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quinta-feira, 12 de março de 2020

GALERIA DE HONRA LETRA R

 RUBEM SILVA - Seu Arthur



SEU ARTHUR
Nosso focalizado do mês é o Sr. RUBEM SILVA, figura das mais tradicionais do BOTAFOGO DE FUTEBOL, E REGATAS, a quem serve com desusada dedicação, oficialmente à partir de 1º setembro de 1954 e, oficiosamente, desde a infância. 
Contando 62 anos de idade, alcançou, com sobras, longo período do BOTAFOGO FOOTBALL CLUB, fazendo sua iniciação funcional aos 11 anos, como apanhador de bolas de tênis e gandula de futebol, revelando-se, daí em diante, um coração todo à serviço do GLORIOSO. 

Muito calado e resguardado, é tido como figura simbólica. Quando se propõe a dizer algo, é avidamente ouvido pelos circunstantes, pois seus relatos ligam de modo fraternal e afetuoso, os peritos humorísticos de muitas e muitas passagens de nossa história mas que dificilmente os completa, pois não raro, as lágrimas substituem suas palavras, tal a emoção de que é prêsa. Querido de todos, guarda com especial carinho a lembrança  de grandes vultos que por aqui passaram, mais avivada pelo nome do campeonissimo NILO MURTINHO BRAGA, autor do "imortal" "SEU ARTHUR". Ocupa atualmente as rouparias de basquetebol masculino e feminino, sendo, neste particular, muito considerado pelas atletas que lhe dispensam atenção filial. "SEU ARTHUR", administrativamente é um caso à parte. Diversas vezes "se insurge" cem as disposições internas, pois na qualidade de "veterano" tem direitos especiais e faz questão fechada de frisar que o BOTAFOGO é dêle, e como tal pode decidir onde lhe fica melhor servir, e o que é mais necessário fazer. 
Sua abnegação, respeito e amor ao trabalho são inesquecíveis, não olha o relógio, não pede ajutório e até mesmo quando as competições ou treinos terminam, ainda teima em var a roupa para casa, alegando que, a máquinas da moderna lavanderia lavam mal de estragar os uniformes. 
Em que se pese sua "individualidade" é de grande valia para todos e ¡amais se viu abatido por qualquer esmorecimento. Os técnicos Epaminondas e Charles Borer sabem até onde vai o seu sacrifício, e também as suas "imposições". Depois de sucessivos esforços o clube já conseguiu que aceitasse, pelo menos, sabão para lavar a roupa, porém os demais utensílios da agulha ao ferro elétrico, bem assim as horas extras , ninguém conseguiu demovê-lo a recebê-las, considerando o seu próprio dizer que o "seu" BOTAFOGO merece sempre muito mais. 
Nos dias em que vivemos, quando se  generaliza uma alta especulação em todos os quadrantes, é salutar apresentar-se a sublimada figura deste humilde, servidor, ao qual o BOLETIM, na oportunidade da passagem de mais um ano de trabalho, a serviço do GLORIOSO, apresenta felicitações pelos seus méritos próprios, sobretudo pela soberania que delega aos seus atletas, ao seu trabalho e ao seu clube. 

Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Boletim Oficial do BFR nº 202 de setembro de 1963
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ROLANDO DELAMARE
OS IRMÃOS DE LAMARE: ROLANDO E ABELARDO 
Ainda, uma vez recorremos aos «Desportos em Todo o Mundo», para reproduzir aqui, magnífica crônica de Cidio Carneiro, sôbre os notáveis irmãos de Lamare e, aproveitando o ensejo, avisamos aos fans da esplêndida revista que a mesma sairá agora, duas vezes por ano, a 1º de junho e a 1º de dezembro: 
«Justamente quando o futebol começou, de fato, a entusiasmar sobremodo o povo carioca   de 1909 a 1916 — os nomes de Rolando e Abelardo de Lamare eram verdadeiros gritos de guerra para os torcedores do BOTAFOGO, para os cariocas e brasileiros quando os ecratches eram formados. 
Os adversários pronunciavam-nos com respeito; os companheiros com admiração; as torcidas contrárias com receio e as favoráveis com esperança. Foram oito os irmãos de Lamare que tanto contribuiram para a grandeza do alvi-negro, o clube das famílias abnegadas. Quatro dêles foram jogadores: Adhemaro, Rolando, Oswaldo e Abelardo, e um outro, Joaquim, exerceu com brilhantismo a Presidência do grêmio, justamente durante a maior crise por que passou o BOTAFOGO 1911 a 1912 quando se retirou da Liga Metropolitana após os incidentes durante o célebre jôgo contra o América em 25-6-1911. 
Dois, entretanto, foram os que mais se salientaram, por fôrça das qualidades excepcionais como jogadores: Rolando e Abelardo. 
ROLANDO DE LAMARE entrou para o BOTAFOGO em 1906, conduzido pelo seu irmão Adhemaro. Pertencia, como muitos outros que tantas glórias deram ao «Glorioso», ao Carioca F.C., que era o celeiro do alvi-negro, assim como o Rio F.C. o era do Fluminense. No Carioca, Rolando era o Presidente, Capitão-Geral, jogador, tudo. Ao ingressar no BOTAFOGO foi feito center-forward do 2º quadro, que, aliás, levantou o 1º Campeonato Carioca da espécie, em 1906. Imediatamente mostrou as qualidades que mais tarde fariam dêle um dos maiores jogadores brasileiros. Campeão pelo 2º time em 1906 e 1907; Vice-Campeão em 1908; Vice-Campeão, pelo 1º time, em 1909 e Campeão em 1910. Várias vezes, quando pertencia ao 2º quadro foi conduzido ao 1º e, nessas ocasiões, surgiam sempre as reclamações dos companheiros do time de baixo. Em 1909, quando efetivo no 1º quadro, disputou suas primeiras partidas internacionais, contra o time do cruzador inglês «Amethyst», vencidas pelo BOTAFOGO por 2x1 e 4x3. Nessa ocasião já havia tomado parte em vários jogos interestaduais e, de 1909 até 1916, quando descalçou as chuteiras, foi sempre figura obrigatória dos scratches cariocas e brasileiros, menos nos anos de 1911 e 1912 quando, como dissemos, o BOTAFOGO esteve desligado da Metropolitana. Ocupou quasi todas as posições nos quadros do BOTAFOGO, desde back à ponta esquerda. Nos selecionados, entretanto, jogava na linha média, na direita ou na esquerda, conforme as tendências do companheiro de ala. 
Além do futebol, praticou também o remo, tendo obtido nessa modalidade de desporto três medalhas de ouro e 11 de outros metais. Desportista na melhor concepção da palavra, Rolando aliava a essa qualidade, invejavel firmeza de caráter. Sempre positivo nas suas opiniões, não transigia em assuntos regulamentares ou de doutrina, sem se descurar, entretanto, do elogiável espírito de equipe que era um apanágio dos de Lamare. Foi Captain-Geral do BOTAFOGO na ocasião em que êsse cargo era importantíssimo (representa hoje o de Diretor Geral de Desportos). Exerceu, porém, essas funções apenas por uma temporada, justamente por não querer contornar situações, em detrimento do seu modo de pensar: preferia ser somente jogador, e o era dos mais disciplinados. 
Fomos encontrá-lo em seu consultório médico, em plena atividade. Contou-nos, a propósito, um fato interessante, ocorrido em 1910. O BOTAFOGO levantara o campeonato da cidade, feito que lhe deu a alcunha de «Glorioso», e teria de disputar em São Paulo um jogo contra a A.A. Palmeiras, campeã paulista durante cinco anos consecutivos. Fazia parte, todavia, o nosso perfilado destas linhas, da guarnição de iole a 4 remos, que deveria participar de uma regata quase à hora da partida do trem para São Paulo. Contratou um automovel para esperá-lo na Praia do Botafogo, justamente na parte junto à chegada. Findo o páreo, pediu ao patrão que rumasse para o cais e, lá chegando, como estava (de calção e camisa), meteu-se no carro e rumou rápido para a Central do Brasil. Ao chegar correu para o trem que já estava começando a arrancar... e foi assim visto por uma moça amiga de sua namorada. Houve o inevitável rompimento, consetâneo com o rigor emprestado àquela época, ao vestuário. 
«Mas», termina Rolando, «obtivemos uma grande vitória por 7 x 2, e recebemos notavel consagração por parte do público paulistano. Faziamos esporte porque gostávamos.... e o fraternal espírito de equipe do BOTAFOGO era qualquer coisa de grandioso!» Considera êsse jôgo, e mais as vitórias sôbre o Corynthians de Londres (2x1), o Exceter City, profissionais ingleses (2x0) e o Sratch Paulista de 1915 (5x2) os que mais o emocionaram. Admirou profundamente muitos jogadores do seu tempo destacando, entretanto, Harry Robison, quer como center-forward, quer como keeper, e Sidney Pullem (ambos do Paissandu a princípio e, mais tarde, do Flamengo o segundo) os melhores elementos que conheceu. Posteriormente admirou Domingos da Guia e, hoje, Zizinho e Nilton Santos. 

Acervo particular Alceu Oliveira Castro Jungsted
Fonte: Boletim Oficial do BFR nº 123 de fevereiro de 1957

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