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quinta-feira, 12 de março de 2020

GALERIA DE HONRA LETRA D

 DOROTEU



DOROTEU

O "HOMEM MAU" DO BOTAFOGO

Quem no BOTAFOGO, ou adjacências, não conhece o Doroteu? Todo mundo o conhece, ha muitos anos. Tornou-se uma figura popular. É tido como o "homem mau” do BOTAFOGO. A simples presença do Doroteu, no Portão 2, da Rua General Severiano, amedronta qualquer garoto, principalmente nos treinos e dias de jogos. Ele nunca abandona seu posto. É um homem telhado para o cargo. Muitas vezes, a garotada reage, mas o Doroteu faz prevalecer sua "autoridade". A função é realmente ingrata. Entretanto, pouca gente conhece sua estória..

Doroteu Alfredo da Costa Filho é o seu nome, é filho de um Oficial da Marinha e de D. Rosalina da Costa, nasceu no dia 20 de março de 1902, é casado, tem quatro filhos, dois homens e duas mulheres, e o mais velho tem 39 anos de idade. Há, muito, desde menino, é torcedor do BOTAFOGO, isto é, desde o tempo quase da sua fundação, no Largo dos Leões, eis que, naquela época, morava na rua S. Clemente, na Avenida Maria Clara, ainda existente. Conheceu todos os fundadores do BOTAFOGO e nunca mais deixou de acompanhar a evolução do clube, quando, então, a partir de 1927, ininterruptamente, começou a prestar serviços, recebendo gratificações a titulo de pagamento. Como empregado, a sua carteira profissional traz o registro de admissão datado de 2 de fevereiro de 1944, com vencimentos iniciais de 600,000 cruzeiros velhos e hoje percebendo 192 cruzeiros novos.
E o empregado mais antigo do BOTAFOGO, de futebol, com exceção do seu colega Francisco de Andrade, que veio com a fusão, ainda hoje servindo na sede náutica de Sacopã. Doroteu ocupa hoje a função de Zelador do Estádio, daí ele está sempre envolvido com a garotada, zelando pelo patrimônio do clube, como é a sua obrigação. Tem perfeita noção de disciplina e respeito, nunca tendo sofrido qualquer punição, na sua já, longa vida de servidor do BOTAFOGO.

Apesar do seu aparente mau humor, trata a todos com afabilidade. Seu tom de voz , quando fala, dá da sempre uma falsa impressão. Fica, realmente, aborrecido, quando há insubordinação ou alguma infração que o prejudique na sua função de zelador. A própria natureza do seu trabalho exige certa energia, eis que é difícil lidar com criança. Daí a sua fama de "homem mau”, o que, na verdade não se justifica. Muita gente não gosta de suas atitudes, mas ele declara que nunca ofendeu ou maltratou ninguém. Conheceu várias gerações dentro do clube e desfilou uma porção de nomes. Gente que viu crescer e hoje são homens casados com filhos e que ainda freqüentam o BOTAFOGO. Fez durante esse longo tempo grandes amizades, citando, por exemplo, os nomes de Ademar Bebiano, Paulo e Silva, Ibsen De Rossi o outros. Lembrou ainda a época do amadorismo, quando não havia dinheiro e o jogador mandava comprar até o sabonete para o banho, depois do jogo. Até ele mesmo fazia as suas despesas em beneficio do clube.

UM ROSÁRIO DE ACONTECIMENTOS

Não se queixa, não reclama de nada. Acha tudo muito bom. Diz que ninguém é perfeito, todos têm seu defeito. Tem a propósito da sua cara feia, de brabo, inúmeras estórias. Contou uma interessante, pela profecia feita e realizada. O Jairzinho, hoje craque do BOTAFOGO e das seleções, desde garoto, morou na rua General Severiano, onde jogava bola na rua, provocando, muitas vezes, atritos com o Doroteu, que proibia inclusive a entrada de Jairzinho nas dependências do clube. Numa dessas "brigas", Jairzinho o ameaçou dizendo que um dia seria jogador do BOTAFOGO e se vingaria então do Doroteu. Não demorou muito tempo e Jairzinho, pela mão de Nilton Cardoso, filho de Gentil Cardoso, tornou-se campeão pelo juvenil do BOTAFOGO. Efetivou-se,  a profecia, mas não aconteceu até hoje a ameaça então feita. São amigos. No futebol, acrescentou, foi amigo de antigos craques, citando, entre outros, Zezé Moreira, Aimoré, Pamplona, Alvaro, Perácio, Carvalho Leite, Rene, Heleno, Nariz, Tovar, Otavio, etc.

NO “ESQUADRÃO DA MORTE "

Agora, sempre caladão, Doroteu não para de falar, vai se entusiasmando e começa a contar inúmeros casos na vida do BOTAFOGO, quando inclusive sofreu varias prisões em campo de futebol como torcedor, que não admitia nenhuma provocação. Quando o BOTAFOGO perdia, podia contar que o Doroteu era preso. Foi, incontestavelmente, o primeiro chefe da nossa torcida em companhia do falecido Renato, antigo funcionário da Câmara dos Vereadores. Na época, como alegou, a torcida do BOTAFOGO era conhecida como a do “Esquadrão da Morte”, tal o seu "apetite". A briga, muitas vezes, começava antes, não chegando mesmo a assistir ao jogo. Lembra-se, por exemplo, de um jogo em Bangu, quando a torcida enfrentava heroicamente as pedradas nos ônibus e trens. Na arquibancada, cuspiram-lhe na careca. Topou uma “parada” dura e foi levado a Delegacia local. Revidara, sem saber, uma agressão policial. Mas, exigindo que a referida autoridade também fosse autuada, ficou tudo dito por não dito.
Aliás, informou, o comissário de dia era também torcedor do BOTAFOGO. Isso acontecia em todos os campos de futebol. Nunca ficou preso graças ao seu amigo, então Delegado de Polícia, Paulo e Silva, grande botafoguense. Hoje não, está tudo mudado, as torcidas ficam separadas, é uma beleza. Não há mais invasões de campo.

Por fim, esclareceu que ainda vai a tudo que é jogo do BOTAFOGO, mas sem confusão, e que toda a sua família, inclusive seus netos, é constituída de torcedores do clube, sem nenhuma coação, espontaneamente.

Assim, é o Doroteu, mais conhecido como o "Homem mau” do BOTAFOGO, mas que, na realidade, não passa de um indivíduo humano, de gestos generosos, benquisto por todos e muito considerado pelos seus colegas.

Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Boletim Oficial do Botafogo no 220 de novembro de 1969

NOTA PESSOAL: Como já disse anteriormente, eu não perdia um jogo no campo de General Severiano, sendo profissional ou não e em todos os jogos lá estava o Doroteu nos intervalos à “disciplinar” a garotada que invadia o campo. Era uma missão quase impossível pois controlar 10 ou mais garotos ávidos em jogar uma “pelada” num campo de futebol profissional, mas lá estava ele correndo atrás da gurizada para que o jogo começasse. Sua fama de mau era justamente pelo seu semblante sério que, para quem não o conhecia, parecia estar sempre de mau humor. Era um momento a parte, como o jornal do Luiz Severiano Ribeiro nos cinemas (eu fazia questão de chegar cedo aos filmes para não perder o jornal), assistir ao Doroteu correndo atrás da garotada. Missão completamente desigual face a idade dele e a dos garotos, mas não faltava disposição e perseverança de ambas as partes. A torcida sempre estava do lado da garotada, e ria muito a cada drible que o Doroteu levava, mas no final tudo se acertava com paz e muita mas muita correria.

Ângelo Antonio Seraphini 11/03/2020

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