BEBETO DE FREITAS
Paulo Roberto de Freitas (Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 1950 — Vespasiano, 13 de março de 2018), conhecido como Bebeto de Freitas, foi um jogador e treinador de voleibol. Foi sobrinho do jornalista e treinador de futebol João Saldanha e primo por parte de pai do jogador de futebol Heleno de Freitas. Sendo um gestor desportivo, foi presidente do Botafogo de Futebol e Regatas entre 2003 e 2008 e, posteriormente, diretor-executivo do Atlético Mineiro. Umas das figuras-chave na transformação e identidade tática e técnica que o voleibol brasileiro adquiriu a partir do início dos anos 80, quando passou a dirigir a seleção masculina.
Carreira no voleibol - Jogador
Bebeto de Freitas foi um dos mais importantes jogadores de vôlei do Botafogo, tendo conquistado onze campeonatos cariocas de vôlei consecutivos (de 1965 até 1975), além de ter defendido a seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de 1972, em Munique e nos Jogos Olímpicos de 1976 em Montreal.
Treinador
Bebeto foi um dos mais respeitados treinadores de voleibol do mundo, tendo dirigido o time da consagrada Geração de Prata do voleibol masculino brasileiro nos Jogos Olímpicos de 1984 em Los Angeles e também nos Jogos Olímpicos de 1988 em Seul. Teve uma passagem de grande sucesso pelo voleibol italiano, dirigindo de 1990 a 1995, o Maxicono Parma – atual Pallavolo Parma (it), onde conquistou cinco títulos (Campeonato Italiano 1991-1992 e 1992-1993, Copa Itália 1991-1992 e Copa CEV 1991-1992 e 1994-1995). Devido a este sucesso, foi convidado a treinar a seleção italiana em 1997 e 1998, sendo campeão da Liga Mundial de Voleibol de 1997, em Moscou e do Campeonato Mundial de Voleibol Masculino de 1998, na final com a Iugoslávia em Tóquio, com o resultado de 3 sets a 0.
Bebeto de Freitas foi também treinador da equipe de voleibol da Escola Naval no período de 1981 a 1984.
Carreira como gestor
Início no Atlético Mineiro
Bebeto de Freitas teve duas passagens como manager do Clube Atlético Mineiro, em 1999 e 2001 . Trabalhou durante a gestão do então presidente Nélio Brant em parceria com o presidente do Conselho Deliberativo e diretor de futebol Alexandre Kalil. Durante estas duas passagens, o clube obteve resultados expressivos. Foi Campeão Mineiro e Vice-Campeão brasileiro em 1999 e chegou ao 4º lugar no Campeonato Brasileiro de 2001.
Botafogo
O então presidente do Botafogo, Bebeto de Freitas, entrega ao presidente do Senado, Renan Calheiros, uma camisa do Botafogo com o nome do jogador Nilton Santos, no Senado.
A fase no Atlético fez despertar o interesse em dirigir o Botafogo, seu clube de coração. No início de 2002, chegou a assumir um cargo como diretor do clube carioca, mas em poucos meses pediu afastamento pois, por ser funcionário, não poderia se candidatar ao cargo de presidente ao final daquele ano e também por discordar da gestão do então presidente Mauro Ney Palmeiro.
Eleito para um mandato não-remunerado inicial de três anos, entre 2003 e 2005, Bebeto de Freitas iniciou um processo de reestruturação do clube. Sua direção teve como marco importante, a volta do time de futebol à primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Reeleito até 2008, conquistou os títulos de futebol profissional da Taça Guanabara e do Campeonato Carioca de 2006, e da Taça Rio, de 2007 e 2008. Além disso, venceu também títulos em diversas categorias amadoras, tais como polo aquático, basquetebol, voleibol e natação.
Bebeto de Freitas foi um dos homens de frente na luta da aprovação da Timemania, que poderia solucionar parte das dívidas do clube. Além disso, em sua gestão, o clube - a partir da empresa criada por ele, a Cia. Botafogo - conquistou a concessão do Estádio Olímpico João Havelange, em 2007.
Após a final da Taça Guanabara de 2008, revoltado com a arbitragem, chegou a pedir licenciamento do cargo de presidente, dizendo que "não aguentava mais as coisas que aconteciam no futebol". No entanto, como sua renúncia foi somente verbal, dias depois voltou atrás em sua decisão e permaneceu à frente do clube até dezembro daquele ano, quando seu mandato se encerrava, sem possibilidades de reeleição.
Diretor-executivo do Atlético
Em 2009, a convite de Alexandre Kalil, que desta vez assumira o cargo de presidente do Galo, Bebeto de Freitas assumiu o cargo de diretor-executivo remunerado do clube.
Secretário Municipal de Esporte e Lazer em Belo Horizonte
Em 2016, após a eleição de Alexandre Kalil para prefeito de Belo Horizonte, Bebeto foi indicado para o cargo de Secretário Municipal de Esportes e Lazer. No comando da pasta, criou o programa "A Savassi é da gente", com eventos fechando aos carros na praça Diogo de Vasconcelos e abrindo para atividades esportivas, de lazer e convivência aos domingos. Comandou a pasta de 1 de janeiro de 2017 a 6 de janeiro de 2018.
Volta ao Atlético
No início de 2018, Bebeto assumiu, a convite do presidente Sérgio Sette Câmara, o recém criado cargo de Diretor de Administração e Controle do Clube Atlético Mineiro.
Morte
Bebeto de Freitas faleceu aos 68 anos, em 13 de março de 2018, durante uma cerimônia de apresentação do time de futebol americano nas dependências da Cidade do Galo, do Atlético Mineiro, em Vespasiano, Minas Gerais. Ele sofreu uma parada cardíaca e não resistiu.
Fonte: WikipédiA
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O Botafogo de Futebol e Regatas, tetra-campeão do Torneio Rio-São Paulo, agradece a sua ligação". A gravação com a voz de Cid Moreira ouvida quando se liga para a sede do clube parece desatualizada. Porém, ao se referir a um título de 1998, ela lembra ao torcedor alvi-negro última vez em que ele foi feliz.
O incômodo jejum é o maior entre os grandes elites do país. No entanto, para a desgraça dos botafoguenses, passar tantos anos em branco não foi o mais grave. Eles tiveram ainda de aguentar uma série de vexames, dentro e fora de campo e o pior: acostumaram-se a perder. Basta lembrar que, durante esse período de cinco anos, o time acumulou mais derrotas do que vitórias em cada Campeonato Brasileiro que disputou.
O do poço veio no ano passado, quando caiu para a Segunda Divisão. E não foi por falta de aviso: no ano anterior, o Botafogo ficara a apenas dois pontos da zona de rebaixamento. O grande temor entre os torcedores era que a demora em retornar à elite transformasse o Botafogo em clube pequeno.
Com uma nova administração, e a promessa de reestruturar o clube, a esperança do torcedor renasceu. Mas sofreu um baque no Estadual, em que o time ficou fora da semifinal, perdendo quarta vaga para o Americano. No entanto, foi primeiro sinal de que havia um novo Botafogo. Em vez de demitir o técnico, prática comum no futebol brasileiro, o presidente Bebeto de Freitas continuou apostando no trabalho de Levir CuIpi, com quem assinara um contrato de três anos.
O resultado aparece agora na Série B. A equipe vem se mantendo no topo da tabela de classificação e enchendo sempre o reformado Caio Martins. A primeira fase da competição ainda nem terminou, mas Bebeto de Freitas já pode comemorar a primeira conquista de sua gestão: a volta da auto estima do torcedor alvi negro.
- Não existe nada pior no esporte do que a indiferença da torcida. Isso acabou. A dignidade de torcer pelo Botafogo foi a nossa maior vitória. O orgulho de dizer que é botafoguense voltou - vibra o presidente.
"Se este grupo for mantido (até o Estadual de 2004), seremos candidatos ao titulo"
LENIR CULPI,CONFIANTE NO FUTURO
O dirigente cita dois exemplos que ilustram bem a alegria alvinegra. Há um torcedor que demonstra seu otimismo e bom humor levando a faixa "Tóquio 2005" para o camarote de Caio Martins. E, na vitória por 3 a O sobre o Santa Cruz, um torcedor nas cadeiras virou-se para onde estava Bebeto e gritou "isso aqui é o paraíso! Quem precisa da Primeira Divisão?". Brincadeiras à parte, o primeiro motivo de orgulho para o torcedor é poder dizer que tem um bom estádio para frequentar. Se os jogos do Botafogo vêm recebendo uma média acima de 8 mil pessoas, é porque-além da boa fase, claro -Caio Martins passou por reforma, com a instalação de cadeiras, camarotes e um moderno placar eletrônico.
- Ir ao Caio Martins virou um programa de família. No Dia dos Pais, havia várias crianças. No fim do jogo, em vez de xingamentos ao juiz, eu ouvia "é marmelada"- lembra a economista Elena Landau, que já trabalhou junto com Bebeto. Ao todo, foram gastos no estádio R$ 550 mil, dos quais R$ 100 mil ainda serão pagos à construtora. O que acontecerá naturalmente, garante o presidente, com a receita dos jogos. Graças à boa campanha na Série B, o Botafogo tem em 2003 um aproveitamento de 60,4% dos pontos disputados (até a 16a rodada). A última vez em que conseguiu um índice melhor foi em 1995 (67,3%), ano do título brasileiro.
No entanto, fica uma questão no ar: o fato de enfrentar adversários mais fracos não cria uma ilusão para a torcida em relação à força do time de Levir Culpi? O técnico acha que não.
- Nosso time não é brilhante, mas é competitivo. Para ganhar do Botafogo, vai ser difícil. Acho que faríamos uma boa campanha mesmo se estivéssemos na Série A -diz Levir, fazendo uma projeção otimista para o Campeonato Carioca de 2004. -Se este grupo for mantido, seremos candidatos ao título. O técnico ressalta que um dos motivos do sucesso em campo é a ausência de estrelas no elenco. O zagueiro Sandro concorda:
— Estamos juntos desde o início do ano. Nesses meses, não teve confusão, briga de vaidade ou polêmica em jornal. Assim como tudo tem seu lado bom, a presença na Segundona deu ao Botafogo a possibilidade de se reestruturar sem a pressão existente na Primeira Divisão. Bebeto de Freitas admite que, se os resultados em campo fossem ruins, o trabalho fora dele seria questionado. A torcida exigiria que parassem os investimentos com o Caio Martins, para que os recursos fossem direcionados exclusivamente ao time.
A pressão externa pode ser menor, mas o trabalho da atual administração está longe de ser pequeno. A primeira atitude de Bebeto foi cortar ao máximo a folha de pagamento do elenco, que passou de R$ 1,6 milhão para R$ 550 mil.
Na administração de Mauro Ney, o Botafogo gastava R$ 1,8 milhão por mês e arrecadava só R$ 150 mil.
A relação entre receita e despesa do Botafogo, no ano passado, era algo fora da realidade. O clube gastava R$ 1,8 milhão por mês, e arrecadava apenas R$ 150 mil. Esses valores, somados ao de outras administrações, geraram uma dívida de R$ 120 milhões. A luta de Bebeto é para acabar com esse débito. Por enquanto, ele está sendo mantido, o que já é uma vitória. O clube tem hoje uma despesa de R$ 800 mil por mês, com a receita em torno de R$ 550 mil. Os R$ 250 mil de diferença serão obtidos quando o time tiver patrocínio na camisa. Por enquanto, de acordo com a diretoria, eles são conseguidos graças à criatividade da atual gestão. E à ajuda de um grupo de empresários que não querem ter seus nomes revelados.
Outro grande desafio de Bebeto de Freitas é recuperar a credibilidade botafoguense, que ficou bastante abalada após as administrações de Carlos Augusto Montenegro (1994-96), José Luiz Rolim (1997-99) e Mauro Ney Palmeiro (2000-02). Montenegro chegou a afirmar que o clube deveria adotar o calote como forma de driblar a crise financeira. A declaração infeliz afastou Carlos Alberto Parreira, que não aceitou trabalhar no Botafogo por não estar muito disposto a ser passado para trás. Mauro Ney também soltou a sua pérola, ao avisar que a dívida em sua gestão fora acumulada em vários anos e que ele apenas a empurraria com a barriga.
Apesar disso tudo, Carlos Alberto Torres aceitou dirigir o Alvinegro em três oportunidades nos últimos seis anos. Tem motivo para se arrepender em todas elas. Na primeira, salvou o time do rebaixamento no Brasileiro de 1997. Em janeiro seguinte, estava a caminho de General Severiano para renovar contrato e ouviu no rádio do seu carro que Gilson Nunes fora anunciado como novo técnico. Em 1999, foi demitido a pós cinco jogos, sem receber salário. Sugeriu que o clube o pagasse em 20 parcelas. Recebeu apenas duas. Na última vez, em 2002, comandou o Botafogo em três partidas.
"Antes, finando se falava em Botafogo, você tinha de pensar três ou quatro vezes antes de decidir"
Recebeu parte do pagamento em dinheiro, e parte em cheque sem fundo. A credibilidade que Bebeto de Freitas tenta imprimir ao clube já permitiu que Levir Culpi aceitasse ir para a Segundona. Também fez com que Jorginho Paulista e Dill deixassem o São Paulo, clube no qual eram reservas mas recebiam em dia.
—Antes, quando se falava em Botafogo, você pensava três ou quatro vezes antes de tomar uma decisão. Agora sei que o clube está se organizando e passando por uma reformulação — explica Jorginho Paulista.
Essa mesma credibilidade garante a permanência de Sandro, que ainda tem 18 meses de direito de imagem a receber.
—Sei que o Bebeto vai resolver isso—diz o zagueiro, que dá graças a Deus pela mudança na administração.
— O clube estava falido, não tinha dinheiro nem para passagem de ônibus. E se hospedava sempre nos hotéis mais caros. A confiança depositada por jogadores e comissão técnica em Bebeto de Freitas faz com que o presidente alvinegro se declare eternamente grato a eles.
—Quando existe uma sintonia entre jogadores, comissão técnica e presidente, é muito difícil as coisas darem errado — anima-se Levir.
Apesar da boa fase do time dentro de campo, Bebeto se preocupa em deixar bem claro que a situação financeira do clube ainda é muito complicada. Por isso, pede a paciência dos vários credores para que esperem pelo crescimento econômico do Alvinegro.
As próximas etapas da atual administração são a reforma de General Severiano, que em outubro terá um centro de treinamento, e o investimento nas divisões de base. Além disso, de olho no Centenário em 2004, o clube pretende desenvolver a marca Botafogo, o que não foi fei -to nos últimos anos.
De acordo como diretor de marketing Jefferson Mello, será lançado no próximo mês um site oficial para o Alvinegro. Para o segundo semestre, estão previstos um programa no rádio, outro na televisão, um CD com artistas botafoguenses (Beth Carvalho, Leo Gandelman, Zé Renato, entre outros) e a volta de uma butique oficial.
E a campanha "Botafogo no Coração", que conta atualmente com cinco mil pagantes, será reforçada. Para isso, já foram gravados comerciais com os atores Marcelo Anthony (que já está no ar), Thierry Figueira, Mário Frias e Stepan Nercessian. E nenhum deles cobrou um tostão.
— Fiz de graça, por amor. Sempre que o Botafogo precisar de mim, estarei disponível para servi-lo — declara Thierry, dando a medida do entusiasmo atual da torcida.
Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Revista Lance nº 155 de 17 a 23 de agosto de 2003
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No caminho da reestruturação
A reestruturação do Botafogo continua acontecendo. O presidente Bebeto de Freitas aposta no futuro do clube mas ressalta a importância da aprovação do projeto da Timemania. Essa é saída para a revitalização financeira do alvinegro que, através de unidades de negócios, poderá investir em cada uma delas separadamente. Hoje, Bebeto se considera satisfeito com as conquistas já alcançadas mas diz que há muito a ser feito para rever o Botafogo ao qual foi apresentado ainda criança e o qual sonha rever.
"O Botafogo está no caminho certo: o profissionalismo. Esse é o conceito no qual acredito e no qual aposto".
• Você tem apontado a Timemania como a única saída para evitar a inviabilização econômica dos clube. Por que?
A Timemania é uma idéia brilhante que pode dar aos clubes a chance de sobreviver. A loteria não oneraria os cofres públicos, parcelaria a enorme dívida fiscal e permitiria uma oxigenação financeira.
• Essa verba viria de onde e como seria amortizada a dívida?
A verba vem dos apostadores e vai direto da Caixa Econômica Federal para o pagamento das dívidas fiscais. Ao aderir à loteria o clube assina uma confissão de dívida e é obrigado a honrar os compromissos fiscais atuais, sob pena de ser alijado do projeto.
• O que a aprovação desse projeto representaria para o Botafogo?
A chance de sobreviver. O Botafogo tem uma dívida fiscal em torno de R$ 110 milhões. O patrimônio do clube é menor do que as dívidas. Se conseguirmos o parcelamento, teremos a chance de respirar e fazer com que a Cia Botafogo funcione com uma situação saudável.
■ Por que a Cia Botafogo ainda não está funcionando?
Porque se levarmos a dívida existente ela já começaria falida. Não podemos importar a dívida do futebol que é enorme. Temos que equacioná-la para ter uma empresa saudável e adotar o modelo que perpetuará o Botafogo.
• E esse modelo qual é?
A Cia Botafogo funcionará como uma holding que fiscalizará as outras unidades de negócio ligadas. Será uma empresa 100% do Botafogo e terá sob seu guarda-chuva a Futebol S.A, Base S.A, Esportes S.A, Estádio S.A, etc. Essas sim poderão ter aporte de capital de investidores.
• Já existe um projeto para o nascimento dessas unidades de negócios?
Temos um pré-contrato assinado para o Mourisco Mar. Uma empresa fará ali uma garagem para barcos, a sede será reformada e a receita arrecadada mensalmente destinada exclusivamente ao Mourisco e aos esportes aquáticos.
• E alguma proposta mais concreta?
Fizemos uma apresentação do projeto global para uma empresa norte-americana no Brasil e eles ficaram interessados. Há poucos dias estive em Los Angeles para nova conversa.
• E o estádio em parceria com a Luso Arenas, é uma dessas unidades? E a busca pelo terreno?
Estive várias vezes em Brasília para solucionar a liberação do terreno. Tudo está encaminhado e estamos estudando outras alternativas.
• Os patrocinadores vão continuar com o Botafogo?
O contrato com a Kappa estará ainda em vigor e tanto a Supergasbras, quanto a Ale já demonstram interesse em renovar. Eles acreditaram no trabalho desenvolvido pela gestão. O departamento de marketing vem conversando com empresas e podemos aumentar o leque de patrocinadores.
• Os patrocinadores são fundamentais para a sobrevivência do clube?
Dependemos do investimento de parceiros, mas não podemos esquecer que contamos com pessoas que ajudam e não aparecem. Além dos torcedores oficiais existem botafoguenses que estiveram ao meu lado nos últimos anos para ver o Botafogo retomar sua história. Quero agradecer muito a todos.
• Foi esse pensamento que acabou lhe aproximando do ex-presidente Carlos Augusto Montenegro?
Ele é um grande botafoguense e entendeu que a solução para o Botafogo é a união de todos. Há uma corrente política em torno da gestão. Nos reunimos, juntamente com outras pessoas, e desde então nos unimos pelo bem do clube.
• Você diria que até agora executou o que imaginava para o Botafogo?
Conquistamos muitas coisas. Fizemos mais do que o previsto. O maior feito foi ter levado o Botafogo de volta à primeira divisão no primeiro ano. Tivemos que priorizar esse retomo ou tudo seria mais difícil. Estamos no caminho certo: o profissionalismo, que traz transparência, que atrai patrocinadores, que viabilizam o clube. Esse é o conceito no qual acredito e aposto.
Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Revista Botafogo no Coração nº 2 de setembro e outubro de 2005
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O basquete perdeu um atleta, o vôlei um de seus melhores levantadores e um dos mais consagrados técnicos, as arquibancadas um torcedor destemperado e o Botafogo ganhou um presidente, que é hoje o resultado de todos essas etapas da vida de um apaixonado pelo clube. Bebeto de Freitas é passional, de escassos risos, poucas palavras ou muitos gritos e, acima de tudo, um obstinado. Em seu terceiro ano à frente do clube resgatou o futebol alvinegro da segunda divisão, criou uma estrutura até então inexistente, saneou parte de enorme dívida herdada e agora está podendo respirar para começar a vislumbrar o Botafogo de seus sonhos. Bebeto é radical: o que vale é uma gestão que prioriza a seriedade, a transparência e o trabalho sério e profissional. Tudo para fazer do Botafogo um grande clube, onde pare ele tudo começou e onde espera encerrar a vitoriosa carreira no esporte.
• Como surgiu a paixão pelo Botafogo e qual o primeiro registro que sua memória tem dessa paixão? O Botafogo sempre fez parte da minha família. Meu pai jogou futebol no clube, depois meu primo, Heleno de Freitas, e meu tio, João Saldanha. O Botafogo era nosso cotidiano em casa. O primeiro momento de consciência da paixão foi no Carioca de 1957, eu com 7 anos, na primeira vez em que entrei no Maracanã, quando o Botafogo derrotou o Fluminense.
• E o atleta, quando começou? Quando inauguraram o Mourisco me chamaram para jogar basquete. No ano seguinte comecei também a jogar vôlei, até que em 1965 fui convocado para a seleção carioca, acabei titular e não parei mais. Fui atleta do Botafogo entre 1963 e 1976, e, em parte do tempo, também técnico das divisões de base.
■ Depois de torcedor e atleta quando deu o estalo de ser presidente? A primeira vez em que falei disso publicamente foi em 1982, ainda técnico da seleção brasileira, durante o Campeonato Mundial de Vôlei.
■ Uma estória do Bebeto torcedor... Depois de ver o primeiro título eu ia ao Maracanã sozinho, na geral, com 9 anos. Mais tarde passei a ir com meu tio João Saldanha e ficar na cabine da Rádio Continental. O narrador Clóvis Filho usava o jargão "no canto é gol". Em um Botafogo x Flamengo, em 1963, o Botafogo perdia por 1 x 0 quando Jairzinho fez um gol com a mão. Todos perceberam a ilegalidade menos eu, que gritei gol. Disse o Clóvis Filho: "Apesar de o sobrinho do Saldanha ter dito que foi gol não foi gol". Última vez que fui à cabine. Depois disso virei um "arquibaldo".
• O que você sentiu no primeiro dia como presidente? Uma agonia pela responsabilidade que entendo ter esse cargo.
• Como estava o clube quando chegou? Cheguei em janeiro de 2003 e não tínhamos a verba vinda da televisão relativa a 2003, 2004 e 2005, que havia sido antecipada em 2000, o que significava cerca de 90% das receitas do clube. Devíamos 6 meses de salários aos jogadores, 8 meses a funcionários, 18 meses ao pessoal de Marechal Hermes. Não tínhamos time, a maioria dos contratos havia acabado em dezembro de 2002, local para concentrar, não tínhamos crédito no mercado pela péssima imagem que o clube carregava e o time estava na segunda divisão.
• Quais foram os primeiros passos? Fizemos o Caio Martins em 54 dias, com a ajuda de muitos e dos torcedores oficiais que acreditaram no projeto. Tínhamos dívidas com Cedae, Águas de Niterói, Light, etc. Através de uma auditoria descobrimos que a dívida do clube girava em torno de R$ 160 milhões. Devemos um agradecimento à TV Globo, pois ela entendeu a situação e alongou o pagamento da dívida, além de nos dar uma carência na segunda divisão, nos pagando 50% dos 50% da cota do Clube dos Treze a que tínhamos direito, já que quando um clube desce para a segundona tem seu crédito reduzido à metade.
• Hoje você tem projetos para todas as áreas do clube. Vamos começar pelo novo estádio Arena Petrobras... Tudo começou com a ajuda do Governo Estadual ao criar a promoção Gol de Placa, no Campeonato Estadual, que nos levou a jogar no Maracanã. Quando o Governo decidiu repetir a promoção para o Brasileiro, garantindo aos clubes a receita da venda de 10 a 15 mil ingressos, já tínhamos aí a capacidade do Caio Martins. Ou seja, se tivéssemos um estádio maior poderíamos vender o restante das entradas e praticamente dobrar nossa receita a cada jogo. Veio então a ajuda fundamental da Petrobras que financiou a obra do estádio da Portuguesa, fazendo com que Botafogo e Flamengo não tivessem qualquer custo para ter um estádio com capacidade para 30 mil pessoas. Vamos ganhar ainda o patrocínio na manga da camisa, que era do Bob's, e cuja receita era usada integralmente para pagar o custo mensal das arquibancadas do Caio Martins
"Se não tivéssemos saído da segundona estaríamos recebendo 25% da verba do Clube dos 13. Com 100% e as dívidas que o Botafogo tem não dá o dá para viver, com 25% seria inviável.
• E o Caio Martins? Foram veiculadas muitas informações inverídicas. Em momento algum pensamos em desfigurar o estádio. Apenas retiramos as arquibancadas e o espaço será destinado a outros campos. Acho incrível falarem que investimos para depois acabar com o estádio, já que fomos a única diretoria a fazer uma reforma no Caio Martins desde que ele foi cedido ao Botafogo nos idos de 80. Nunca o estádio havia tido um tratamento especial, acho que sequer ganhara uma pintura. Obras e melhorias, então, nem pensar. Agora vai ficar até mais bonito e passar a ser a casa das divisões de base de juniores e juvenis, inclusive com os jogos sendo lá disputados.
• O Botafogo tem ainda Marechal Hermes. E lá, o que vai acontecer? Quando assumimos a governadora Rosinha Matheus assinou um decreto que nos dava Caio Martins por mais 20 anos e retornava a posse de Marechal Hermes ao União, clube que tinha a concessão anterior da área. Acontece que logo após a ida do Botafogo para lá houve a fusão do Botafogo com o União. Mostramos que o União que reclamava a retomada do terreno era um novo União. Em seguida, descobrimos que o Botafogo havia feito uma confissão de divida de cerca de R$ 700 mil. Sendo assim, a Governadora deu a posse do terreno a Suderj e estamos agora resolvendo a questão e contando com toda a colaboração do Secretário de Esportes Chiquinho de Carvalho. Esperamos resolvê-la para podermos investir mais naquele local, onde já investimos em pessoal e equipamento, o equivalente a R$ 2,5 milhões, mas ainda há muito a ser feito. Temos um projeto pronto para fazermos dali um centro para todas as divisões de base mais jovens e um centro de serviço social para a comunidade.
• Já que o assunto são as instalações, e o estádio próprio? Foi uma outra conquista. Assinamos o contrato que tantos diziam não existir. O que acontece é que uma negociação desse porte é longa e detalhada. Conseguimos melhorar a proposta inicial, entramos em acordo com a Lusoarenas e anunciamos a assinatura do contrato na última reunião do Conselho. Enquanto sentávamos para debater algumas pessoas diziam que as negociações estavam encerradas e que estávamos blefando. Já fizemos uma primeira reunião de trabalho, com a vinda do presidente da Lusoarenas de Portugal. Acredito que dar ao Botafogo um estádio próprio é das coisas mais importantes que poderiam acontecer para o clube. O estádio está dentro do padrão Fifa, será moderníssimo e com todos os equipamentos de última geração.
• A estrutura para formação de atletas na base sempre foi uma preocupação na sua trajetória no esporte, não? O que procuro colocar a serviço do Botafogo é minha experiência com formação de atletas e centro de treinamentos. Fiz isso a vida inteira, no Brasil, nos EUA, na Itália. E o Botafogo só terá condições de fazer um trabalho de nível e tradição nas divisões de base quando tiver as instalações apropriadas, o que está muito próximo de acontecer. A Governadora Rosinha, o Secretário de governo Antony Garotinho e o Secretário de Esportes Chiquinho Carvalho têm nos dado um apoio enorme e temos condições de muito em breve dar um passo para resolver definitivamente o futuro do futebol do clube. Aí sim teremos uma base de excelência. E não do jeito que encontramos, com jogadores de empresários que nada renderiam ao Botafogo. Mesmo dispensando quase 80 desses atletas quando cheguei, demos continuidade ao trabalho com aqueles que pertenciam 100% ao clube e hoje temos 9 jogadores no elenco da equipe profissional.
• Levar o clube de volta à Primeira Divisão foi de extrema importância. O que teria acontecido se o Botafogo não saísse da segundona em um ano? Não sei. Estaríamos hoje recebendo 25% da verba destinada pelo Clube dos Treze. Com 100% e as dívidas que o Botafogo tem já não dá para viver. Com 25% seria totalmente inviável. Eu diria que a volta para a primeira divisão logo no primeiro ano proporcionou ao Botafogo a possibilidade de efetivamente voltar a ser um grande clube.
• E o trabalho para voltar à Primeira, foi árduo? Eu e os botafoguenses temos que agradecer ao técnico Levir Culpi. Quando o convidei disse que não tinha dinheiro, não sabia quando teria, não tinha jogadores, as condições de treinamento eram péssimas, mas tinha um projeto. O Sandro não recebia há 16 meses, o Almir há 10. Os jogadores que vieram o fizeram por ele. O Levir saiu contra minha vontade e até hoje tenho uma dívida financeira e uma dívida de gratidão com ele.
• Veio a Primeira Divisão e uma temporada muito dificil... Foi tudo muito rápido. Não tínhamos estrutura, dinheiro. Veja o exemplo do Palmeiras, que subiu e podia contar com seu estádio, estrutura e condições financeiras: imediatamente voltou a ser grande. Estávamos começando de novo. Mas a experiência valeu. As vitórias que tivemos com o clube foram importantes.
• Por que a opção pela campanha do Botafogo no Coração? Lançamos esse projeto e foi um sucesso fantástico. Não posso fazer da camisa do clube um produto desvalorizado. Seu valor é enorme e a decisão de botar o projeto na camisa foi acertada, temos as prestações de contas que provam isso. Foi muito importante e ainda é fundamental que o torcedor botafoguense continue participando e efetiva-ajudando o clube. Hoje já apresentamos resultados ainda significativos. Trouxemos uma empresa do porte da Supergasbrás para o futebol, o que é muito valioso. A parceria com a KAppa rendeu muito mais do que a simples confecção do uniforme oficial, fizemos camisas comemorativas e projetos para a vinda de jogadores. Acabamos de acertar com a ALE, uma empresa que está crescendo no mercado e conquistando seu espaço que estará conosco no futebol e no remo, algo inédito na vida do clube. Enfim, a cada dia vamos trabalhando mais e os resultados aparecem. Além disso formamos grandes parcerias com Petrobras, o Bob’s e a Expert.
• A luta diária para sanear as finanças ainda é pesada? O que já foi pago das dívidas contraídas no passado?
Já foram mais de 100 causas trabalhistas resolvidas. Quando assumimos tinham umas 700 ações entre cíveis e trabalhistas. Com as trabalhistas conseguimos o acordo com a Justiça do Trabalho e em um ano chegamos a pagar cerca de R$ 1,3 milhão. Começamos a amortizar a dívida com a Globo algo em torno de R$ 12 milhões.
■ Se tivesse todo o dinheiro do mundo o que você faria já?
O projeto do clube. Não podemos ter o esporte de alto nível se não tivermos uma entidade forte atrás. Com isso posso formar um time de alto nível todo ano. Transformaria o Botafogo num grande clube social-esportivo e elevaria o nível de todas as modalidades, aumentando nossa torcida, nossa receita, nossa força, nosso tamanho.
• Como está o Botafogo nos esportes considerados amadores?
Tivemos importantes resultados nos dois primeiros anos. Na natação fomos bicampeões estaduais no infantil, campeões no juvenil e vice-campeões no sênior. No pólo-aquático fomos campeões cariocas no infantil e no juvenil, vice-campeões no infanto e no adulto e comemoramos o título brasileiro infantil e a terceira colocação nos brasileiros infanto e adulto. O remo também nos deu alegrias: o bicampeonato brasileiro nas categorias júnior, sênior B e master, além do bicampeonato mundial master no single skiff masculino, o campeonato do double skiff misto e o vice no single skiff feminino. Acumulamos ainda importantes conquistas para o vôlei e basquete.
• Você quer transformar o clube de volta em potência esportiva?
Isso está ligado ao segundo sonho que tenho ao encerrar minha carreira, a vontade de terminar onde comecei. O que consegui na minha vida devo ao Botafogo. Gostaria de encerrar minha vida esportiva voltando ao vôlei do Botafogo.
• O jogador passou, o presidente não será eterno, mas o torcedor estará aí, até o fim. Qual dos três deu ou dá mais prazer?
O torcedor.
• O trabalho feito até agora nem sempre aparece para o torcedor mas hoje o clube já é um novo Botafogo, não?
Quem convive no clube sabe que sim. Podemos falar com orgulho do que fizemos em Caio Martins, das melhorias em General Severiano e dizer que em todos os esportes que conseguimos manter dentro das nossas possibilidades estamos caminhando. O próximo passo é rever o Botafogo que conheci, um clube campeão em todas as modalidades, uma força do esporte nacional.
■ Agora é a vez do clube?
Não tinha como ser diferente. À prioridade era tirar o futebol da segunda divisão. Depois arrumamos a casa e começamos a sanear as finanças. Agora podemos dar atenção ao clube. Temos projetos para todas as unidades. No complexo de General Severiano, por exemplo, fizemos a quadra de futebol society, vamos melhorar as outras quadras, piscinas, restaurante e vestiários. Temos ainda um projeto pronto para o Mourisco e o para o remo já contamos com o patrocínio da ALE para aquisição de nova flotilha e melhora da estrutura na sede.
• O que nunca poderá faltar ao Botafogo?
Amor, paixão.
Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Revista Botafogo no Coração nº 1 de maio e junho de 2005
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O jogo entre Botafogo e América havia acabado há poucos minutos. Estava no gramado cumprimentando os jogadores pela conquista da Taça Guanabara quando me percebi no círculo central e, ao olhar para cima, me deparei com uma enorme torcida alvinegra nas cadeiras e arquibancadas do Maracanã. Voltei no tempo, vi aquele Botafogo da minha infância, da adolescência. Naquele momento percebi que mais importante do que a conquista dentro do campo era a força que vinha daquela multidão, composta por pessoas inteiramente distintas, unidas por um único vínculo: o Botafogo.
Ali, emocionado, testemunha de uma cena que já não via há tempos, pensei o quanto essa torcida é forte e tive a certeza de que é através dela que podemos transformar o Botafogo da noite para o dia. Além de torcer e comemorar os alvinegros podem de fato ajudar a reconstruir ao clube e nos fazer acreditar que o sonho de ver o Botafogo como uma grande potência esportiva é plenamente viável. E se ainda vou agradecer a força dessa torcida que pode nos levar muito mais longe, hoje, já devo dizer um obrigado a pessoas que foram de fundamental importância até aqui, como Diniz Ferreira Batista, Manoel Renha, Clóvis Macedo, Cláudio Godd, Ricardo Rotemberg, Francisco Mussnich e Carlos Augusto Montenegro. Não esqueço o apoio dos patrocinadores Supergasbras, Ale, Kappa, Café Capital e Unisuam. E ainda a valiosa ajuda do Governo do Estado, Prefeitura, Petrobras e Governo Federal. É esse Botafogo que trouxe de volta tudo o que o técnico Carlos Roberto representa, que viu um desfile de ídolos do passado pelo CT de General Severiano, e foi capaz de reunir a quantidade de torcedores presentes ao Maracanã que nós queremos para sempre. Mais importante do que tudo é o Botafogo se tornar Perene. Somos um clube de 1894 que tem condições de viver por outros 100 anos. E 2006 é o momento da virada. Tem que ser agora e com a participação de todos. Se você é alvinegro seja mais do que nunca. O Botafogo precisa de você.
Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Revista Botafogo no Coração nº 4 de março e abril de 2006
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No rumo certo
O presidente Bebeto de Fretas viu o Botafogo disputar sua primeira final e vencer. Mas para ele a conquista da Taça Guanabara marcou algo mais, o reencontro com a grande torcida alvinegra. Bebeto fala do time, da torcida e do clube: “A Taça Guanabara significa que estamos na final do Campeonato Estadual. Ficamos felizes mas é cedo para comemorar”
O Botafogo alcança sua primeira conquista: a Taça Guanabara. O que isso significou para você?
- Uma emoção e a certeza de que o trabalho sério e constante um dia acaba sendo recompensado. Fiquei muito feliz pelo grupo de jogadores, pelo clube, que segue no resgate de sua dignidade, e pela torcida, que há muito merecia um momento como esse.
O time era o mesmo do ano passado, apenas com Lúcio Flávio e Dodô....
- Buscamos reforços mas a base é a de 2005. Futebol é um esporte coletivo, os resultados aparecem quando o grupo é identificado com o clube e pela primeira vez conseguimos trabalhar a médio e longo prazo. Os contratos que eram de uma temporada agora são mais longos e nos permitem pensar na equipe do ano seguinte. Esse ano a base foi mantida e estamos procurando reforçar o time de acordo com nossas possibilidades. Conseguimos fazer o planejado e os resultados estão surgindo.
Ao final do jogo você foi cumprimentar a cada um dos jogadores ainda no gramado. O que você disse a eles?
- Dei os parabéns e disse obrigado. Eles vivem dentro do Botafogo, sabem dos problemas que temos e de nosso esforço para honrar compromissos. Foram profissionais, valentes e mereceram.
Qual a sensação de ver o clube que você pegou na segunda divisão conquistar a Taça Guanabara três anos depois?
- A sensação é a de que entre tantos problemas evoluímos e pudemos dar retorno a quem acreditou, patrocinou, nos fez manter o ânimo em momentos mais difíceis. Mas ver a torcida em massa de volta foi especial. Temos o Estadual, a Copa do Brasil, a Sul-Americana e o Brasileiro. Sei que a torcida precisa de motivação, que está cansada que nos últimos tempos acumulou frustrações. Mas o clube poderia estar melhor se a torcida comparecesse e nos ajudasse a arrecadar. É a tal estória: se o clube está mal a torcida não comparece e se a torcida não comparece o clube vai mal.
A torcida pode ter um papel importante na reestruturação do clube?
- Ela pode ser decisiva para o investimento que podemos fazer no futebol, que é prioridade, e também no clube. Estamos com um projeto para o campeonato brasileiro para dar à torcida a oportunidade de comprar ingressos com antecedência, financiar os pacotes, criar planos família e etc. A compra antecipada se transforma em receita e investimentos no time.
O Brasileiro será difícil e o Botafogo precisa se firmar na elite do futebol brasileiro. Ano passado alcançamos uma colocação que nos permitiu disputar uma competição internacional. Não podemos ficar de fora das próximas, pela história do clube e pelas receitas que nos trazem.
Esse projeto de pacotes de ingressos será lançado quando?
- Um mês antes do Brasileiro, que jogaremos no Maracanã, dando o retorno ao Governo do Estado que tanto fez pelo futebol do Rio. O comparecimento da torcida, a compra antecipada dos ingressos e as crianças de volta ao estádio é tudo o que o Botafogo precisa.
O que você destacaria nessa conquista?
- A garra e o talento dos jogadores, o lado emocional que significou a volta do Carlos Roberto para o Botafogo, a união em torno de um mesmo objetivo, o trabalho de todos os profissionais que estão em torno do time e a dedicação e energia dos funcionários do clube que vestem a camisa e permitem que a engrenagem funcione para que as vitórias possam aparecer.
E agora, mais aliviado?
- De forma alguma. É bom conquistar algo, mas a conquista só indica que o rumo é o correto. Não dá tempo de sentir o alívio. Conquistar a Taça Guanabara foi o resultado positivo obtido dentro de campo, sucesso do time, do futebol do Botafogo. O que ninguém deve pensar é que por isso as dificuldades acabaram. Elas existem e temos que encontrar soluções para resolvê-las. A situação do clube como um todo não deixa de ser difícil pela conquista.
O clube hoje como vai?
- Estamos em um momento decisivo na vida do Botafogo e trabalhando para a melhora do clube como um todo. Hoje ele já é muito diferente de como o encontramos. Esse ano é decisivo para viabilizar projetos que temos há três anos. O trabalho e dificuldades que tivemos até agora passam batidos. Estou olhando pra frente porque nunca estivemos tão perto de resolver a vida do Botafogo.
Você foi um dos dirigentes que mais se empenhou pela aprovação da Timemania. O Botafogo vai aderir ao projeto?
- Na minha vida esportiva nunca vi projeto tão inteligente. Como esportista é impossível não apoiar mas como presidente do Botafogo não posso me comprometer com algo que não possa cumprir. O prazo inicial para o refinanciamento da dívida era inviável para o clube. Ele foi dilatado mas temos que aguardar a regulamentação para ver se temos condições de nos adaptar. Torço que sim, até porque não vejo outro caminho.
Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Revista Botafogo no Coração nº 4 de março a abril de 2006
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BEBETO DE FREITAS
Seguindo os passos da família
Sempre quis dirigir a Botafogo. Extravasei esse sonho publicamente em 1981. Meu pai era sócio proprietário desde a década de 30 meu tio João Saldanha atuava politicamente no clube e meu primo Heleno nos deu muitas vitórias. Lá em casa, o prato do dia sempre foi o Botafogo.
A idéia de ser presidente surgiu naturalmente. A princípio, apoiaria o Nilton Santos. Porém, quando ele desistiu, decidi me candidatar. Peguei o clube num momento complicado, em dificuldades, mas em nenhum momento me apavorei. Trabalhamos, sim, e muito, no sentido de resgatá-lo. Os torcedores também vêm nos ajudando bastante. O Botafogo é o único clube patrocinado pela própria torcida. Sustenta-se exclusivamente graças a ela. Tudo na vida é desafio e sempre os encarei de frente na carreira. Só me sentirei realizado se conseguir fazer tudo o que gostaria no clube. Sei que não será fácil, mas batalharemos com todas as forças por isso. Porque é difícil, mas não é impossível.
Acervo particular Angelo Antonio Seraphini
Fonte: Revista Lance Edição Especial de 2005
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Exilado do esporte por opção ou falta dela, o x-técnico e dirigente guarda glórias e dores no peito e num acervo de quatro décadas
RIO – Ao criticar a má distribuição dos recursos do vôlei brasileiro, Bebeto de Freitas disse em entrevista a Renato Maurício Prado, em 1997, que a agência Sportsmedia “cobrava um percentual absurdo” sobre as receitas da CBV. Quase duas décadas depois, reportagem de Lúcio de Castro, da ESPN Brasil, apresentou contratos em que outras duas empresas, criadas por ex-funcionários da entidade, receberam 10 milhões, cada, pela venda venda de publicidade, embora o Banco do Brasil, maior patrocinador da confederação, tenha informado que não houve intermediários na negociação.
Atual presidente da Federação Internacional, Ary Graça, renunciou ao cargo máximo da CBV, do qual estava licenciado. Seu antecessor, Carlos Nuzman, é o presidente do COB. Fora do vôlei nacional desde que atirou no que viu e acertou no que não viu, Bebeto usa a experiencia passada e a incompatibilidade com Nuzman e Graça para olhar adiante com ceticismo. Desde que conheceu os atuais dirigentes de calça curta, todos companheiros do time de vôlei Botafogo, o ex-presidente do alvinegro e ex-técnico vice campeão olímpico pelo Brasil em 1984 e campeão mundial pela Itália, em 1998, vê com temor o modelo, que considera elitista e autoritário, se expandir por todo esporte brasileiro.
Desde sua entrevista em 1997, o contrato com o BB virou alvo de investigação do TCU que se declarou impedido de fiscalizar a CBV. Isso quer dizer que tudo continuou igual?
Nunca falei de contrato com o Banco do Brasil. Minhas críticas eram em cima dos problemas dos clubes e do vôlei no Brasil. Continua a mesma coisa, a seleção com as condições ideais para trabalho e o voleibol praticado no Brasil insignificante. Comparo o vôlei como um ovo maravilhoso, branco, grande, mas não tente abri-lo. Fora de campo nós continuamos o mesmo horror, a mesma ditadura que havia na minha época.
Preso na Itália, o ex-diretor de marketing do BB, Henrique Pizzolato, foi condenado por participação no mensalão. Como separar as pessoas das instituições nessa relação entre o vôlei e o banco?
O Banco do Brasil está no vôlei desde 92 ou 93, não tenho nada a ver com o contrato, nunca tive. Minha questão é com o vôlei, que também pode ser explicado por outra imagem. Sabe o mascote do Atlético-MG, um boneco inflável do galo forte e vingador, com aquele peito enorme? As seleções, os técnicos e seus atletas são o galo, o ar é a confederação e o vôlei no Brasil.
Você foi banido ou se autoexilou da vida esportiva?
As duas coisas. Saí da seleção porque não tinha mais condição de trabalhar com o Nuzman. Depois de ganhar tudo no Maxicono, da Itália, voltei para o Olympikus e tive outro problema com a CBV. Como o nosso projeto tinha atingindo plenamente suas metas, dei a ideia de que a empresa deveria patrocinar a seleção. Fecharam o acordo e me disseram que eu não podia fazer críticas a CBV. Como dois dias antes eu havia sido sondado para dirigir a seleção italiana, não pensei duas vezes, dei a entrevista e fui embora. O que aconteceu depois me leva a crer que nada vai acontecer agora. Quem melhor se posicionou nestes dias foi o Murilo, ao dizer que o dinheiro estava sendo desviado dos atletas, e o Renato Maurício Prado ao mostrar que o importante agora é a saída do Ary Graça da federação internacional. Concordo. As pessoas tem medo de falar porque são retaliadas, me refiro ao que testemunhei. O esporte brasileiro ainda vive nos anos de chumbo, nunca mudou. Da ditadura militar, ao MDB, ao partido do Collor, ao partido do Itamar, ao ao PSDB e ao PT, a única coisa entre eles é o presidente do COB.
O Nuzman foi candidato a deputado pela Arena no governo Geisel. Como a ligação com o governo interfere até hoje no esporte olímpico?
O compromisso do Nuzman com o grupo que o colocou lá era justamente acabar com a política e com essas coisas que desviavam o desenvolvimento do vôlei. O primeiro vice presidente do Nuzman foi meu pai, o financeiro era meu tio. Lá nos anos 1970, ele só foi eleito presidente da Federação do Rio com o voto do Botafogo que eu consegui apesar da rejeição a ele. Na confederação, desde cedo, entendeu que era mais rentável cuidar só da seleção. É um modelo elitista para um país de 200 milhões de habitantes. É importante repetir que meu questionamento em 1997 era que a intermediação tirava recurso dos clubes. Contestava e brigava por isso. A auditoria diz que houve irregularidade, aí vem o relator, por coincidência o sogro do Bernard (ex-desafeto de Nuzman e atual diretor do COB), e diz que o TCU não tem competência para investigar a CBV. O deputado que deu origem ao processo queria que eu fosse depoente, mas eu não sabia do contrato. Falei da situação do vôlei .
A agencia Sportsmedia, citada por você como beneficiária “de comissões absurdas”, se liga ao COB por meio da campanha fracassada dos Jogos do Rio 2004 que deixou dividas e contas questionáveis…
A Sportsmedia implodiu, terminou. O escândalo de Rio 2004, acontece a partir de 1996. Foi o governo federal quem nomeou o Leonardo Gryner (atual diretor de operações do COB) como diretor de marketing da candidatura. Ele estava dentro da Sportsmedia, não tenho dúvida.
Você jogou no mesmo time do Ary e do Nuzmam. Quando a parceria se rompeu?
Termina quando o Nuzmam entende que a CBV vai lucrar com a seleção. Ele e o Ary são culpados do estado do voleio no Brasil. Nunca se interessaram em levar o aprendizado internacional para os clubes. Tinha 15 anos quando conheci o Ary, que era titular do Botafogo. O Nuzman vem um pouco depois, mas eu já era amigo dele. A diferença entre os dois é que um jogava bem e outro, não. Não vou dizer quem foi porque senão eles se matam
Fale mais dos atritos com o Nuzman quando você treinava a seleção.
Na verdade, eu saí do Brasil depois do Mundial de 1990 porque não tinha mais condições de trabalhar com o Nuzman. Ganhamos o bronze na primeira edição da Liga Mundial, no Japão, com um time muito jovem, porque ele tinha descartado a geração prata. Ganhamos da Rússia, o que ninguém esperava e ele pediu uma reunião com todo mundo. Naquela época, o prêmio era divido 50% para a confederação e 50% para todos os outros. Estava todo mundo alegre, gritando, pensando que o Nuzman ia nos dar os outros 50% quando ele começou a reunião perguntado quem ali não gostava dele. Antes que cada um se pronunciasse, perguntei se era só com os atletas. Como ele disse que não, falei que não conseguia mais olhar para a cara dele e pedi demissão. Não podia aceitar, vestiário é espaço de autonomia exclusiva do treinador. Acabei ficando até o Mundial do mesmo ano e fui para aa Itália assinando um contrato sem nenhum valor jurídico num bloco com a logomarca do Maxicono. Era quase um papel de padaria.
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A geração que trouxe a medalha de prata em 1984 foi marcada por cortes, pedidos de dispensa e brigas dentro do elenco e com a confederação. Trinta anos depois, pode se dizer que a excelência em quadra e as relações perigosas são uma marca do vôlei?
Absolutamente, muita gente leva os problemas em função das Olimpíadas de 1984. Passado o tempo, todos mais velhos, sabemos o que nós erramos. É problema nosso. O vôlei não era nada, de um momento para o outro jogadores eram como os Beatltes. O futebol brasileiro estava muito atrás naquele período. Não aproveitamos isso para desenvolver o esporte. Coisas aconteceram mas eu nunca vou deixar falarem mal dessa geração como o ex-presidente da CBV (Nuzman) falou quando alguns pediram dispensa por falta de acordo financeiro em 1989. Depois que o Brasil ganhou o Sulamericano de 1989 com os jovens, ele vai para coletiva se referir àqueles que levantaram o vôlei e cita a seguinte frase: “O cemitério está cheio de insubstituíveis”. Sabe quem eram esses? William, Montanro, Amuri, Xandó, Renan, Bernard, Marcos Vinícius. Chego em seguida e digo que ele tem toda a razão, que o próximo é ele. Aí começam todos os problemas. Àquela altura, os jogadores vinham pedindo melhores condições, médicos, já eram profissionais e queriam receber quando servissem a seleção. Antes de quatro amistosos que faríamos na Europa, os jogadores fazem ponderações e o Nuzman chega para dizer que não tinha conseguido. Sai do vestiário e disse: “ vocês já ouviram antes, se forem viajar, decidam antes, porque somos a seleção. Decidiram viajar e foi a pior excursão daquele time. Quando retornamos, na Granja Comary, eles se apresentam, o Nuzman se reúne com eles, diz que não tem dinheiro que a decisão é deles. Numa conversa comigo, ele promete que nada vai acontecer com que pedir dispensa, sem sem retaliação. Muitos saem fora, os mais jovens ficam e vamos para o Sul-Americano. Na véspera da final contra a Argentina, era o maior time que eles já tiveram, já se falava da chegada da nova comissão técnica porque davam nossa derrota como certa. Só que o vôlei do Brasil nem eles souberam a força que tem. Ganhamos de virada, acaba o jogo é aquela declaração dele sobre o cemitério. A Confederação já tinha marca uma festa para os jogadores, contando que o campeão fosse o feminino, que acabou perdendo. Eu e os jogadores fomos todos comemorar em outro lugar. É por isso que ele chega no Japão e pergunta quem não gosta dele.
O que achou da reação dos técnicos da seleção, Bernardinho e Zé Roberto?
Bernadinho se disse traído pois não deve ser fácil ouvir isso tendo que lidar com os atletas que são os grandes prejudicados. Foi até comedido. O Zé Roberto é outra história, mostrou a cautela que eu também teria para entrar na seara que não é a dele. Estou certo de que nenhum deles se surpreendeu, o vôlei do Brasil não se surpreendeu com esse escândalo.
Como o esporte olímpico brasileiro depende do dinheiro das loterias e do patrocínio de estatais, acredita que as torneiras vão secar depois do escândalo do vôlei?
Falo do problema do Brasil, não é exclusivo do vôlei. Questão é a forma de se acreditar que é um grande esporte que e não é. O vôlei não é nem o segundo mais praticado. As pessoas confundem os heróis das seleções brasileiras com o voleibol no Brasil. Sendo um produto, você precisa ter criticas, formadores de opinião e isso você não faz só com a seleção brasileira, se faz crescendo desde o início. Por isso que não se vê base. Nunca se jogou tanto voleibol no Brasil nos últimos anos por conta dos resultados das seleções. A procura nas escolinhas é muito grande mas vamos trabalhando só com a elite. A confederação convoca um garoto com 14, 15 anos, deixa ele seis meses treinando. O jogador vai passando por um crivo que deveria ser feito nos clubes, nos campeonatos brasileiros e não na seleção.
Curioso que as receitas crescem na razão inversa do número de clubes. O modelo do vôlei é um risco aos demais esportes olímpicos?
Quando eu jogava, havia mais de 14 clubes só no Campeonato Carioca. Claro que o esporte profissional exige investimento, o problema é que essas receitas não chegam aos clubes. O modelo do vôlei vem de Cuba, um país que tem uma população do tamanho do estado do Rio e fez da saúde e do esporte uma questão deles lá. Se me perguntar se eu quero morar em Cuba, eu digo não, nunca. Conheci Cuba e quero distância. A questão é que o modelo de lá pega criança com dois, três anos, fazem uma série de testes, e indicam para os esportes em que ela teria possibilidade de seguir. Assim, Cuba se torna só seleção, mas o Brasil não pode ser só isso. Somos um país continental.
Teme pelo desempenho em 2016?
Não tenho ideia do como será a participação do Brasil, o que eu seu é que abri o jornal e vi o Falcão falando de uma ditadura do futsal. Os atletas sentem necessidade, mas o que fazem para calá-los é muito simples. Aqueles que têm possibilidades, se falam, passam a não ter mais. Os melhores são beneficiados, é assim em todo lugar. Mas, em outros países, aqueles que são pouco melhores ao menos tem possibilidades de tentar se tornarem bons o suficiente para chegar ao nível dos melhores. Aqui não temos essa condição. Outra falácia é o marketing que faz do voleio uma entidade modelo, com um Campeonato Brasileiro de quatro meses, entre dezembro e abril. Só que no meio disso você tem natal, ano novo, carnaval, Semana Santa, e o resto pertencia à seleção. Ali é o grande faturamento da confederação. Eles poucos se interessam pelo voleio no Brasil.
Como o modelo esvaziou os clubes e não desenvolveu a formação nas escolas, estamos no pior dos dois mundos?
Outro grande erro vem da surpresa com o título mundial do handebol, que possivelmente é o esporte mais praticado nas escolas. Eles estão aplicando o mesmo que o vôlei fez, selecionando as melhores, sob o comando de um técnico estrangeiro de alto nível. A diferença é que a base existe nas escolas. O voleibol tem o mini-vôlei e agora confederação diz que foi ela que desenvolveu mas lembro que ganhei uma rede pequena com estacas quando meu filho era pequeno de presente de um amigo. Foi nela que meu filho começou junto com o Bruninho que hoje é capitão da seleção brasileira. Esse programa Viva Vôlei é um programa de marketing, a fim de outras coisas que não levar o voleibol para as crianças. Depois, o que fazem, se tem alguma revelação, jogam na seleção. A Jaqueline (campeã olímpica) deu um depoimento para o Sportv de que saiu do Recife com 17 anos direto para seleção. Esse é um exemplo. O handebol era o nível nosso, estudantil, tínhamos deficiência técnicas que fomos encurtados. A geração mais prejudicada foi a chamada de prata, foi base para tudo, para estudo, cobaia de preparação física. Eram jogadores e viraram atletas. Eles sabem o que sofreram com isso, o sacrifício que foi, deles e de todos os contemporâneos
Em 97 você criticava a CBV por não repassar o direito de arena aos atletas…
Esse é o grave problema do esporte no Brasil, também no futebol. Era um direito imprescritível que os cartolas reduziram para cinco anos. Falo e provo porque tenho mais de 60 álbuns, com a história do vôlei desde 1976. Digo que sou uma bomba atômica por isso, as pessoas se esquecem mas é algo que faz parte da minha vida. Lógico que me faz mal, tem que fazer mal.
Assim como no vôlei, sua saída do Botafogo fo traumática. Ao mesmo tempo que é reconhecido por ter tirado o clube do buraco, teve contas reprovadas no último balanço.
Fui verificar, dizia respeito a um contrato de 600 mil com um o administrador do clube que trabalhou anos no clube e criou uma nova pessoa jurídica porque havia se separado da mulher. Não posso controlar tudo, fui pego de surpresa. É fácil verificar quem rouba o Botafogo. Sou favorável que se abra o clube para um devassa. Meu sigilo fiscal está aberto desde que todos os ex-presidentes abram os seus, a começar do momento em que o Montenegro entrou e o Botafogo se arrebentou financeiramente. Peguei o clube com todas as receitas antecipadas. Os documentos da gestão anterior (do ex-presidente Mauro Nei Palmeiro) tinham sido roubados. Durante a auditoria e a renegociação da dívidas com a Receita Federal e a Justiça do Trabalho, descobrimos que a dívida, que eles diziam ser de R$ 30 milhões, já estava em R$ 220 milhões. Só em 2005 pudemos começar a publicar os balanços dos anos anteriores. Tiive que acrescentar 100 milhões no passivo em função do que encontramos e agora dizem que essa dívida fui eu que fiz. Entreguei o Botafogo com certidão negativa em 2008. Por conta do fechamento do Maracanã e da demanda pelo Engenhão, o clube nunca teve tanto dinheiro para honrar seis compromissos.
Não considera estranho ter assumido um cargo executivo no Atlético-MG ainda na vigência do mandato?
É mais uma dessas mentiras que se tornam verdades. Fui avisado pelo Conselho Deliberativo do Botafogo que a posse do novo presidente estava marcada para dia dois de janeiro, mas as data acabou sendo remarcada para o dia cinco, quando eu estava começando no Atlético. Não larguei o Botafogo nem larguei nada que eu fiz na vida. O Botafogo é algo muito sério na minha vida, por parte de pai, de mãe, de Heleno de Freitas e de João Saldanha. Tenho meus defeitos, não sou santo, mas nunca roubei. Não foi fácil esse período. Minha família brigou comigo por não ter rebatido tudo que se falou contra mim e agora briga para que eu não dê essa entrevista.
A instabilidade da cobertura do Engenhão, que motivou a interdição do estádio, era preocupação quando sua gestão ganhou a concessão do estádio?
Era, antes de a gente entrar na concorrência. A gente soube que cobertura deu uma mexida quando foi instalada, mas logo depois veio um parecer que estava segura. Não seria irresponsável de expôr o Botafogo e as pessoas a um risco desse. Se piorou depois, não sei. Se o fechamento do estádio foi para viabilizar o Maracanã, tampouco me interesse. Só sei que o Botafogo não pode reclamar de que foi excluído do ato do TRT (que obrigava o clube a destinar 20% de suas receitas aos credores em troca do parcelamento das dívidas e a suspensão das penhoras) por causa do fechamento do Engenhão. Apesar de anunciada gestão moderna, o Botafogo optou por não pagar imposto. Hoje, qualquer receita do Engenhão seria tomada pelos credores. Saiu recentemente uma matéria da Marluce Martins, no Extra, mostrando que o Botafogo sonegou 95 milhões do ato trabalhista. Imagino que essas receitas que só podem ter sido aplicadas no futebol. Agora, mais importante do que a Libertadores, é torcer para mais um absurdo que seria a ajuda do governo na questão das dívidas dos clubes.
Você foi cobrado por ter trazido seu filho para jogar vôlei de praia pelo clube…
Nunca aconteceu isso até porque ninguém joga o circuito por clubes. Foi a Supergasbras que o patrocinou e ele me pediu que treinasse sua dupla, o que fiz de graça. Nunca dei força, foi por conta própria que ele virou treinador. Hoje, ele dirige a primeira dupla do do ranking feminino. Antes de deixar a CBV, o Ary repetiu a maldade que tinha feito com o vôlei de quadra. Como quer criar uma liga mundial de praia, montou uma comissão técnica em Saquarema para tirar as duplas do seu treinamento local. A estrutura não custa pouco, em torno de R$ 300 mil mensais e poderia beneficiar muita mais gente se aplicada na base. Quando as duplas jogam fora do Brasil, os técnicos têm que pagar sua passagem. Há três semanas, eles entregaram documento discordando. Nunca vou aceitar que aqueles que lutaram pelo vôlei, sejam prejudicados, a começar pela geração de prata, que foi a mais sacrificada. Sobre ela, o ex-presidente da CBV costuma dizer que a história só fala dos vencedores. Tem toda razão.
Fonte: blog Bebeto de Freitas 23 03 2014
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Bebeto de Freitas: “O esporte no Brasil é uma casca de ovo podre”
Ex-técnico da seleção de vôlei faz duras críticas à gestão esportiva no país
Um dos sonhos de Bebeto de Freitas vai se transformar em realidade no ano que vem. Seu currículo extenso de conquistas no vôlei — como jogador e técnico — e a participação ativa no movimento olímpico desde 1968 o fazia ansiar pelo dia em que o Brasil sediaria uma edição dos Jogos Olímpicos. Mas agora que o feito está próximo, o sentimento é de decepção.
O treinador da “geração de prata”, a seleção masculina vice-campeã olímpica em 1984 e apontada como transformadora do vôlei brasileiro, tece críticas ácidas à organização do Rio-2016. O carioca de 65 anos — que também já atuou como dirigente no futebol (foi presidente do Botafogo e executivo do Atlético-MG) — não entende por que a desenvolvida Barra da Tijuca foi escolhida para receber as principais instalações da Olimpíada. Lembra que as cidades costumam aproveitar os Jogos para recuperar áreas degradadas.
O descontentamento não para por aí.
Nesta entrevista a ZH, Bebeto dispara contra a gestão esportiva no Brasil e garante que, salvo algumas exceções, “não existe esporte de alto nível” no país.
Você sempre adotou uma postura crítica em relação ao modo que o esporte é administrado no Brasil. Quais são os principais problemas que você vê?
O mais estrondoso é a forma como é tratado o esporte no Brasil. Esse é o mais absurdo. Se a gente pegar, nos últimos 10 anos, todos os escândalos das federações e confederações, de contas que não batem, documentos e contratos ilegais… Existe uma forma de exercer o esporte no Brasil que é terceirizar. A forma que se encontrou para manipular o esporte no Brasil é terceirizando. O dinheiro vem do governo, eles pagam essas empresas, e o que acontece depois ninguém vai atrás para saber. Ficamos com o legado da dúvida, que é o grande legado do esporte no Brasil. Mas não acontece só agora. São problemas de mais de 30 anos. Eu dei uma entrevista em 1997, quando briguei de vez com o comando do vôlei brasileiro, em que faço uma acusação exatamente como a que foi feita agora na confederação (veja detalhes sobre o caso do vôlei abaixo da entrevista). Só que eu não tinha provas contundentes como temos agora. E ninguém nunca me respondeu nada.
O Brasil tem investido muito no esporte de alto rendimento. Estamos perto de ser uma potência olímpica?
Nunca nos faltou recursos. Só que eles nunca chegaram onde deveriam chegar. Só estamos nos preocupando agora porque temos uma Olimpíada no Brasil. Estamos vendo a quantidade de técnicos estrangeiros e atletas estrangeiros com naturalidade brasileira. Não somos um país olímpico e não podemos disfarçar isso. O que não significa que não possamos fazer a Olimpíada. O México, que não é uma potência esportiva, fez Olimpíada (na Cidade do México, em 1968). A Grécia também. Mas se você quer se tornar uma potência, isso tem de chegar na massa. Existem certas questões definitivas dentro de qualquer área: a quantidade gera qualidade. O Brasil tinha quantidade de jogadores de futebol porque você andava em qualquer praça e tinha campo de futebol aqui e ali. Esse crescimento nunca chegou ao nível que deveria chegar em outros esportes.
Mas a repercussão de uma Olimpíada aqui não pode ajudar na massificação?
Acho que vai gerar interesse. Mas você não faz uma Olimpíada, gastando o que está gastando, para despertar interesse. O ponto é técnico. A massa esportiva brasileira não tem condições de ser revelada. O Brasil trabalha com a elite. Os melhores são escolhidos, mas os melhores não praticam um esporte de alto nível. Não temos esporte de alto nível no Brasil, salvo alguns. Esses recursos teriam que entrar para a massificação desses esportes. Em cinco, seis, 10 anos, você teria uma geração de novos esportistas. Jogamos fora essa possibilidade em um país jovem e com carências de trabalho. A indústria esportiva é a única que cresceu nos momentos de crise mundial. Desde 1980, ela sempre cresce. Nós estamos gastando para fazer uma cobertura maravilhosa e ter uma garagem que é um lixo. O esporte no Brasil é uma casca de ovo. Um ovo lindo, branco, só que dentro ele está podre.
Você acha que organizar a Olimpíada aqui foi um erro?
Sempre dei a maior força para a Olimpíada. Sempre quis, principalmente no Rio de Janeiro, que é a minha cidade. Eu frequento o movimento olímpico desde 1968. É a primeira Olimpíada que vejo em que a estrutura foi montada no local mais valorizado da cidade. Existem áreas enormes degradadas no Rio. Em outras cidades-sede, todos aproveitaram para reconstruir essas áreas. Londres foi assim. Estive lá dois anos antes dos Jogos. Não dava para chegar ao local de metrô. Ali, hoje, o bairro foi recuperado, criaram transporte. Em 1984, fui a Seul, e eles já estavam escolhidos para ser sede em 1988. Passamos pelo rio que corta a cidade e parecia que você estava passando em um canal de esgoto. Quatro anos depois, aquilo tinha sido transformado em balneários. Em Barcelona, a região do porto era perigosíssima de andar. Mudou tudo. Quando o Rio se candidatou para 2004, o projeto era fazer tudo no Fundão. Acabar com a Favela da Maré, com o Alemão, toda a aquela parte degradada da cidade. Ali é uma zona que representa de 30% a 40% da população da cidade, que vive em palafita, em situação precária. Aí o governo tem dinheiro, vai fazer uma intervenção… e faz na Barra da Tijuca. A região com o maior número de licenças imobiliárias. É dinheiro botado fora, porque é um dinheiro que o setor privado já está investindo. Criaram uma superestrutura esportiva em um local onde a maior parte da população não chega, porque não tem transporte de massa. Vão fazer o BRT, mas é ônibus. Não venham me dizer que a Barra da Tijuca é o melhor lugar do Rio de Janeiro para se fazer uma Olimpíada. Que é o melhor lugar para se construir, não tenha dúvida. Mas não o que vai valorizar a cidade.
Você mencionou os escândalos em federações e confederações. O que acontece para eles proliferarem?
A Dilma disse há um tempo que a corrupção é uma senhora no Brasil. Eu diria que é uma anciã no esporte. Se você precisa da maioria mais um (de votos) para ser eleito presidente do vôlei brasileiro, você precisa de 14 votos. Só 14 votos que decidem quem vai ser o presidente. E isso serve para todos os esportes. Não fiquem surpreendidos no dia em que fizerem uma investigação no esporte como essa da Lava-Jato e descobrirem tudo que é tipo de coisa. O problema é que isso não vão fazer nunca, porque a primeira coisa que se faz é abafar. O que aconteceu com o vôlei, hoje ninguém lembra mais. Ninguém fala.
No caso do vôlei, alguns atletas se manifestaram e protestaram, mas nem sempre isso acontece. Por quê?
O atleta é o mais fraco de todos, apesar de ser o mais forte de todos. Se eles decidirem dizer: “Queremos ver tudo que está acontecendo na confederação de vôlei (CBV) ou não jogamos mais”, a coisa muda. Isso não acontece porque não existe legislação esportiva. Nos Estados Unidos, os atletas param a liga de basquete, de beisebol, de futebol americano. Lá, os esportes são comandados, dentro de seus limites de liberdade, pelos atletas. A maior lição que tive na vida no esporte foi com um empresário, que é o maior responsável pelo desenvolvimento do vôlei brasileiro, o Antônio Carlos de Almeida Braga, o Braguinha. Uma vez ele me deu uma bronca e disse: “Garoto, se você não tiver adversário, eu não tenho como te pagar”. O que o Murilo e o Gustavo fizeram (protestaram contra a CBV) não foi acompanhado por outros. O Murilo se indignou dizendo que esse dinheiro iria para o vôlei. Eles têm toda a razão e direito de cobrar. Gostaria que todos entendessem que, o que eles estão cobrando, não é para eles. Eles são a exceção. Os recursos são tirados daqueles que não são o Murilo, o Carlão, o Giba, o Renan. Ao longo de 30 anos, imagina os recursos que deixaram de chegar aos atletas. Se eles entendessem isso, e parassem de vez, tudo mudava.
Os resultados do vôlei mascararam a real situação do esporte?
O vôlei é o esporte que mais ganha títulos no Brasil desde 1980. Todos diziam que era a confederação modelo. Sabe quantos times profissionais têm na confederação modelo? Dez. O Campeonato Brasileiro começava em dezembro e terminava em abril. Com Natal, Ano-Novo, Carnaval, Semana Santa no meio. Aí eu dizia: “vamos usar o exemplo do vôlei no futebol então. Começamos o Brasileiro em dezembro, terminamos em abril e no resto do ano é Seleção Brasileira”. Ninguém critica porque os esportes são pequenos no Brasil. E aí, quando a seleção brasileira apresenta resultados, dizem que é do trabalho administrativo e não dos atletas. E quando você olha por trás do voleibol, não tem nada. O mesmo vale para várias outras modalidades. São os absurdos que os atletas não podem falar, se não nem são convocados para uma seleção.
Entenda o caso do vôlei
No ano passado, uma série de reportagens da ESPN revelou irregularidades em contratos da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). De acordo com o canal, a CBV pagava agências de marketing e de eventos pela “intermediação” dos contratos de patrocínio com o Banco do Brasil. As agências escolhidas eram de pessoas ligadas a Ary Graça, então presidente da entidade, e os pagamentos chegariam a cifras milionárias. A ESPN também citou supostos contratos superfaturados com escritórios de advocacia de amigos do dirigente.
Fonte: blog Bebeto de Freitas 07 04 2015
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Bebeto de Freitas entra para o Hall da Fama do Vôlei
Esquecido pela vaidosa cúpula do esporte brasileiro, Bebeto de Freitas ganha reconhecimento internacional, o segundo em menos de um ano. Crítico e irônico na análise do momento político-esportivo, ele pede a ''atuação do FBI no combate à corrupção no Brasil''.
Em outubro, o ex-jogador e técnico da ''geração de prata'' entrará para o seleto grupo do Hall da Fama do Vôlei. Será a oitava personalidade brasileira condecorada, em Holyoke, Massachusetts (EUA), onde o vôlei foi criado, em 1895. Em 2014, Bebeto teve seu nome incluído no livro que homenageia as trinta mais importantes personalidades do vôlei na Itália.
Após conquistar cinco títulos dirigindo o clube italiano Maxicono Parma (1990-1995), Bebeto treinou a Seleção da Itália, sagrando-se campeão da Liga Mundial, em 1997, e Campeão Mundial em 1998. Esse feito o colocou como o único técnico brasileiro a ter título por outro país em todas as modalidades do esporte. No Brasil, já havia se consagrado, quando dirigiu as Seleções Olímpicas de 1984 e 1988, conhecida como ''geração de prata''. Emoção “Quando o seu trabalho é reconhecido por adversários dentro das quadras, no bom sentido, tem realmente um valor diferente. É um prêmio muito importante, pois o reconhecimento vem lá de fora e isso me enche de orgulho. Estou muito contente, uma vida dedicando tudo para o crescimento do esporte me sinto muito feliz”.
Crítica
Crítico com boa argumentação, cultura herdada do tio, João Saldanha, o maior jornalista esportivo brasileiro de todos os tempos, Bebeto lamenta o momento político-esportivo. Ele não silenciou diante do escândalo de corrupção na Confederação Brasileira de Vôlei e ainda cobra: “Continuamos sem saber o que aconteceu e vamos ficar assim, sem saber nada daquele episódio na CBV”.
Diante das denúncias de corrupção, em geral, ele fala sério, mesmo na ironia, referindo-se às prisões de cartolas, diante do escândalo na Fifa. “A nossa salvação é pedir um FBI no Brasil. A Polícia Federal já não dá conta de investigar tanta denúncia por aqui. Por isso, estou mudando de time de coração. Sempre fui um botafoguense apaixonado. Agora, visto a camisa do FBI”.
Fonte: site Uol Esporte 03 07 2015
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BEBETO: MUITO ALÉM DO SEU PRÓPRIO TEMPO
O jogo contra o Municipal naquela noite foi um passeio. Três sets a zero, parciais de 15/1, 15/1 e 15/0. Do massacre botafoguense ficou na memória um lance: o ataque explodiu no bloqueio, e a bola ia cair atrás dele, sem peso, mansa. Bebeto então surge, rola e se posiciona embaixo da bola que estava a menos de um metro de distância do chão. Com um toque preciso faz o levantamento para Paulão, ponta-atacante do Botafogo. Do outro lado da quadra, o levantador do Municipal estava estático. Não montou o bloqueio duplo para evitar o ataque de Paulão. Ainda olhava para Bebeto, admirando aquele ser do outro mundo.
O tempo passou. Enquanto Bebeto incorporava o “de Freitas” e assumia o cargo de treinador da Seleção Brasileira de Vôlei, o levantador do Municipal era agora jornalista esportivo. Assim como antes, Bebeto de Freitas inovava. Ao perceber que tinha jogadores mais baixos que seus principais adversários, apostou num jeito brasileiro de jogar, incorporando a velocidade asiática no ataque e o posicionamento mais dentro de quadra das escolas soviética e polonesa. Aliou a isso, a inventividade de seus jogadores. Foi com ele que Bernard trouxe da praia o saque Jornada nas Estrelas e William o Viagem ao Fundo do Mar. Foi também de Bebeto a ideia de bloquear o saque adversário.
O Brasil, até então mediano no cenário mundial do Vôlei, passou a protagonista, conquistando a medalha de prata na Olimpíada de Los Angeles. Era ele o técnico na vitória sobre a até então imbatível União Soviética de Savin e Zaitsev, no Maracanãzinho,
por três sets a dois (2/15, 15/13, 15/12, 13/15 e 15/7), partida que durou três horas e meia. Era a final do Mundialito realizado no Rio, dois anos antes dos Jogos Olímpicos. Ali, naquela quadra, naquele 25 de setembro de 1982, começava a hegemonia brasileira. Um ano depois, de novo contra a União Soviética, a histórica partida no Maracanã, debaixo de um público de mais de 90 mil pessoas e uma chuva torrencial. Mais uma vitória brasileira, dessa vez por três sets a um.
Bebeto formou uma gangue de exímios levantadores. William, Bernardinho, Maurício, Ricardinho (a quem classificava de genial), Marcelinho… todos têm no seu DNA cadeias genéticas transferidas pelo treinador. Bernardinho é o que mais se aproxima. Não pela qualidade técnica de jogador, mas pelo confessado aluno que foi. “Eu sentava ao lado dele no banco para aprender. Não era o titular da seleção e dei sorte. Suguei o que podia”, disse uma vez. Mas era o titular do time da Atlântica-Boavista, equipe profissional também dirigida por Bebeto e bancada pelo mecenas Antonio Carlos de Almeida Braga, o Braguinha, dono da gigante corretora de valores da época,. Saiu da seleção ao brigar com Carlos Arthur Nuzman, então presidente da CBV, e seu antigo companheiro de time, no Botafogo. Bebeto foi para a Itália provocar nova revolução e transferindo a hegemonia do leste europeu para o vôlei italiano. Por aqui, seus discípulos Radamés Lattari Filho, José Roberto Guimarães e Bernardinho tratavam de dar continuidade ao seu trabalho de fazer o Brasil liderar o vôlei mundial
Inquieto e apaixonado pelo Botafogo, Bebeto se meteu no que classificou de “a pior fria da minha vida”. Assumiu a presidência do clube e, com uma administração corajosa – e também controversa – imprimiu nova imagem, marcada, principalmente, pelo arrendamento do Estádio Nilton Santos. As constantes brigas internas no Botafogo – o gênio do tio Saldanha era uma de suas características de comportamento – fizeram com que se afastasse do clube. Um dia, chorando, disse: “eles não sabem o quanto eu amo o Botafogo. Eles não sabem”.
Inquieto, inovador, brigão, carinhoso, exigente, amoroso e genial, Bebeto de Freitas morreu. Aos 68 anos, um ataque fez seu coração enorme parar de bater. Fazia o que mais gostava: inovar. Trazia para o Atlético Mineiro um time de futebol americano, um projeto pronto, sem custo e vencedor, como afirmou em entrevista coletiva, minutos antes cair ao chão no Hotel da Cidade do Galo.
Bebeto não deixa vazios. Seu legado é imenso e sempre foi prazeroso para ele transferir conhecimento. Parafraseando Getúlio Vargas, Bebeto de Freitas saiu da vida e entrou para a história. O vôlei brasileiro é o que é, hoje, por sua culpa.
Fonte: blog Bebeto de Freitas 14 03 2018
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Sob aplausos, Bebeto de Freitas recebe último adeus de amigos e familiares
Ex-presidente e torcedor fanático do Alvinegro, o mentor da Geração de Prata do vôlei nacional recebeu o carinho no velório na sede do Botafogo.
O saguão da sede social do Botafogo ganhou gente aos poucos. Eram amigos, familiares e torcedores, todos à espera do último adeus a um dos maiores nomes do esporte nacional. Eram quase 17h quando o corpo de Bebeto de Freitas chegou a General Severiano. Ex-presidente e torcedor fanático do Alvinegro, o mentor da Geração de Prata do vôlei nacional foi recebido sob aplausos. Morto na tarde de terça-feira, aos 68 anos, depois de uma parada cardíaca, Bebeto recebeu o carinho na casa de um de seus maiores amores.
O Botafogo abriu as portas para a despedida e homenageou seu ex-presidente com a bandeira a meio mastro. Mais cedo, em Belo Horizonte, também foi realizada uma cerimônia na sede do Atlético-MG, onde era diretor de administração e controle. O corpo de Bebeto vai deixar a sede do Botafogo às 9h desta quinta-feira, em um carro do Corpo dos Bombeiros, rumo ao Cemitério São João Batista. O enterro será às 15h.
Durante todo o dia, amigos, familiares e personalidades do vôlei e do futebol foram prestar homenagens ao ex-técnico. Gente como Jorge Barros, auxiliar de Bebeto na Olimpíada de Los Angeles; Marcus Vinícius Freire, Carlão, Radamés Lattari e Renan Dal Zotto, treinador atual da seleção.
- Bebeto, sem dúvida, é o principal protagonista de tudo isso. Cara que estava à frente de todos os projetos, e com o diferencial de que conseguia trazer todo mundo com ele - disse Renan.
O corpo chegou ao Rio de Janeiro por volta de 13h30, no aeroporto de Santos Dumont. Lá, passou por trâmites burocráticos até seguir para General Severiano. Torcedores aplaudiram quando o caixão entrou na sede do Botafogo, pouco antes das 17h. Antes disso, chegaram coroas de flores da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) e de times como do próprio Botafogo, Fluminense e Chapecoense. Jogadores que atuaram sob o comando de Bebeto na seleção italiana também enviaram flores para homenagear o ex-técnico.
Marcelinho, ex-levantador da seleção e que joga atualmente pelo Botafogo, chegou cedo à sede para um treino com a equipe. Antes, falou sobre a importância de Bebeto para o vôlei nacional e sua luta contra a corrupção no esporte.
- Há vinte anos anos ele já enxergava a corrupção que está acontecendo hoje e não foi ouvido. Um dos motivos que ele foi para o vôlei italiano foi por causa disso. Ele foi para lá e não poderíamos ter deixado isso. Ele mudou o vôlei brasileiro. O que ele fez pela Itália, poderia ter feito ainda mais por aqui - disse o levantador.
Do futebol, o primeiro a chegar foi Carlos Roberto, técnico do Botafogo quando Bebeto era presidente. O ex-treinador ressaltou os feitos do amigo à frente do clube do coração.
- Já éramos amigos. Ele resgatou o Botafogo de uma fase difícil, recuperou a sede... Fez várias coisas boas para o nosso Botafogo. Em 2006, deu um suporte muito importante para nosso título.
Presidente do Botafogo, Nelson Mufarrej também esteve na sede para homenagear Bebeto. O mandatário afirmou que o clube ainda deve homenagear Bebeto.
- Um dia triste. Já tive a oportunidade de dizer o que representa o Bebeto ao Botafogo. Um grande desportista que nos deu 11 títulos com o vôlei. Também como presidente do clube. Ainda estamos discutindo e não tem nada programado. Mas tenho certeza que o conselho Deliberativo vai fazer para o Bebeto - disse.
Também ex-presidente do Botafogo, Carlos Augusto Montenegro foi outro a ir à sede do clube para se despedir do amigo.
- Muito novo, ex-atleta, mudou a história do esporte, do vôlei. E, apesar da paixão pelo vôlei, sempre antenado ao Botafogo, alucinado pelo Botafogo. Bebeto deixou uma lição do que é ser apaixonado por um clube - disse.
Outras personalidades, como João Moreira Salles, diretor de cinema e empresário, também prestigiaram o adeus a Bebeto.
Com três dias de luto decretado pela morte de Bebeto de Freitas, Botafogo põe bandeira a meio mastro em General Severiano nesta quarta.
A carreira esportiva de Paulo Roberto Freitas, o Bebeto de Freitas, é extensa: foi jogador e técnico da seleção brasileira de voleibol. Comandou a histórica geração de prata da seleção masculina em Los Angeles-1984. Além do feito, também revelou uma série de jogadores que fizeram da equipe uma seleção imbatível nos anos seguintes, como Carlão e Giovane. Bebeto também foi o mentor de dois outros grandes treinadores do vôlei mundial: José Roberto Guimarães e Bernardinho. Depois, se sagrou campeão da Liga Mundial de 1997 e do Mundial com a Itália em 1998, até que o amor pelo Botafogo bateu mais forte em seu peito e lhe fez trocar de esporte.
No futebol, teve a primeira passagem pelo Atlético-MG em 1999. Trabalhou no clube ainda em 2001. Foi presidente do Botafogo entre 2003 e 2008. Posteriormente, voltou ao Galo como diretor-executivo, em 2009. Assumiu a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer na gestão de Alexandre Kalil na prefeitura de Belo Horizonte, no início de 2017. Com a eleição de Sérgio Sette Câmara para presidente do Atlético-MG, no final do ano passado, retornou ao clube, desta vez no cargo de diretor de administração e controle.
Fonte: site G1 14 03 2018
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