de manifestar-lhe o seu aplauso irrestrito e assegurar-lhe a sua solidariedade integral nesta hora de agitação, de dúvida e de intranquilidade que o Botafogo de Foot-ball e Regatas está vivendo por motivo dos fatos que estão no conhecimento geral e determinaram a sua atitude conhecida.
Os outorgantes do mandato que recebi apresentam o que o nosso Botafogo possui de mais destacado na preservação do seu patrimônio moral e na defesa do seu direito de viver, no resguardo das suas tradições e no culto das suas glórias.
Em nome e por ordem dêles aqui estou, meu caro Carlito, para falar-lhe em linguagem de amigo e com a dupla autoridade de que me revisto, de botafoguense e de professor de direito.
Como botafoguense da velha guarda, das boas e das más horas, envelhecido na contemplação, no culto e na celebração da "Estrela Branca", que é o nosso símbolo, conheço-lhe a vida e a história esta registrando as lutas, os sacrifícios; os feitos e os triunfos que pontilham aquela, como conheço devotamento, com amor e com desprendimento orientando e dirigindo a sua marcha ascencional e brilhante.
Como professor de direito — a ciência do bem e do justo — tenho por norma acendrar no consciência dos moços o culto da justiça infundindo nos seus corações o sentimento dessa virtude por excelência.
Falo-lhe, portanto, meu caro Carlito, como intérprete do alto sentimento de justiça e de gratidão que inspira, que anima e que impulsiona os seus consócios que aqui estão frente ao seu querido Presidente numa demonstração espontânea, sincera e vibrante de solidariedade, de aplauso e de aprovação à sua reta conduta diretora, de reconhecimento e de aprêço pelos seus grandes e inestimáveis serviços à causa do Botafogo, que é a nossa causa, e, ao mesmo tempo, de repudio aos zoilos, àqueles para os quais os nossos triunfos e as nossas glórias, a nossa vida social, enfim, marcada de lutas, de dificuldades e de sacrifícios, mas nobre, altiva, independente e digna são motivos de prevenções, de represálias, de inveja.
Carlito: Você desagravou o Botafogo e, por isso, sente-se o Botafogo orgulhoso de afirmá-lo nesta hora de definição e quer, assim sentindo e declarando, que, passada a refrega dura, tranquilizada a consciência e dada a lição que ficará, você reconsidere sua resolução, pelo interêsse do Botafogo, e declare agora que é ainda e será por todo o período do seu mandato, porque assim nós queremos o nosso Presidente, o condutor dos nossos destinos sociais, o orientador das nossas campanhas desportivas para a conquista, que há de vir, pela sua dedicação, pelo seu esfôrço, pela sua demonstração máscula de querer, dos campeonatos de 1949.
Receba, Carlito, com estas palavras que valem apenas pela substância do sentimento que as dita, a lembrança singela mas expressiva dos seus consócios, dos seus amigos, dos seus admiradores e pense, medite, reflita na significação que ela tem e no que ela representa e que constitui, agora mais que nunca, o imperativo categórico da sua presidência: a glória sempre crescente do nosso Botafogo".
Acervo particular Alceu Oliveira Castro Jungsted
Fonte: Boletim Oficial do BFR nº 83 de agosto de 1949
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
O Arbitro CARLITO ROCHA
Em nosso ultimo numero reproduzimos uma cronica de Olimpicus, o grande historiador do futebol brasileiro, focalisando varios aspectos da vida de nosso Grande Benemerito Carlito Rocha, como arbitro impecavel que foi. Hoje temos a satisfação de apresentar uma velha foto, tirada em Agosto de 1919 no antigo campo do Flamengo, à rua Paisandú, representando os dirigentes do sensacional Fla x Flu do turno daquelle campeonato, aparecendo como "referee" Carlos Martins da Rocha, ladeado pelos linesmen (bandeirinhas), os nossos Beneméritos Luiz de Paula e Silva e Luiz Palamone.
Naquela época, já tão distante, Paula e Silva, o nosso inovidavel "Vovô", era o Presidente da Comissão de Sports do Botafogo, cargo ao qual corresponde atualmente o de Diretor do Departamento Tecnico e Carlito e Palamone eram craks de nossa primeira equipe de futebol, assim constituida — Oliveira, Monti e Palamone, Franco, Carlito e Police, Moacyr, Petiot, Joppert, Menezes e Celso.
Acervo particular Alceu Oliveira Castro Jungsted
Fonte: Boletim Oficial do BFR nº 111 de janeiro de 1956
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
CARLOS MARTINS DA ROCHA
Benemerito dos Desportos Cariocas
Foi com a mais viva satisfação que o BOTAFOGO inteiro recebeu a notícia de que a assembléia da Federação Metropolitana de Football, em sessão de 30 de agosto último, outorgou com a mais completa justiça, a Carlos Martins da Rocha, um dos maiores botafoguenses de todos os tempos, o título de Benemérito dos Desportos Metropolitanos pelo muito que tem feito pelo esporte de nossa terra.
Célebre pela dedicação ao nosso pavilhão, pela energia e dinamismo de suas ações, pelo descortinio, de sua inteligência, Carlito Rocha verdadeiro super-homem do BOTAFOGO, dispensa elogios, tão marcante que é a sua inconfundível personalidade de um dos maiores desportistas do Brasil.
De larga visão, muitas vêzes ignorado e combatido, Carlito Rocha tem tido a satisfação ser cumpridas, cedo ou tarde suas previsões, como no tão discutido caso do televisionamento dos jogos, quando sofreu rude campanha porque previu com segurança os prejuízos que o mesmo causaria aos clubes.
A justiça, porém, tarda, mas não, falha, e ei-lo agora, para nosso júbilo, proclamado Benemérito dos Desportos.
— Parabens, F.M.F.! Parabens, Carlito Rocha!
Acervo particular Alceu Oliveira Castro Jungsted
Fonte: Boletim Oficial do BFR nº 119 de outubro de 1956
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
Desassombrada Atitude
Ecoou esplendidamente no BOTAFOG0 DE FUTEBOL E REGATAS a desassombrada atitude de seu Grande Benemérito Carlos Martins da Rocha enviando a já agora histórica carta, abaixo transcrita, ao senhor do Passo: "Rio, 27 de julho de 1957.
Senhor Presidente
Em resposta à carta que V. Sa. me endereçou, e na qual só agora, cêrca de um ano após, me comunica a tão grata resolução tomada pelos queridos clubes que compõem a Federação Metropolitana de Football, de me concedem o título de Benemérito, o que muita me honrou, declaro não aceitar o convite feito por V. Sa. para comparecer e receber o respectivo diploma. Criado nos desportos e, portanto, em sua escola de civismo e lealdade, não posso furtar-me a dar as razões porque não comparecerei à solenidade em apréço. Há tempos pretendeu V. Sa. apresentar o BOTAFOGO como desleal à Cidade, que o viu nascer e crescer à sua sombra, há mais de meio século. Como motivo, alegou V. As. a gravíssima falta de solidariedade do BOTAFOGO à representação desportiva da Cidade, retirando jogadores que a vinham defendendo. Mais do que ninguém, V. Sa. estava certo do contrário, pelo constante e decidido apôio que, por meu intermédio, vinha a referida representação recebendo do BOTAFOGO, que, para bem fazê-lo, não media sacrifícios. Solicitei, então, à Diretoria do BOTAFOGO, como é público e notório, em sinal de Protesto por aquela sua atitude, o não comparecimento do representante do Clube às reuniões que fossem presididas por V. Sa. até que, a constante ausência do Clube irmão e leal companheiro ferido, falasse aos laços de estima e solidariedade, sempre existentes entre todos, o que os irmanaria, na repulsa devida a todo aquele que, como V. Sra., viesse a atingir a um dêles. Coerente com êsse ponto de vista, não entrarei nesta querida Casa, fruto do esfôrço de tantos, muitos dos quais já se foram, enquanto V. Sa. fôr o seu presidente. Era o que, sincera e francamente tinha a dizer a V. Sa.
Saudações
a) Carlos Martins da Rocha"
Ao nosso inegualavel Grande-Benemérito, a Diretoria do BOTAFOGO endereçou o seguinte ofício:
"Rio, 1º de agosto de 1957 Ilmo. Sr. Carlos Martins da Rocha
Temos a satisfação de comunicar-lhe que a Diretoria do BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS, em sessão de 29 de julho, resolveu, unanimemente, consignar em ata um voto de congratulações ao nosso Grande-Benemérito, pela sua desassombrosa atitude de botafoguense impar, consubstanciada na missiva histórica dirigida ao presidente da Federação Metropolitana de Football, em defêsa dos brios e da honra de nosso Clube, missiva essa que será integralmente transcrita em ata. Felicitando-o calorosamente e abraçando-o com o maior afeto, subscrevemo-nos com a máxima estima e consideração,
a) Alceu Mendes de Oliveira Castro
Diretor do Departamento de Comunicações".
Acervo particular Margarida Tereza Nunes Leite
Fonte: Boletim Oficial do BFR nº 130 de setembro de 1957
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
Quem lembra do saudoso e superticioso presidente Carlos Martins da Rocha ou mais conhecido como Carlito Rocha que sempre estava acompanhado de seu fiel escudeiro o mascote Biriba que sempre entrava em campo nos jogos dos profissionais.
Considerado por muitos como um dos maiores botafoguenses de todos os tempos, nasceu em 1894, ano da fundação do Club de Regatas Botafogo, e ainda jovem, já defendia a camisa do Botafogo Football Club. Arrebatado, em 7 de setembro de 1918, acometido de pneumonia e sob intensa febre, entra em campo para enfrentar o América, o que lhe provocou um estado de coma e longo período de convalescença.
Biriba
Foi atleta exemplar e dirigente denodado, tendo recebido todos os títulos e homenagens que o clube outorga a seus maiores. Presidente do Botafogo de 1948 a 1951, foi o grande líder da conquista do Campeonato Carioca de 48. Pode ser considerado o iniciador das crendices e superstições botafoguenses. Fez de um cachorrinho mascote, o célebre Biriba, e em dias de jogos, para afastar a má sorte, mandava dar nós nas cortinas da sede.
Morreu em decorrência de problemas cardiovasculares e renais.
CARLITO ROCHA
UMA LEGENDA DO BOTAFOGO
A notícia entristeceu a todo botafoguense. Morreu Carlos Martins da Rocha aos 86 anos de idade, dos quais 70 dedicados ao clube. Botafogo e Carlito Rocha se confundiam. Não se podia falar em Botafogo sem se falar em Carlito Rocha, ligado ao clube desde sua meninice. Ainda garoto, praticou o futebol entre os infantis e juvenis ao tempo em que estes últimos tinham um limite de idade bem menor de 20 anos.
Acendeu ao time principal e brilhou intensamente como excelente centro-médio acumulando vitórias que fizeram nos primórdios do século, o Botafogo admirado e distinguido entre seus co-irmãos. Integrou selecionados cariocas e brasileiros. Era conhecido como um dos botafoguenses mais apaixonados e dedicados que o Botafogo já possuiu. Foi um homem que durante toda sua vida, sacrificou a família e seus negócios particulares para se dedicar ao Botafogo. Carlito Rocha era o próprio Botafogo, tão ligado estava à história e as glórias do clube.
Histórias, curiosas, tristes ou alegres, serão sempre relembradas pelos que viveram as fases mais intensas de Carlito Rocha. E ele morreu lutando pelo melhor para o Botafogo, como fez em todo a sua vida. Voltar a General Severiano, recuperar a antiga sede, o campo de tantas glórias e recordações foi a sua ultima campanha, seu último desejo.
De atleta dos mais brilhantes e eficientes, surgiu o grande dirigente. Destacou-se como presidente e diretor de futebol, somando em seu acervo de vitórias o sensacional e sempre lembrado campeonato carioca de 1948, feito épico que grangeou para o Botafogo uma projeção sem par. Depois de se desfazer de um dos maiores ídolos de todos os tempos no clube - falecido Heleno de Freitas - armou um time aparentemente modesto, entregando-o a Zezé Moreira. Apareceu, então, um personagem surpreendente o cão "Biriba", que Carlito considerava uma força nos seus princípios de superstição. Depois de perder o primeiro primeiro jogo para o São Cristóvão (a única derrota), por 4x0 em General Severiano, ganhou o título de 1948 derrotando o famoso "Expresso da Vitória' do Vasco da Gama por 3 a, 1, no último jogo do campeonato. Quem ainda não se lembra dessa estrondosa vitória e suas histórias?
Carlito, católico praticante, era um místico, capaz de acreditar em tudo. Principalmente nas coisas que achava que davam sorte. Por isso mesmo, durante a temporada triunfal do Botafogo jamais se vestiu com outro terno que não fosse aquele pesadíssimo, de puro tecido inglês azul risca de giz. Carregava na cabeça enorme chapéu cinza e na lapela, um escudo do River Plate, de Buenos. Tudo tinha sua razão de ser, pensava ele. E, assim, há muitas e muitas histórias a seu respeito, culminando com o pequeno "Biriba”, que acabou transformando-o na mascote do time, seu talismã maior.
Naturalista, achava que o atleta só se completava comendo rapadura, tomando mel e gemada. Mas, aos que costumavam- se exceder em bebida Carlito obrigava a comer manga em jejum, e depois recomendava: - "Eu só digo uma vez, manga com cachaça mata." A Revista seria muito pequena contar tudo sobre o saudoso Grande Benemérito do Botafogo. É preciso um livro.
Duas vezes foi ferido no seu amor botafoguense, mudou de ares. Numa foi campeão de remo pelo Guanabara; noutra, ajudou o Canto do Rio a armar um bom time, nos anos 40, cujo destaque era o meia-esquerda Perácio, ex-botafoguense. No primeiro jogo contra no Botafogo, o Canto do Rio venceu por 6 a 3 e Perácio marcou três gols. "Tenho que voltar para lá (referia-se ao Botafogo) para mostrar que meu sangue é bom” - afirmou a amigos sem demonstrar a mínima euforia pela, vitória sobre o seu clube, inteiramente abatido e consternado.
E ainda tem muito mais na vida de Carlito. Árbitro de futebol da Liga Metropolitana, de saudosa memória, de honestidade ilibada, quando apitava partidas não distinguia litigantes, a ponto de não contentar adeptos do Botafogo que entendiam erradamente, que, para, ser bom botafoguense é-se obrigado a proteger o clube, em detrimento de uma reputação e um prestígio adquiridos por muitos anos.
Saudosos tempos em que, no Botafogo pontificavam o árbitro Carlos Martins da Rocha, e no Fluminense, o Afonsinho de Castro, considerados na época expoentes das arbitragens. E aqui, nos faz lembrar, com real tristeza, a última arbitragem desse péssimo juiz de futebol que apitou o jogo do Botafogo no Morumbi, cujo nome nos recusamos a publicar aqui.
Ele era mesmo juiz?
Convém notar que as paixões no passado perturbavam os torcedores muito mais que hoje, e o pavilhão dos Clubes era, respeitado como um corifeu, somente cedendo lugar à bandeira nacional. Carlito expungia-se dessa flama o da paixão que conturbava todos e serenamente cumpria o seu dever, em que pese, como já foi dito, os "fogaréus que incendiavam seu cérebro botafoguense”.
Sua vida desportiva, como já frisamos, não cabe evidentemente num simples registro. Mas ao Carlito, um "homem do Botafogo” sobrava ainda tempo para ocupar cargos em entidades.
Foi o homem que salvou a CBD, empenhando-se em memorável campanha “pela, sobrevivência da entidade “mater”, mantendo mercê de seu trabalho junto a seus amigos desportistas estrangeiros, as filiações internacionais, concorrendo decisivamente para que a CBD, egressa de uma dura campanha, surgisse vitoriosa da crise, retendo até hoje a hegemonia dos desportos praticados no Brasil.
Foi presidente da decana das federações brasileiras – a Federação Metropolitana de Remo, que conseguiu reerguer de uma crise em que agonizava o seu prestígio.
Foi benemérito de entidades e sua vida de desportista sempre foi pontilhada de assinalados serviços prestados ao Botafogo, clube onde se fez homem, dentro de um clima de lealdade e abnegação. "Pelo Botafogo, sem desfalecimentos, deu de coração tudo que pôde”.
Ao Botafogo dedicou sua mocidade, saúde, situação financeira. Seu nome e seus feitos ficarão inscritos na história do Botafogo com letras de ouro, sua biografia repetimos mais uma vez, não cabe neste simples resumo que tem um precípuo objetivo: fazer que os moços de hoje e de amanhã do Botafogo conheçam "um homem do Botafogo". E um simples registro da sua vida coIhida apressadamente.
É ele o próprio Botafogo no seu passado, como um exemplo de desportista que dignifica e eleva. É uma legenda do Botafogo. E um símbolo a ser respeitado.
Ao Cemitério de São João Batista compareceram figuras de prestígio do Botafogo, de ex-presidentes ex-jogadores e funcionários. Por determinação do presidente Charles Borer, que estava viajando, o Botafogo decretou luto oficial por três dias e todos os vice-presidentes e dirigentes estiveram no enterro e atletas uniformizados com as cores do clube. O caixão levou a nossa bandeira que ele tanto amou. Antes da partida contra o Mixto, em Marechal Hermes, o Botafogo pediu a todos um minuto de silêncio, o que ocorreu com o maior respeito e carinho.
Na antiga sede de Wenceslau Braz, realizou-se uma missa de sétimo dia por alma de Carlito Rocha e também de Ney Palmeiro e Salim Simão, outros dois grandes botafoguenses falecidos semanas antes. Nos jardins da antiga sede ainda está de pé a Capelinha inaugurada em 12 de agosto de 1964, onde Carlito Rocha costumava rezar pelo bem do Botafogo.
Acervo particular Angelo Antonio SeraphiniFonte: Boletim do Botafogo no de maio de 1961
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
Os homens do Botafogo
Carlos Martins da Rocha, o popular Carlito, é o nosso retratado de hoje. Botafogo e Carlito se confundem. Não se fala em Botafogo que não se recorde a vida de Carlito, ligado ao Clube desde sua meninice. No Botafogo Carlito, pràticamente, ocupou todos os cargos, dado seu feitio prestativo e absorvente. Ainda menino, praticou o futebol disputando entre os infantis e juvenis ao tempo em que êstes últimos tinham um limite de idade bem menor de 20 anos. Ascendeu ao time principal e brilhou intensamente, como excelente centro-médio, acumulando vitórias que fizeram, nos primórdios do século, o Botafogo admirado e distinguido entre seus co-irmãos. Integrou selecionados cariocas e brasileiros. É um dos botafoguenses mais apaixonados e dedicados que o Botafogo já possuiu. Do atleta dos mais brilhantes e eficientes, surgiu o dirigente. Destacou-se como presidente e diretor de futebol, somando em seu acervo de vitórias, o sensacional campeonato carioca de 1948, feito épico que granjeou para o clube uma projeção sem par. Carlito - o Grande Benemérito do Botafogo é profundo conhecedor do "Soccer" dando "aulas de futebol", de vez que, além de ter praticado magnificamente o bretão, como era conhecido naquela época, sempre fiei um pesquizador dos seus segredos, possuindo seleta biblioteca de autores inglêses, que cita com riqueza de detalhes, espargindo ensinamentos, dono que é de uma admirável memória. Foi eclético como atleta perfeito, cuja característica principal era a lealdade dos homens de caráter bem formado.
Foi jogador de futebol dos melhores, bem como remador campeão dos campeões, em clube especializado, já que o Botafogo ainda não mantinha seção de remo.
Árbitro de futebol da Liga Metropolitana, de saudosa memória, de honestidade ilibada, quando arbitrava partidas não distinguia litigantes, a ponto de não contentar adeptos do Botafogo que entendiam erradamente, que, para ser bom botafoguense é-se obrigado a proteger o clube, em detrimento de urna reputação e um prestígio adquiridos por muitos anos.
Saudosos tempos em que, no Botafogo pontificavam o árbitro Carlos Martins da Rocha e no Fluminense F. C. o Afonsinho de Castro, considerados expoentes das arbitragens!
Convém notar que as paixões perturbavam os torcedores muito mais que hoje, e o pavilhão dos clubes era respeitado como um corifeu, somente cedendo lugar à bandeira nacional. Carlito ex-pungia-se dessa flama e da paixão que conturbava todos e serenamente cumpria o seu dever, em que pese os fogaréus que incendiavam seu cérebro botafoguense. Sua vida desportiva não cabe evidentemente num simples registro. Mas a Carlito, um homem do Botafogo sobrava tempo para ocupar cargos em entidades.
Foi o homem que salvou a C.B.D., empenhado-se em memorável campanha pela sobrevivência da entidade "mater", mantendo, mercê de seu trabalho junto a seus amigos desportistas estrangeiros, as filiações internacionais, concorrendo decisivamente para que a C.B.D., egressa de urna dura campanha, surgisse vitoriosa da crise, retendo até hoje a hegemonia dos desportos praticados no Brasil.
Foi presidente da decana das federações brasileiras - a Federação Metropolitana de Remo, que conseguiu reerguer de uma crise em que agonizava o seu prestígio. É benemérito de entidades e sua vida de desportista, pontilhada de assinalados serviços prestados ao Botafogo, clube onde se fez homem, dentro de um clima de lealdade e abnegação.
Pelo Botafogo, sem desfalecimentos, deu de coração tudo que pôde. Ao Botafogo dedicou sua mocidade, saúde, situação financeira. Seu nome e seus feitos estão inscritos na história do Botafogo com letras de ouro. Sua biografia desportiva, repetimos, não cabe neste artigo que tem um precípuo objetivo fazer que os môços do Botafogo conheçam um homem do Botafogo.
Encanecido, enfermo, Carlito, contudo ainda não perdeu sua flama de lutador espartano e vibra como um jovem pelos feitos do Botafogo, comparecendo quando a saúde permite, as pugnas desportivas. É uma figura ímpar no cenário desportivo da cidade e da pais.
É êle botafoguense dos que mais o sejam.
É êle o próprio Botafogo no seu passado, no seu presente e o será no futuro, como exemplo que é de desportista que dignifica e eleva.
É finalmente um lídimo "Homem do Botafogo".
Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Boletim Oficial do BFR nº 200 de julho de 1963
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
ASSIM FALOU CARLITO ROCHA NA PRESIDENCIA
Ainda com relação à morte de Carlito Rocha, e a título de curiosidade histórica, publicamos, para conhecimento da nova geração botafoguense, o seu discurso na memorável noite de sua posse na presidência do clube, em 1948. É bom que todos leiam com a devida atenção as suas palavras, dignas de serem seguidas até hoje, dada a sua grande vivência de administração de clube. As observações feitas naquela época estão bem atualizadas, segundo vejamos;
Senhores Conselheiros,
Quando fui honrado por numerosos e ilustres consócios, membros deste Conselho, em duas reuniões sucessivas, com a indicação do meu nome para a presidência do nosso Clube no futuro exercício, declarei que sentia estar acima das minhas forças esse grande, honroso e difícil encargo que é presidir e levar a bom termo o nosso glorioso Botafogo. A minha saúde, um tanto precária no momento, e os meus afazeres, não permitiriam o desempenho dessa honrosa missão a meu contento, nem como exigem os interesses do Botafogo. Diante, porém, da insistência e de razões apresentadas por aqueles consórcios conselheiros e meus amigos, acedi em reconsiderar a decisão de recusa, diante a promessa que ali se fez de uma colaboração íntima e constante dos conselheiros do Clube com a nova administração, sob minha Presidência. O Conselho Deliberativo, nesta Assembléia plenária, homologará ou não a decisão tomada naquelas reuniões preliminares mas antes desejamos apresentar, ao Conselho, como já fizemos nas referidas reuniões, as minhas idéias sobre .a orientação que seguiremos na direção do nosso Clube. Evidentemente a administração de um grande Clube, hoje em dia, não é fácil. Os seus problemas e dificuldades, acrescidos dos mais variados pontos de vista dos associados, tornam complexa e delicada a sua administração. É imprescindível, portanto, uma colaboração ativa dos corpos dirigentes para que possam ser vencidas todas as dificuldades e solucionadas todas as questões, com elevação e critério. Um Clube das tradições do nosso tem o dever iniludível de promover, a prática de todos os desportos, principalmente aqueles que deram motivo a sua fundação. Os associados que amam verdadeiramente o Clube teem por dever, prestar o seu decidido apoio e estimular os corpos dirigentes na organização e manutenção dos melhores desportos praticados por amadores. O futebol profissional é indiscutivelmente o que maior entusiasmo e interesse desperta no público e entre os associados, é o gerador de grandes paixões, por vezes excessivas, e, por isso mesmo, o que obriga a vultosíssimas despesas com a conquista de grandes jogadores, tornando-se assim o que mais atenta contra a economia dos clubes. É preciso, portanto, que todos pensemos com a maior serenidade antes de engajarmos o nosso Clube em compromissos que lhe poderão ser, não direi fatais, mas comprometedores por enormes somas despendidas. Sobre este ponto peço licença ao ilustre Conselho para ler aqui as judiciosas palavras da Diretoria do Club Atlético San Lourenzo de Almagro, de Buenos Aires, no seu relatório apresentado aos associados no ano de 1933, ano em que levantou brilhantemente o campeonato:
"O prazer que causa a vitória e o desejo de ver triunfante suas cores, absorve toda a atenção e chega a obscurecer a visão da entidade. Há pessoas que creem que a inversão de somas fantásticas em bons jogadores resolve a situação de imediato. Há também as que pensam que a satisfação do momento está acima de tudo, mesmo que signifique o desequilíbrio por onde se desmorone a instituição. Perde-se a noção do ente social para subordiná-la a o regosijo do momento. Tão intimamente relacionados estão os problemas econômicos com os do futebol profissional, que não é possível sob pena de ocasionar graves prejuízos, resolver uma parte, sem ter em conta a outra. Fácil é opinar que se deve contratar novos elementos. Como também resulta compilo dispôr dos dinheiros do Clube. Porém bastaria meditar com serenidade um Instante, para compreender, que o que se pode inverter em melhorar uma equipe deve estar em relação direta com o que a mesma produz. Toda administração tem pois a obrigação de contemplar essa situação e colocá-la em seu verdadeiro terreno, a fim de que, ao prestar contas de seu exercício acuse um aumento progressivo do capital social; deverá, em uma palavra, fazer como na vida privada, onde o indivíduo que se preza, regula seus gastos com o que percebe guardando um pouco que lhe permita, no futuro, desenvolver sua vida com maior tranquilidade e segurança". Enquanto não se resolver explorar comercialmente o futebol espetáculo, como na Inglaterra, com firmas para tal fim adrede constituídas. Os clubes que quizerem progredir e cumprir seus gloriosos destinos terão que viver rigorosamente dentro da sua receita o que pretendemos cumprir, por ser essa a base de toda a prosperidade e independência de qualquer sociedade. O equilíbrio orçamentário será, pois, o nosso maior objetivo. Incentivaremos grandemente as reuniões sociais e culturais indo ao encontro dos desejos dos associados. Ouviremos, acataremos e defenderemos os direitos dos sócios mas esperando que, por sua parte, cumpram todos, com calor as obrigações contraidas para com o Clube e colaborem no sentido do engrandecimento do nosso querido Botafogo, fazendo assim, com que ele se torne cada dia mais respeitado e admirado. Seguindo a brilhante orientação do nosso Grande Benemérito e querido presidente Dr. Adhemar Bebiano, nos esforçaremos por manter a melhor amizade e harmonia no seio da família botafoguense. Na ordem externa o Botafogo seguirá, empenhadamente, a sua tradição de amizade, respeito e absoluta correção para com os clubes co-Irmãos e Federações a que está filiado. O Botafogo estará, sempre pronto, no que lhe tocar, a concorrer para o fortalecimento e grandeza dos demais clubes e das entidades que os reúne, pois, é sua aspiração ser sempre forte entre os fortes. Pelo julgamento que os nossos atos e decisões merecerão da judiciosa e abnegada crônica escrita e falada, grangearemos estamos certos, para o BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS, os aplausos e a estima do povo brasileiro.
Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Boletim Oficial do BFR nº 240 de maio de 1981
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
CÍDIO DA SILVEIRA CARNEIRO
FORA DA REALIDADE
Seria interessante que o nosso futebol, a exemplo do que fez no passado, continuasse na sua origem, ou seja, nos clubes, a contribuir financeiramente para o progresso dos demais desportos ainda sem vida própria.
Não queremos, entretanto, chegar a esta perfeição que, alias poderá ser alcançada. Ficaríamos satisfeitos se o futebol conseguisse se bastar e, conseqüentemente, não onerar a receita das agremiações que o praticam.
Mas o futebol está, de fato, fora da realidade, desde os clubes até o poder público. Precisa ele, antes de qualquer outra providência, de planejamento, o que vale a dizer: calendário, receita e despesa, reestruturação dos preços dos espetáculos. etc.
Não é admissível - no nosso entender, é claro - que qualquer campeonato regional termine em fevereiro ou em março e que tenha o seu ponto culminante em dezembro e janeiro, meses em que, por todo o nosso Brasil, faz muito calor, enquanto que nos de maio e junho, principalmente nesta Capital, ficam vazios os estádios.
Por outro lado, quando o campeonato se inicia, vemos as primeiras rodadas mais ou menos frias para, de repente, começarem a surgir os clássicos, dois a dois ou três a três.
Ademais, os altíssimos ordenados pagos pelos clubes aos seus profissionais estão a exigir que o “circo” funcione ininterruptamente, prejudicando, inclusive, as férias dos atletas, necessárias principalmente no futebol, férias essas que, ao que parece, são convertidas em dinheiro, em flagrante desrespeito às leis e em detrimento à própria carreira do jogador.
Realmente, não é possível que um individuo jogue futebol de 1º de janeiro a 31 de dezembro, sujeito, ainda, a concentrações e exercícios físicos. O cansaço mais perigoso não é o físico: é o da bola. Futebol é um desporto e, como tal, é preciso que o jogador tenha prazer em pratica-lo. Se acabar essa satisfação, acabará também, o jogador.
Por isso, quando chegam aos 30 anos - ocasião em que estão cheios de experiência, inclusive internacional – são considerados em declínio, incapazes de
continuar na carreira. E não nos admiraremos se aos 40 estiverem de fato incapazes para qualquer modalidade de profissão, pois o coração é órgão que tem também um regulamento rigorosamente obedecido.
Somos de opinião que o futebol deveria ser proibido, em todo o território nacional, no período de 1º de dezembro a 31 de janeiro, para férias dos jogadores, reformas de gramados, etc. É verdade que a Lei não exige dois meses de férias. Temos, porém, de convir que o profissional de futebol, após campeonatos árduos, com jogos emocionantes, exercícios físicos diários e treinos de conjunto duas vezes na semana, precisa indiscutivelmente de mais tempo de descanso.
De fevereiro a novembro são 303 dias, inclusive 3 feriados, alguns meios-feriados, 43 sábados e 43 domingos, o que representa muito tempo para se realizar o máximo. Basta planejar.
Por outro lado os preços dos ingressos às competições está estacionado, enquanto sobe vertiginosamente o do espetáculo, com os aumentos dos jogadores, do material desportivo, das conduções... de tudo. E a prova estas arrecadações de 2.600, 4.000, 12.000 e tantos cruzeiros, em partidas oficiais. Positivamente, isto não é profissionalismo.
Não é porque sejamos botafoguenses ou por termos sido amigo e admirador do saudoso Nelson Cintra que declaramos ter estado ele de posse da razão quando idealizou a Taça Brasil; é porque se trata, efetivamente, de uma idéia brilhante e rara que, se concretizada, traçará novos rumos ao nosso futebol, incluindo, ainda, a virtude de indicar o quadro campeão brasileiro.
Deveriam os Estados, por sua vez e a exemplo do que fazem os do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, promover seus campeonatos regionais independentemente dos municipais.
Um quadro de plantel médio – 25 jogadores, médico, técnico, massagista, enfermeiro e roupeiro - com folha mensal de Cr$ 300.000,00, não pode jogar por 40 ou 50 mil cruzeiros semanais. Vejamos, calculando por baixo,
quanto custaria. em um ano:
Ordenados (Cr$300.000,00x12)........................ 3.600.000,00
Previdência Social (Instituto, SESC etc)........... 360.000,00
- Inscrições de jogadores (inclusive amadoristas, infanto-juvenis etc.)e mensalidade.............................. 70.000,00
Material desportivo (inclusive medicamentos e lavanderia) ............. 250.000,00
Concentrações................................................... 300.000,00
Conduções......................................................... 50.000,00
Jardineiro e tratador de campo......................... 60.000 00
Gratificações...................................................... 110 . 000,00
TOTAL 4. 800 . 000,00
E evidente que esse quadro deverá render, no mínimo, Cr$ 400.000,00 mensais (por ser quanto custa), para não atuar contra os interesses financeiros do clube e, então, colocar-se absolutamente fora da realidade.
Acervo particular Ângelo Antonio Seraphini
Fonte: Boletim Oficial do BFR nº 116 de julho de 1956
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
Faleceu no dia 18 de agosto último o Grande Benemérito CÍDIO DA SILVEIRA CARNEIRO, prestador de relevantíssimos serviços ao BOTAFOGO. Cídio ocupou diversos cargos importantes no Clube, como a Presidência do Conselho Fiscal e a Vice Presidência do Patrimônio, atuando na diretoria por 20 anos. Recebeu a benemerência em 1963 e o título de Grande Benemérito em 1993. Filho caçula, tinha três irmãos almirantes, estudou no Colégio Militar, participou dos Maragatos (RS).
Foi estivador de cais em Buenos Aires, incorporou-se a legendária Coluna Prestes, foi desenhista e jornalista, nomeado Consul de 3a e desistiu da diplomacia ante o choro da namorada.
Concursado do Banco do Brasil foi transferido para Recife por integrar a Aliança Liberal.
Foi combatente da Revolução de 30 no Recife e combateu também na Revolução Paulista de 32.
A coragem, a determinação e a paixão deste grande e imortal botafoguense será exaltada para sempre no BOTAFOGO.
Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
FONTE: Revista do Botafogo no 253 de 1998
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
CANOR SIMÕES COELHO
No dia 24 de outubro último, faleceu o Grande Benemérito CANOR SIMÕES COELHO.
Atuou por muitos anos no BOTAFOGO, como Chefe de delegação do futebol e como representante do Glorioso em Minas Gerais. Após mudar-se para o Rio, tornou-se representante dos clubes mineiros nessa cidade.
Recebeu a benemerência em 1983 e o título de Grande Benemérito em 1990. Jornalista foi assíduo colaborador da REVISTA DO BOTAFOGO. Grande botafoguense, foi um homem que integrou-se, vibrou e lutou pelo Clube que amou com fervor.
Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
FONTE: Revista do Botafogo no 253 de 1998
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
CAMÉLIA COELHO NAUZ
Faleceu no dia 11 de setembro deste ano a Benemérita CAMELIA COELHO NAUZ. Prestou inúmeros serviços ao BOTAFOGO ao longo da sua vida.
Formava com a irmã SAMAR uma dupla botafoguense ímpar na história do Clube. Foram torcedoras, diretoras, atletas, conselheiras, faziam reuniões na residência da família que, por muitas vezes, serviu de concentração para equipes ele atletas de BOTAFOGO, especialmente do basquetebol feminino. Ultimamente, a doce senhora Camélia integrava o Conselho Deliberativo e era presença certa nas partidas de futebol profissional do BOTAFOGO no Rio. Fica a saudade e a memória de uma paixão que, temos certeza, ultrapassará tempo e dimensões.
Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Revista do Botafogo no 253 de 1998
.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
CARLOS DOBBERT DE CARVALHO LEITE
Em 1939, o grande dirigente Luiz Aranha homenageia o grande artilheiro Carvalho Leite
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
Carlos Carvalho Leite –
1 - Surgiu no football carioca em fins de 1929. Pouco mais era do que um jogador juvenil, mas já se destacava em campo pela sua estatura magnífica e pelas boas qualidades evidenciadas para o associattion. Carvalho Leite viera para o Rio procedente de Petropolis, onde figurava no primeiro team do Petropolitano. Em sua companhia vieram também o seu irmão, Fernando Carvalho Leite que jogava de back, Ariel e Canalli. Todos ingressaram no Botafogo, participando de algumas partidas amistosas em 29, até o campeonato de 1930, quando envergaram, então, officialmente, a camiseta alvinegra. Fernando ficou no segundo team mas Ariel e Cannalli e foram effectivados na esquadra principal.
2 – A carreira do jovem center petropolitano no football da metrópole, foi feliz. Rápidamente Carvalho Leite ganhou fama e conquistou a sympathía da torcida alvi-negra, pela efficieencia do seu jogo e correeção de altitudes.
Commandando o ataque botafoguense Carvalho Leite sagrou-se campeão carioca nos annos de 1930 e 1932 nos campeonatos patrocinados ainda pela antiga A.M.E.A. (Associação Metropolitana de Sports Athleticos). Nessa mesma época. Carvalho Leite conquistou a gloria máxima, ambicionada por todo jogador, figurando no scratch da cidade.
3 - Um dos factores decisivos para o triumpho de Carvalho Leite foi a sua impetuosidade característica de jogo. Uma impetuosidade controlada, inteligente. Disputando as bolas com os zagueiros, com decisão mas sem violência. Seguro cabeceador, no que levava vantagem pela sua estatura, e shootador magnífico. Carvalho Leite bem depressa se tornou um atacante temido pelas defesas adversarias.
Foi assim prestigiado como um jogador de classe que o veiu encontrar a scisão no football carioca em 1933. A implantação do profissionalismo tornou Carvalho Leite uma das figuras mais visadas pelos clubs que haviam aderido ao novo regimen. Annunciou-se mesmo o seu ingresso no Fluminense, mas isso ficou só no anúncio.
4 - Disputando ainda o campeonato da A. M. E. A. em 33 e 34 emquanto os outros clubs haviam fundado a Liga Carioca, o Botafogo teve dificuldades em tornar-se campeão. E assim Carvalho Leite conseguiu mais dos títulos de gloria. Em 1934 a C. B. D. arregimentou jogadores para enviar um scratch brasileiro ao campeonato do mundo em Roma.
5 - Em 1935 verificou-se nova scisão no football carioca. O Vasco, o São Christovão e o Bangú deixaram a Liga Carioca e uniram-se novamente ao Botafogo. Foi então extinta a A. M. E. A, surgindo em seu logar a Federação Metropolitana de Desportes (F.M.D.). Carvalho Leite firme no Botafogo sustentava a sua posição nos scratches das entidades a que pertencia o seu club.
6 - Houve uma época em que Carvalho Leite esteve ameaçado de se afastar do football. Excurcionando com o Botafogo ao Rio Grande do Sul ele, Russinho e Rodrigues foram victimados por uma epidemia pneumônica que grassava no Estado sulino.
7- Quando se formou o scratch brasileiro para a disputa do campeonato sul-americano de 1936 que aliás teve seus jogos disputados em janeiro de 1937 o nome de Carvalho Leite foi um dos primeiros a ser mencionado.
8 - Feita a pacificação do football carioca em 1937 a nova entidade então surgida, Liga de Football do Rio de Janeiro veiu encontrar Carvalho Leite firme no seu posto no Botafogo. O player petropolitano, já então veterano, resistia á acção do tempo. As entidades esphacelavam-se mas o comandante alvi-negro permanecia a postos, na linha dianteira do seu club. Apenas não mais actuava exclusivamente no centro. A meia direita o tinha por occupante em temporadas diversas. Foi actuando na meia direita que Carvalho Leite, foi chamado a occupar o centro do ataque do scratch carioca para o campeonato brasileiro de 1938 mas cujos jogos finaes foram disputados no principio de 1939. A inclusão de Carvalho Leite no seleccionado foi, aliás resolvida á ultima hora e em condições excepcionaes. No dia do encerramento das inscripções o scraten dava o seu ultimo treino e Oséas já estava com o seu nome na relação enviada a Federação Brasileira. Mas Carvalho Leite treinou de tal forma naquelle dia superando amplamente o “colored” do Madureira que o technico da selecção resolveu incluir o veterano player no logar de Oséas. E felicidade dessa substituição evidenciou-se nos jogos finalissimos disputados em São Paulo, onde a experiência de Carvalho Leite collaborou decisivamente para a conquista do mais inesperado triumpho dos cariocas no campeonata brasileiro.
9 - O desempenho brilhante de Carvalho Leite nas "finalíssimas” Rio x São Paulo foi como o toque de resurgir do veterano "crack” botafoguense. E Carvalho Leite iniciou assim o campeonato de 1939 em forma esplendente. Jogador cerebral por excellencía, o antigo center-forward, agora na meia direita reviveu também os seus méritos de "artilheiro". Em oito jogos Carvalho Leite conquistou onze goals. E conseguiu, destarte chegar ao final do primeiro turno do campeonato de 39 como "leader" dos goals. Ao completar o seu deccenio de serviço activo no football carioca Carvalho Leite evidencia-se um elemento de pri meira qualidade para o seu club tal como o fora no inicio da sua carreira. Dez annos não conseguiram quebrar' a resistencia e a classe desse player de fibra que constitue uma das mais legitimas glorias do football brasileiro. Actualmente mais do que nunca Carvalho Leite se sente fortalecido. O veterano botafoguense é um adepto fervoroso dos
methodos de treinamento de Kruschner, o preparador húngaro, que em 37 collocou o team do Flamengo numa forma physica excepcional, esta fazendo o mesmo com o quadro alvi-negro, e Carvalho Leite accentua as melhoras nitidas que todo o team vem apresentando em matéria de resistência. Poderia mesmo jogar duas partidas seguidas sem pregar. Uma contusão forte, afastou Carvalho Leite do team e dos treinos por alguns dias. Mas o antigo "crack"' já se encontra disposto para reapparecer. Technico e impetuoso em 39 como surgira em 29. Os dez annos decorridos deram todavia a Carvalho Leite aquillo que só mesmo a experiência dos anos ensina: a classe verdadeira.
Fonte: Jornal O Globo nº 46 de 08 de julho de 1939
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
Carlos Antônio Dobbert de Carvalho Leite, mais conhecido por Carvalho Leite, (Niterói, 26 de maio de 1912 — Rio de Janeiro, 19 de julho de 2004), foi um futebolista brasileiro que atuava como Atacante.
Carvalho Leite foi um exímio atacante. É até hoje o segundo maior artilheiro da história do Botafogo. Foi um dos grandes expoentes do Futebol Brasileiro durante a década de 30. Durante os doze anos de sua carreira, atuou somente pelo Botafogo de Futebol e Regatas. Tinha presença de área marcante. De todos os títulos cariocas conquistados pelo Botafogo, cinco tiveram a participação de Carvalho Leite. A simples lembrança das conquistas de 1930, 1932, 1933, 1934 e 1935, quando o Botafogo conquistou o Tetracampeonato Carioca (único na história do campeonato) e também dos Torneios Início de 1934 e 1938, mostra a importância do ídolo Botafoguense.
No Campeonato Carioca de 1930, aos 18 anos, foi o jogador que mais atuou na campanha do título carioca (vinte vezes), transformando-se no artilheiro da equipe, com 14 gols. Tornou-se, durante anos o maior artilheiro do Botafogo. Fez 273 gols em 326 jogos com a camisa alvinegra e só foi superado vários anos depois de abandonar os campos por Quarentinha, que marcou 313 gols pelo clube. Foi o artilheiro máximo do Campeonato Estadual por três oportunidades, em 1936, 1938 e 1939!
Também brilhou pela Seleção Brasileira de Futebol marcando 15 gols em 25 jogos, além de ter disputado as Copas do Mundo de 1930 e 1934. À época de sua morte, era o último jogador do Brasil em ambos os mundiais que ainda estava vivo.
Carvalho Leite teve sua carreira interrompida rapidamente. Sofreu uma contusão, em maio de 1941 contra o Bonsucesso. Em janeiro de 1942, na Bahia, fez sua despedida do Botafogo.
Na década de 1940, após o término de sua carreira Carvalho Leite continuou dedicando sua vida ao clube de General Severiano, tornando-se médico do Botafogo; além de ter sido também o técnico do Clube por quatro oportunidades.
Títulos
Botafogo
Torneio Interestadual de 1931
Campeonato Carioca: 1930, 1932, 1933, 1934 e 1935
Fonte: wikipedia
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
Carlos Dobbert de Carvalho Leite, ex-centroavante do Botafogo na década de 30, de estilo trombador e com boa faro de gol, morreu em julho de 2004, aos 92 anos. Nascido em berço de ouro, o carioca começou a carreira no Metropolitano de Petrópolis, e chegou ao time da Estrela Solitária em 1929.
Segundo maior artilheiro da história do Fogão, com 275 tentos anotados em 325 jogos disputados, Carvalho Leite disputou as Copas do Mundo de 1930 (Uruguai) e 1934 (Itália). Marcou 25 vezes em quinze partidas pelo Brasil.
Nascido em 25 de junho de 1912, o goleador jamais atuou por outra equipe, assim como o também botafoguense Nílton Santos. Encerrou a carreira prematuramente aos 29 anos, lesionado. Tornou-se médico e dedicou sua vida profissional durante 50 anos ao Botafogo.
O centroavante foi artilheiro do Campeonato Carioca em 1936 (16 gols), 1938 (16 gols), e 1939 (22 gols), tendo conquistado o torneio regional em 30, 32, 33, 34 e 35.
Fonte: "O Estado de São Paulo" e "Revista Placar"
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-O par mais feliz. O romance entre a mais bella e o crack constitue uma das páginas interessantes do noticiário sportivo. Carvalho Leile e Vania Pinto formam um par feliz, que os "fans" apreciam e invejam.
Fonte: Jornal O Globo nº 126 de 17 de janeiro de 1941
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
CARVALHO LEITE, TÉCNICO E MÉDICO
Carlos de Carvalho Leite, a antiga maravilha da serra, o terrível dianteiro que de 1930 a 1941 foi o terror do ataque botafoguense, é o novo técnico de nossos cedros de futebol e, também, o nosso chefe de nosso departamento médico.
“Jornal dos Sports” assim noticiou tão sensacional evento: Resolveu ontem o Botafogo a questão do técnico e médico do clube. Depois de entendimentos entre elementos ligados ao alvi-negro e os técnicos Oto Gloria e Bengala, o presidente Carlito Rocha encontrou outra solução e que foi por êle reputada como ideal, já que “aproveitado um elemento antigo do clube, onde possue sólidas relações de amizade e interesse pessoal.
CARVALHO LEITE NOVAMENTE EM FOCO
Carvalho Leite, o atacante que durante tantos anos defendeu com brilhantismo as cores de General Severiano, depois que “pendurou as shooteiras" ficou afastado das lides, retornando anos mais tarde como professor do Colégio de Arbitros. E quando deixou esta função, tambem voltou a se afastar das lides desportivas, limitando-se, como qualquer torcedor, a comparecer aos campos para ver em ação as principais equipes cariocas. Mas, agora, atendendo ao convite Carlito Rocha, Carvalho Leite voltará prestar serviço ao Botafogo, seu único no football carioca, pois vindo jovem do Petropolitano nunca mudou de camisa. O detalhe mais interessante deste convite a Carvalho Leite e que foi aceito, é que caberá a êle dirigir dois Departamentos. Sim, porque alem da responsabilidade de técnico, o veterano player será também o médico Departamento de Profissionais. Tudo já está resolvido entre as partes e o novo tecnico e médico do Botafogo assumirá suas funções dentro em pouco, dirigindo o quadro já na temporada à América Central.
Acervo particular Alceu Oliveira Castro Jungsted
Fonte: Boletim Oficial do BFR nº 91 de abril de 1950
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
Craques Eternos
CARVALHO LEITE: O GOLEADOR ELEGANTÍSSIMO
Por Ricardo Linhares
Ele ainda é o maior artilheiro do BOTAFOGO na história de todos os campeonatos estaduais. Foi um dos dois únicos jogadores alvinegros, ao lado de Nilo Murtinho Braga, a participar da campanha de todos os títulos que culminaram no único tetracampeonato do futebol do Rio de Janeiro. Disputou doze campeonatos estaduais pelo Glorioso, sendo por nove vezes seu artilheiro-mor e em cinco goleador máximo da competição. Caso isso não bastasse, participou de duas Copas do Mundo e fez com a camisa da Seleção Brasileira 25 gols em 15 jogos. Por tudo isso, Carlos Antônio Dobbert de Carvalho Leite é considerado por muitos como o primeiro grande ídolo da imensa galeria de craques alvinegros de todos os tempos. Aos 83 anos, médico do BOTAFOGO há mais de 50 anos e morando há muito em Copacabana, ele fala com carinho e saudade de um Rio de Janeiro e de um futebol que já não mais existem. Recorda do começo da carreira em Petrópolis, quando jogava pela Liga de Interior, no modesto Petropolitano. Lá, já demonstrava seus dotes de grande artilheiro e, após integrar a Seleção do Estado do Rio, ao lado de outros futuros jogadores alvinegros como Ariei, Canalli e Afonsinho, foi trazido para General Severiano pelas mãos de Homero Frederico, seu amigo e, como não poderia deixar de ser, um apaixonado pelas cores do BOTAFOGO. Corria o ano de 1929, e Leite já começava a se destacar nos treinos e amistosos, porém sem que ainda pudesse jogar oficialmente pelo novo clube, já que o regulamento da época exigia que, após a transferência de uma Liga para a outra, o jogador tivesse que cumprir o estágio de um ano na nova entidade.
Assim, o primeiro campeonato que disputou foi o de 1930. O BOTAFOGO vinha de um jejum de 18 anos sem títulos cariocas e o time aliou a experiência de veteranos como Nilo, Otacilio, Pamplona e Ariza, com o jovem talento de Germano, Martim Silveira, Paulinho Goulart e, principalmente dele, Carvalho Leite. Dessa forma, foi formada a base para um grande time que conquistaria, não só o título desse mesmo ano, como também os de 32, 33, 34 e 35. O artilheiro da conquista de 1930? Lógico! Ele, com 14 gois.
Ainda no mesmo ano, tornou-se titular logo na primeira Copa do Mundo da qual participou. Porém, a sorte não ajudou no Uruguai. Uma luxação no braço direito o tirou da partida de estréia do Brasil contra a Iugoslávia. Com a derrota neste jogo, a equipe brasileira iria cumprir tabela no jogo seguinte contra a Bolívia. Um jogo qualquer para muitos, mas não para Carvalho Leite, que queria sentir o gostinho de vestir pela primeira vez a camisa da Seleção. Mostrando fibra, ele optou por tirar o gesso do próprio braço, participando da vitória brasileira por 4x0. Apesar de não ter feito gols, foi muito elogiado pela imprensa uruguaia por ter sido o autor dos passes precisos que resu-taram em dois dos gols brasileiros. Isso tudo, apesar das dores que o atormentaram ao decorrer da partida.
Era época do amadorismo, de jogar por amor à camisa. Época também de um Rio de Janeiro maravilhoso, de praias despoluídas e Cassinos; do culto à elegância para frequentar, desde as noites da Zona Sul, até os matches de football. Carvalho Leite fazia sucesso com as mulheres. Sua presença marcante era reconhecida até mesmo pelos cronistas da época, que o apelidaram de "o goleador elegantíssimo", e sua classe dentro das canchas o levava a fazer sucesso também fora delas.
Em 1931, foi emprestado ao Vasco, juntamente com Nilo e Benedito, para uma excursão à Europa. De volta ao Botafogo, nem mesmo os 13 gols que o fizeram artilheiro do campeonato foram suficientes para dar o bicampeonato carioca ao Glorioso.
Neste mesmo ano, até a realeza sucumbiu ao brilhantismo do goleador alvinegro. Num amistoso entre Rio e São Paulo, vencido pelos cariocas por 6x1, no qual Carvalho Leite deu passes milimétricos fez cinco gols espetaculares, o príncipe de Gales, que aproveitara sua visita à Cidade Maravilhosa para assistir ao jogo nas Laranjeiras, fez questão de ir ao vestiário cumprimentá-lo. Ao lembrar desse fato, Leite não esconde seu orgulho pelo reconhecimento real ao seu nobre futebol.
Os quatro anos seguintes seriam de puro festejo e alegria para o BOTAFOGO. E para Carvalho Leite não poderia ser diferente: tetracampeão carioca, artilheiro alvinegro em 1932, com 20 gols, e máximo do campeonato de 1935, com 16 gols. Segundo suas próprias palavras, o time se entendia às mil maravilhas, tanto dentro quanto fora dos gramados. Afinal, "o time era uma seleção e tinha amizade e o respeito do Presidente Paulo Azeredo e do melhor dirigente e técnico que eu tive conhecimento na minha vida; Carlito Rocha.", afirmou categoricamente.
Somente a Copa do Mundo de 1934, na Itália, não lhe traz boas recordações desse período. O Brasil jogou apenas uma partida eliminatória contra a Espanha, em Gênova, perdendo por 3x1. Carvalho Leite ficou na reserva de Armandinho, com quem se revezava no ataque da Seleção. Após a Copa, excursionou pela Europa e tomou de vez a posição de Armandinho. Só que aí já era tarde demais: o sonho de se tornar campeão do mundo havia terminado. Restou o consolo de ter jogado ao lado dos dois maiores jogadores que viu naqueles tempos; Waldemar de Brito e Leônidas. Já em termos de Botafogo, Leite apontou Canalli e Patesko, seus companheiros também de seleção, como os melhores jogadores com os quais teve o prazer de jogar.
De 1936 a 1940, o BOTAFOGO não conquistou mais títulos cariocas, mas Carvalho Leite afirmou cada vez mais sua condição de goleador, sendo o artilheiro do Glorioso nesses seis anos consecutivos. Conquistou, também, a artilharia máxima dos campeonatos do Rio em 1936, 38 e 39, com 15, 16 (empatado com Leônidas, da Flamengo) e 22 gols, respectivamente. Em 1940, seu último ano jogando uma temporada inteira pelo BOTAFOGO, Carvalho Leite se contundiu no decorrer do campeonato, mas, mesmo assim, seus 10 gols foram suficientes para torná-lo um dos artilheiros do time na competição, ao lado da Pascoal e Patesko.
Em maio de 1941, ao machucar-se gravemente no primeiro tempo de um jogo contra o Bonsucesso, Carvalho Leite retirou-se dos gramados, fazendo com que uma grande lacuna fosse aberta. Esta, foi prontamente preenchida por um jovem rebelde que aprendeu muita coisa ao seu lado. Jovem este que, como ele, chutava com os dois pés, cabeceava de forma certeira, era vaidoso e fazia tanto sucesso com as mulheres quanto o já doutor do BOTAFOGO. Seu nome: Heleno de Freitas. Mais uma página de amor e glória do maravilhoso livro de recordações do Glorioso.
Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Revista Oficial do BFR nº 248 de 1995
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
CARVALHO LEITE: O PRIMEIRO GRANDE GOLEADOR D0 GLORIOSO
Oitenta e seis anos de idade, 68 de clube. Carlos Antonio Dobbert de Carvalho Leite é uma das glórias do Botafogo. Unico tetracampeão Estadual (32/33/34/35), é o segundo principal artilheiro da história do clube. Marcou 275 gols em 344 jogos.
“O Botafogo representa tudo para mim. Afinal, eu só joguei no Botafogo e me orgulho muito disso. Ainda mais por ter ajudado a acabar com um jejum de 20 anos sem titulos, que se arrastava desde 1910".
Mesmo depois de abandonar o futebol, Carvalho Leite continuou ligado ao Botafogo. Foi médico do clube durante muitos anos.
Carvalho Leite nasceu em Petrópolis, em 1912. Jogou no Botafogo entre 1928 e 1941, quando abandonou o futebol em razão de uma contusão. Venceu cinco estaduais (30, 32/33/34 e 35) e integrou a Seleção Brasileira nas Copas de 30 e 34.
Na primeira Copa do Mundo, em 30, no Uruguai, Carvalho Leite viajou com uma tala no braço que havia Iesionado. Na vespera da viagem para Montevidéu, sofreu torção na altura do punho esquerdo, quando treinava no campo das Laranjeiras. Ao chegar a capital uruguaia, a primeira providência foi tirar o incômodo gesso para poder jogar.
0 problema no braço o impediu de atuar na estréia, na qual a Seleção perdeu de 2 a 1 para a Iugoslávia.
“Foi uma grande frustração não ter enfrentado a Iugoslávia", confessa Carvalho Leite, que jogou contra a Bolivia, no Estádio Centenário. O Brasil venceu por 4 a 0, mas o atacante do Botafogo não fez gol.
Também esteve na Copa da Itália, em 34. Participou da derrota de 3 a 1 para a Espanha. Começou a partida e foi substituido no segundo tempo por Armandinho.
Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Jornal dos Sports dezembro de 1998
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
CARLOS ROBERTO
O susto de um primeiro tempo em que não conseguiu jogar o futebol que vinha apresentando ao longo do turno durou tão somente os 45 minutos iniciais. O time com Max, Ruy, Scheidt, Asprilla, Bill, Thiago Xavier, Diguinho, Lúcio Flávio, Zé Roberto, Marcelinho e Dodô que enfrentava dificuldades para sair jogando, assistia o adversário tocar a bola e terminava o primeiro tempo em desvantagem no placar, após levar um gol aos 16 minutos, ficou no vestiário. Foi outra a equipe que retornou ao campo após o intervalo. O técnico Carlos Roberto fez uma única alteração mas o que de fato mudou foi o espírito de cada um. Com as falhas corrigidas, o Botafogo do segundo tempo tinha um só objetivo: vencer.
O Botafogo entrou em campo com apenas uma modificação em relação ao time titular que vinha jogando: o zagueiro Asprilla substituiu Rafael Marques, que cumpria suspensão pela expulsão contra o Madureira e que ao lado de Scheidt compôs a terceira zaga menos vazada do Campeonato Brasileiro. O jogo começou truncado, com muita marcação, mas aos poucos o América foi ganhando espaço e com um chute cruzado de Maciel abriu o placar. A festa foi da pequena torcida americana. A massa alvinegra calada aguardava uma reação da equipe.
O time sumiu no túnel que levava ao vestiário, a torcida respirou fundo e se preparou para assumir seu papel. O atacante Reinaldo voltou no lugar de Marcelinho. Desde que pisou no gramado a equipe se comportou de forma diferente. Organizada, determinada e empurrada pela torcida partiu para cima do América até que na cabeça do capitão Scheidt, escorando escanteio cobrado por Lúcio Flávio, empatou a partida, aos 13 minutos. Era outro Botafogo. Era aquele Botafogo, o das vitórias, das decisões, das conquistas. Reinaldo dava mais mobilidade ao ataque, Ruy atuava no sacrifício com dores no tornozelo mas não queria deixar o campo, Scheidt era preciso na defesa, Thiago Xavier, o único representante das divisões de base, atuava como um veterano, Lúcio Flávio um maestro no meio campo, Diguinho mais uma vez incansável, a torcida o 12º jogador. O Botafogo crescia, a virada estava próxima, muito próxima. Cinco minutos após o gol de Scheidt o artilheiro Dodô recebeu do próprio Scheidt e da entrada da área acertou um chute no ângulo direito do goleiro e o alvinegro pulou à frente no placar. A torcida? Só alegria. Daí em diante o Botafogo mandou no jogo. Dodô chegou mais duas vezes, Reinaldo quase fez o seu gol, a vitória parecia assegurada. E para não deixar dúvidas e fazer disparar de vez os corações alvinegros Zé Roberto, que já vinha jogando bem, arrancou pela direita aos 33 minutos e chutou para o fundo das redes. Com 3 a 1 a conquista da Taça Guanabara estava consolidada. Entraram ainda Neném no lugar de Ruy e Glauber no do lateral Bill. O espetáculo acontecia no campo e nas arquibancadas. O capitão Scheidt, com grande atuação, era o herói do jogo, o alvinegro anônimo, cheio de razão, o dono da festa. Era de novo o Maracanã em branco e preto.
Acervo particular Anglo Antonio Seraphini
Fonte: Revista Botafogo no Coração nº 4 de março e abril de 2006
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
As 24 horas antes da decisão
Roberto Miranda, Carlos Roberto e Rogério
SÁBADO, 15h — Último treino antes da decisão. O capitão Scheidt é dos primeiro a chegar.
16h - ídolos como Roberto Miranda e Rogério prestigiam Carlos Roberto. Mais de 200 torcedores cantam o hino do clube.
17h — Marilda, esposa de Max, assiste ao treino com o filho Felipe. Supersticioso, Max exigiu que ela fosse, como fez antes da semifinal contra o Americano.
18h — Ruy faz fisioterapia e comenta que sofre marcação na área adversária. Scheidt diz que quando vai ao ataque cabecear também é seguro, mas que no domingo faria um gol de cabeça.
19h — Hora do jantar. A refeição transcorre tranquila. Alguns jogam sinuca, outros assistem TV.
DOMINGO, 10h — Café da manhã. Poucos jogadores aparecem, preferem dormir até tarde. A comissão técnica está toda presente. 12h — Almoço. Alguns jogadores chegam com cara de sono. O ambiente é de harmonia.
13h45 — Preleção. Diguinho é o último a chegar. Nilton Santos, presente, apenas observa. Concentração total. Palavras de incentivo de todos os lados, jogadores e comissão técnica.
14h10 — Fim da palestra. Os jogadores assistem um vídeo com todos os gols na campanha da Taça Guanabara. Se emocionam, batem palmas e vão para o ônibus.
16h — A caminho do Maracanã a trilha sonora é Fred Mercury com "We are the champions" (nós somos os campeões).
17h15 — Vestiário. Os jogadores mais novos estão mais apreensivos. Thiago Xavier quer saber se o Maracá está lotado.
17h30 — O técnico Carlos Roberto não usa a nova camisa com a logo-marca da Supergasbras em laranja. Usa a velha que vinha dando sorte.
17h45 — Último ato no vestiário: jogadores se reúnem para a corrente. Rezam Ave Maria e Pai Nosso. Sobem para o campo. É a hora da decisão.
Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Revista Botafogo no Coração nº 4 de março e abril de 2006
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
Reviver o sucesso e seguir a história
Dia jogo com o América no Maracanã
Mais de quatro décadas separam a chegada do jovem Carlos Roberto à escolinha de futebol do Botafogo e seu retorno ao clube como treinador da equipe profissional. Mais precisamente quarenta e três anos. Estar de volta é mais do que um regresso a um passado cheio de boas lembranças. É um retorno às raízes. O novo comandante alvinegro volta a vestir a camisa cuja estrela ajudou a brilhar com títulos históricos, equipes supercampeãs, anos gloriosos. E não poderia ter sido melhor. A temporada 2006 alvinegra começou respaldada pelo lado mais saudável da nostalgia e com a conquista da primeira final disputada. A faixa da Taça Guanabara conferiu a Carlos Roberto o selo de vencedor.
Quando jogava pelo Botafogo
Treinador pouco conhecido no Brasil, ele chegou como uma bela aposta alvinegra para a retomada das conquistas. O técnico sabe na pele o que significa ser campeão pelo clube. Campeão não, bicampeão. Venceu quase tudo o que podia, inclusive torneios internacionais, antecessores da Copa Sul-Americana, competição para a qual o Botafogo se classificou ao terminar em 9º lugar o Campeonato Brasileiro 2005, voltando ao cenário internacional após 10 anos. O dia 19 de julho de 1967 ficou marcado na vida de Carlos Roberto. Era a emoção da estreia. Depois de quatro anos percorrendo as escolinhas e categorias infanto-juvenil e juvenil de General Severiano, ele vestia pela primeira vez a camisa titular alvinegra, logo na primeira partida da Taça Guanabara daquele ano. Contra quem? O América. Dura missão, marcar o meia Edu, mas o resultado foi a vitória alvinegra por 2 a 1. Aos 19 anos, Carlos Roberto ganhava a posição no meio-campo, posto que só deixaria em 1976, para reforçar o Santos.
Dois meses mais tarde, a cena parecia se repetir. O mesmo adversário: América. Mesmo palco: Maracanã. Mais uma vez outra grande emoção: a decisão! Uma tarde para não esquecer. A nova vitória, dessa vez por 3 a 2, refletiu a dramaticidade do título da Taça Guanabara. Com um jogador a menos em campo - Jairzinho fora expulso ainda no primeiro tempo - o companheiro de concentração Paulo César Caju teve mesmo que dar show e marcar os três gols da final, sendo o último na prorrogação, para que os alvinegros levantassem o caneco. Carlos Roberto deixou o campo campeão e mais do que aprovado em seu ano de estreia. Hoje, parece que definitivamente enfrentar o América é sinal de boa sorte.
O novo treinador alvinegro integrou em 67-68 um dos maiores times da história do futebol brasileiro. Tinha ao seu lado e a sua frente craques como Gérson, Rogério, Roberto, Jairzinho e Paulo César. Com esse time-base, conquistou o chamado Bi-bi em 67-68, vencendo a Taça Guanabara e o Campeonato Carioca, naquela época duas competições distintas. Venceu também a Taça Brasil, considerada o Campeonato Brasileiro, e chegou, como a maioria de seus companheiros, à seleção brasileira.
A carreira de treinador começou em 1982, no suburbano Madureira. Ele até dirigiu equipes da base alvinegra antes de embarcar para o exterior. Foram mais de dez anos no comando de times e seleções da Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes, Qatar e Tailândia. Agora Carlos Roberto volta ao Botafogo. É como se o tempo tivesse parado e a retomada estivesse escrita. Voltam com ele a história vitoriosa, a força do jogador guerreiro, a vontade de conquistar vários títulos, a seriedade e dedicação para o trabalho árduo. E mais do que tudo, o respeito e o amor pela camisa alvinegra.
IDENTIDADE ALVINEGRA
"Nasci em 1948, ano em que o Botafogo quebrou um jejum de 13 anos sem títulos. Apesar de toda minha família ser vascaína, alguma coisa, inexplicavelmente, me fez crescer botafoguense. O clube tinha verdadeiros timaços, tanto no final da década de 50 como no início dos anos 60. Eu gostava de futebol e ia escondido para General Severiano assistir aos treinos. Tinha boa situação financeira mas ia ao Maracanã de geral só para ver de perto os craques alvinegros."
CONQUISTAS
"Foram anos muito importantes na trajetória do Botafogo, conquistas que ficaram marcadas e times que entraram para a história. É um orgulho enorme fazer parte desse passado. Lotar um Maracanã e levar a torcida ao delírio é privilégio de poucos e isso, cansamos de fazer."
SAUDADE
"Éramos muito unidos. Todos se davam com todos, não existia panela. Num time com grandes craques que atuavam pela seleção brasileira não existia qualquer tipo de vaidade. Fazíamos o que gostávamos e recebíamos por isso. Era maravilhoso."
COMPANHEIRO
"A união era tão grande que fica difícil destacar um só companheiro. Posso citar o Paulo César. Em 1967 éramos os mais garotos e por isso ficamos muito próximos. Ele e o Rogério dividiam o quarto comigo nas concentrações."
JOGO INESQUECÍVEL
"Em 1969 a seleção brasileira utilizou nada mais nada menos do que oito jogadores do Botafogo para enfrentar a Argentina em um amistoso. Vencemos por 4 a 1 com Moreira, Leônidas, Waltencir, Gérson, Jairzinho, Roberto, Paulo César e eu entre os titulares. No último gol tocamos a bola por mais de 5 minutos antes do Waltencir marcar. Foram exatos 54 passes com a torcida gritando "olé", de pé nas arquibancadas. Uma euforia que nos arrepiou em campo."
SUPERSTIÇÃO
"Continua exatamente a mesma. Eu não era supersticioso quando cheguei ao clube. Mas isso se tornou inevitável. O ex-presidente Carlito Rocha ficava na concentração nos dando rapadura e gemada. Todos comiam. Era indispensável. Os roupeiros e massagistas vinham brigar comigo porque deixava a camisa do avesso e a chuteira de cabeça para baixo. Perguntavam se eu estava louco. Louco nada, pura superstição. Até hoje tomo cuidado."
RETORNO
"Acho que nada é perdido. Tive uma infância alvinegra, foram 13 anos em General Severiano, desde as categorias de base até o profissional, com títulos inesquecíveis e muita dedicação. Sei que vou carregar isso para sempre e sei também que foi isso que me fez retornar. Tudo pesou na minha vinda. Assumi essa responsabilidade com um orgulho tremendo. O Botafogo é um clube centenário a quem o futebol mundial deve muito. Merece respeito. Quero fazer essa estrela voltar a brilhar."
Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Revista Botafogo no Coração nº 4 de março a abril de 2006
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
É sua Maxlei!!! Abre Dorismar!!! Tem que dar opção para a saída de bola!!! Não sobe Lirodiou, olha a marcação! Astolpho, aquece que você vai entrar! Já imaginou um técnico dando instruções a esses jogadores à beira do gramado? Os adversários, de certo, achariam que o treinador do outro time estaria falando em código para que não entendessem, a torcida não reconheceria um só nome e estava arriscado ainda dos próprios companheiros de time fazerem confusão. Vida dura a do treinador Carlos Roberto se tivesse que chamar seus comandados pelo nome de batismo. Sério, os nomes citados são dos atuais jogadores alvinegros.
A diretoria jura que o item "grau de estranheza do nome" não foi critério para a contratação de reforços. Não se empenhou nada, nadinha para isso. Coincidência ou não, o Botafogo montou talvez o grupo de nomes mais digamos "diferentes" dos últimos anos. Alguns chegaram, outros já estavam: Dorismar, Astolpho, Lirodiou, Maxlei... Outros carregam sobrenomes que valem menção honrosa: Patavino, Vendrechovski, Barrozo, Lopes não esconde que nunca gostou do nome Astolpho. "Diziam que era nome de travesti porque esse é o nome de batismo da Rogéria, o travesti mais famoso do Brasil, né?". Mesmo assim, nunca reclamou com a mãe:
"É o nome do meu bisavô materno. Nunca gostei, mas só comentava: que nome, hein?". Na rua onde foi criado as provocações eram divididas com outros três amigos. "Tinha três amigos próximos: Agamenon, Jack Jones e Dassaiev. Isso ajudou a não mexerem tanto comigo. Quando comecei no futebol adotei o Lopes, meu sobrenome, o que não evita as brincadeiras dos companheiros", lamenta.
O titular do gol Max não considera seu nome estranho. "Maxlei é original. Vocês nunca ouviram esse nome. Maxmiliano e Maxwell são normais mas Maxlei é brincadeira, que originalidade!", diz. A origem é curiosa: o pai militar certa vez conheceu um sargento americano chamado Maxlei. Estava escolhido o nome do filho. "Além de original é americano!", brinca o goleiro.
O Lirodiou do lateral Lira é o mais inusitado. Fã do seriado Bonanza, western americano que virou sucesso mundial nos anos 50, seu pai aportuguesou o personagem Little Joe. "Nunca quis mudar, é diferente mas não chegou a me causar problemas na infância", assegura. Na outra lateral, Neném também não implicou com o nome mas preferiu adotar o apelido criado pelos pais e irmãos em substituição a Dorismar. "Sempre fui Neném no futebol mas claro que brincam com meu nome. Ainda estão pegando leve aqui no Botafogo mas sei que quando a intimidade aumentar a gozação vai piorar", acredita Neném, que tem mais cinco irmãos: Carlos Henrique, Gilmar, Marcos, Tânia e Jussara. "O meu foi o único diferente mesmo, precisava?", pergunta ele.
Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Revista Botafogo no Coração nº 4 de março a abril de 2006
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
Nenhum comentário:
Postar um comentário