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quinta-feira, 12 de março de 2020

GALERIA DE HONRA LETRA B

 BEBETO DE FREITAS


Paulo Roberto de Freitas (Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 1950 — Vespasiano, 13 de março de 2018), conhecido como Bebeto de Freitas, foi um jogador e treinador de voleibol. Foi sobrinho do jornalista e treinador de futebol João Saldanha e primo por parte de pai do jogador de futebol Heleno de Freitas. Sendo um gestor desportivo, foi presidente do Botafogo de Futebol e Regatas entre 2003 e 2008 e, posteriormente, diretor-executivo do Atlético Mineiro. Umas das figuras-chave na transformação e identidade tática e técnica que o voleibol brasileiro adquiriu a partir do início dos anos 80, quando passou a dirigir a seleção masculina.
Carreira no voleibol - Jogador
Bebeto de Freitas foi um dos mais importantes jogadores de vôlei do Botafogo, tendo conquistado onze campeonatos cariocas de vôlei consecutivos (de 1965 até 1975), além de ter defendido a seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de 1972, em Munique e nos Jogos Olímpicos de 1976 em Montreal.

Treinador
Bebeto foi um dos mais respeitados treinadores de voleibol do mundo, tendo dirigido o time da consagrada Geração de Prata do voleibol masculino brasileiro nos Jogos Olímpicos de 1984 em Los Angeles e também nos Jogos Olímpicos de 1988 em Seul. Teve uma passagem de grande sucesso pelo voleibol italiano, dirigindo de 1990 a 1995, o Maxicono Parma – atual Pallavolo Parma (it), onde conquistou cinco títulos (Campeonato Italiano 1991-1992 e 1992-1993, Copa Itália 1991-1992 e Copa CEV 1991-1992 e 1994-1995). Devido a este sucesso, foi convidado a treinar a seleção italiana em 1997 e 1998, sendo campeão da Liga Mundial de Voleibol de 1997, em Moscou e do Campeonato Mundial de Voleibol Masculino de 1998, na final com a Iugoslávia em Tóquio, com o resultado de 3 sets a 0.

Bebeto de Freitas foi também treinador da equipe de voleibol da Escola Naval no período de 1981 a 1984.

Carreira como gestor
Início no Atlético Mineiro
Bebeto de Freitas teve duas passagens como manager do Clube Atlético Mineiro, em 1999 e 2001 . Trabalhou durante a gestão do então presidente Nélio Brant em parceria com o presidente do Conselho Deliberativo e diretor de futebol Alexandre Kalil. Durante estas duas passagens, o clube obteve resultados expressivos. Foi Campeão Mineiro e Vice-Campeão brasileiro em 1999 e chegou ao 4º lugar no Campeonato Brasileiro de 2001.

Botafogo

O então presidente do Botafogo, Bebeto de Freitas, entrega ao presidente do Senado, Renan Calheiros, uma camisa do Botafogo com o nome do jogador Nilton Santos, no Senado.
A fase no Atlético fez despertar o interesse em dirigir o Botafogo, seu clube de coração. No início de 2002, chegou a assumir um cargo como diretor do clube carioca, mas em poucos meses pediu afastamento pois, por ser funcionário, não poderia se candidatar ao cargo de presidente ao final daquele ano e também por discordar da gestão do então presidente Mauro Ney Palmeiro.

Eleito para um mandato não-remunerado inicial de três anos, entre 2003 e 2005, Bebeto de Freitas iniciou um processo de reestruturação do clube. Sua direção teve como marco importante, a volta do time de futebol à primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Reeleito até 2008, conquistou os títulos de futebol profissional da Taça Guanabara e do Campeonato Carioca de 2006, e da Taça Rio, de 2007 e 2008. Além disso, venceu também títulos em diversas categorias amadoras, tais como polo aquático, basquetebol, voleibol e natação.

Bebeto de Freitas foi um dos homens de frente na luta da aprovação da Timemania, que poderia solucionar parte das dívidas do clube. Além disso, em sua gestão, o clube - a partir da empresa criada por ele, a Cia. Botafogo - conquistou a concessão do Estádio Olímpico João Havelange, em 2007.

Após a final da Taça Guanabara de 2008, revoltado com a arbitragem, chegou a pedir licenciamento do cargo de presidente, dizendo que "não aguentava mais as coisas que aconteciam no futebol". No entanto, como sua renúncia foi somente verbal, dias depois voltou atrás em sua decisão e permaneceu à frente do clube até dezembro daquele ano, quando seu mandato se encerrava, sem possibilidades de reeleição.

Diretor-executivo do Atlético
Em 2009, a convite de Alexandre Kalil, que desta vez assumira o cargo de presidente do Galo, Bebeto de Freitas assumiu o cargo de diretor-executivo remunerado do clube.

Secretário Municipal de Esporte e Lazer em Belo Horizonte
Em 2016, após a eleição de Alexandre Kalil para prefeito de Belo Horizonte, Bebeto foi indicado para o cargo de Secretário Municipal de Esportes e Lazer. No comando da pasta, criou o programa "A Savassi é da gente", com eventos fechando aos carros na praça Diogo de Vasconcelos e abrindo para atividades esportivas, de lazer e convivência aos domingos. Comandou a pasta de 1 de janeiro de 2017 a 6 de janeiro de 2018.

Volta ao Atlético
No início de 2018, Bebeto assumiu, a convite do presidente Sérgio Sette Câmara, o recém criado cargo de Diretor de Administração e Controle do Clube Atlético Mineiro.

Morte

Bebeto de Freitas faleceu aos 68 anos, em 13 de março de 2018, durante uma cerimônia de apresentação do time de futebol americano nas dependências da Cidade do Galo, do Atlético Mineiro, em Vespasiano, Minas Gerais. Ele sofreu uma parada cardíaca e não resistiu.  

Fonte: WikipédiA
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Exilado do esporte por opção ou falta dela, o x-técnico e dirigente guarda glórias e dores no peito e num acervo de quatro décadas

RIO – Ao criticar a má distribuição dos recursos do vôlei brasileiro, Bebeto de Freitas disse em entrevista a Renato Maurício Prado, em 1997, que a agência Sportsmedia “cobrava um percentual absurdo” sobre as receitas da CBV. Quase duas décadas depois, reportagem de Lúcio de Castro, da ESPN Brasil, apresentou contratos em que outras duas empresas, criadas por ex-funcionários da entidade, receberam 10 milhões, cada, pela venda venda de publicidade, embora o Banco do Brasil, maior patrocinador da confederação, tenha informado que não houve intermediários na negociação.

Atual presidente da Federação Internacional, Ary Graça, renunciou ao cargo máximo da CBV, do qual estava licenciado. Seu antecessor, Carlos Nuzman, é o presidente do COB. Fora do vôlei nacional desde que atirou no que viu e acertou no que não viu, Bebeto usa a experiencia passada e a incompatibilidade com Nuzman e Graça para olhar adiante com ceticismo. Desde que conheceu os atuais dirigentes de calça curta, todos companheiros do time de vôlei Botafogo, o ex-presidente do alvinegro e ex-técnico vice campeão olímpico pelo Brasil em 1984 e campeão mundial pela Itália, em 1998, vê com temor o modelo, que considera elitista e autoritário, se expandir por todo esporte brasileiro.

Desde sua entrevista em 1997, o contrato com o BB virou alvo de investigação do TCU que se declarou impedido de fiscalizar a CBV. Isso quer dizer que tudo continuou igual?

Nunca falei de contrato com o Banco do Brasil. Minhas críticas eram em cima dos problemas dos clubes e do vôlei no Brasil. Continua a mesma coisa, a seleção com as condições ideais para trabalho e o voleibol praticado no Brasil insignificante. Comparo o vôlei como um ovo maravilhoso, branco, grande, mas não tente abri-lo. Fora de campo nós continuamos o mesmo horror, a mesma ditadura que havia na minha época.

Preso na Itália, o ex-diretor de marketing do BB, Henrique Pizzolato, foi condenado por participação no mensalão. Como separar as pessoas das instituições nessa relação entre o vôlei e o banco?

O Banco do Brasil está no vôlei desde 92 ou 93, não tenho nada a ver com o contrato, nunca tive. Minha questão é com o vôlei, que também pode ser explicado por outra imagem. Sabe o mascote do Atlético-MG, um boneco inflável do galo forte e vingador, com aquele peito enorme? As seleções, os técnicos e seus atletas são o galo, o ar é a confederação e o vôlei no Brasil.

Você foi banido ou se autoexilou da vida esportiva?

As duas coisas. Saí da seleção porque não tinha mais condição de trabalhar com o Nuzman. Depois de ganhar tudo no Maxicono, da Itália, voltei para o Olympikus e tive outro problema com a CBV. Como o nosso projeto tinha atingindo plenamente suas metas, dei a ideia de que a empresa deveria patrocinar a seleção. Fecharam o acordo e me disseram que eu não podia fazer críticas a CBV. Como dois dias antes eu havia sido sondado para dirigir a seleção italiana, não pensei duas vezes, dei a entrevista e fui embora. O que aconteceu depois me leva a crer que nada vai acontecer agora. Quem melhor se posicionou nestes dias foi o Murilo, ao dizer que o dinheiro estava sendo desviado dos atletas, e o Renato Maurício Prado ao mostrar que o importante agora é a saída do Ary Graça da federação internacional. Concordo. As pessoas tem medo de falar porque são retaliadas, me refiro ao que testemunhei. O esporte brasileiro ainda vive nos anos de chumbo, nunca mudou. Da ditadura militar, ao MDB, ao partido do Collor, ao partido do Itamar, ao ao PSDB e ao PT, a única coisa entre eles é o presidente do COB.

O Nuzman foi candidato a deputado pela Arena no governo Geisel. Como a ligação com o governo interfere até hoje no esporte olímpico?

O compromisso do Nuzman com o grupo que o colocou lá era justamente acabar com a política e com essas coisas que desviavam o desenvolvimento do vôlei. O primeiro vice presidente do Nuzman foi meu pai, o financeiro era meu tio. Lá nos anos 1970, ele só foi eleito presidente da Federação do Rio com o voto do Botafogo que eu consegui apesar da rejeição a ele. Na confederação, desde cedo, entendeu que era mais rentável cuidar só da seleção. É um modelo elitista para um país de 200 milhões de habitantes. É importante repetir que meu questionamento em 1997 era que a intermediação tirava recurso dos clubes. Contestava e brigava por isso. A auditoria diz que houve irregularidade, aí vem o relator, por coincidência o sogro do Bernard (ex-desafeto de Nuzman e atual diretor do COB), e diz que o TCU não tem competência para investigar a CBV. O deputado que deu origem ao processo queria que eu fosse depoente, mas eu não sabia do contrato. Falei da situação do vôlei .

A agencia Sportsmedia, citada por você como beneficiária “de comissões absurdas”, se liga ao COB por meio da campanha fracassada dos Jogos do Rio 2004 que deixou dividas e contas questionáveis…

A Sportsmedia implodiu, terminou. O escândalo de Rio 2004, acontece a partir de 1996. Foi o governo federal quem nomeou o Leonardo Gryner (atual diretor de operações do COB) como diretor de marketing da candidatura. Ele estava dentro da Sportsmedia, não tenho dúvida.

Você jogou no mesmo time do Ary e do Nuzmam. Quando a parceria se rompeu?

Termina quando o Nuzmam entende que a CBV vai lucrar com a seleção. Ele e o Ary são culpados do estado do voleio no Brasil. Nunca se interessaram em levar o aprendizado internacional para os clubes. Tinha 15 anos quando conheci o Ary, que era titular do Botafogo. O Nuzman vem um pouco depois, mas eu já era amigo dele. A diferença entre os dois é que um jogava bem e outro, não. Não vou dizer quem foi porque senão eles se matam

Fale mais dos atritos com o Nuzman quando você treinava a seleção.

Na verdade, eu saí do Brasil depois do Mundial de 1990 porque não tinha mais condições de trabalhar com o Nuzman. Ganhamos o bronze na primeira edição da Liga Mundial, no Japão, com um time muito jovem, porque ele tinha descartado a geração prata. Ganhamos da Rússia, o que ninguém esperava e ele pediu uma reunião com todo mundo. Naquela época, o prêmio era divido 50% para a confederação e 50% para todos os outros. Estava todo mundo alegre, gritando, pensando que o Nuzman ia nos dar os outros 50% quando ele começou a reunião perguntado quem ali não gostava dele. Antes que cada um se pronunciasse, perguntei se era só com os atletas. Como ele disse que não, falei que não conseguia mais olhar para a cara dele e pedi demissão. Não podia aceitar, vestiário é espaço de autonomia exclusiva do treinador. Acabei ficando até o Mundial do mesmo ano e fui para aa Itália assinando um contrato sem nenhum valor jurídico num bloco com a logomarca do Maxicono. Era quase um papel de padaria.

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A geração que trouxe a medalha de prata em 1984 foi marcada por cortes, pedidos de dispensa e brigas dentro do elenco e com a confederação. Trinta anos depois, pode se dizer que a excelência em quadra e as relações perigosas são uma marca do vôlei?

Absolutamente, muita gente leva os problemas em função das Olimpíadas de 1984. Passado o tempo, todos mais velhos, sabemos o que nós erramos. É problema nosso. O vôlei não era nada, de um momento para o outro jogadores eram como os Beatltes. O futebol brasileiro estava muito atrás naquele período. Não aproveitamos isso para desenvolver o esporte. Coisas aconteceram mas eu nunca vou deixar falarem mal dessa geração como o ex-presidente da CBV (Nuzman) falou quando alguns pediram dispensa por falta de acordo financeiro em 1989. Depois que o Brasil ganhou o Sulamericano de 1989 com os jovens, ele vai para coletiva se referir àqueles que levantaram o vôlei e cita a seguinte frase: “O cemitério está cheio de insubstituíveis”. Sabe quem eram esses? William, Montanro, Amuri, Xandó, Renan, Bernard, Marcos Vinícius. Chego em seguida e digo que ele tem toda a razão, que o próximo é ele. Aí começam todos os problemas. Àquela altura, os jogadores vinham pedindo melhores condições, médicos, já eram profissionais e queriam receber quando servissem a seleção. Antes de quatro amistosos que faríamos na Europa, os jogadores fazem ponderações e o Nuzman chega para dizer que não tinha conseguido. Sai do vestiário e disse: “ vocês já ouviram antes, se forem viajar, decidam antes, porque somos a seleção. Decidiram viajar e foi a pior excursão daquele time. Quando retornamos, na Granja Comary, eles se apresentam, o Nuzman se reúne com eles, diz que não tem dinheiro que a decisão é deles. Numa conversa comigo, ele promete que nada vai acontecer com que pedir dispensa, sem sem retaliação. Muitos saem fora, os mais jovens ficam e vamos para o Sul-Americano. Na véspera da final contra a Argentina, era o maior time que eles já tiveram, já se falava da chegada da nova comissão técnica porque davam nossa derrota como certa. Só que o vôlei do Brasil nem eles souberam a força que tem. Ganhamos de virada, acaba o jogo é aquela declaração dele sobre o cemitério. A Confederação já tinha marca uma festa para os jogadores, contando que o campeão fosse o feminino, que acabou perdendo. Eu e os jogadores fomos todos comemorar em outro lugar. É por isso que ele chega no Japão e pergunta quem não gosta dele.

O que achou da reação dos técnicos da seleção, Bernardinho e Zé Roberto?

Bernadinho se disse traído pois não deve ser fácil ouvir isso tendo que lidar com os atletas que são os grandes prejudicados. Foi até comedido. O Zé Roberto é outra história, mostrou a cautela que eu também teria para entrar na seara que não é a dele. Estou certo de que nenhum deles se surpreendeu, o vôlei do Brasil não se surpreendeu com esse escândalo.

Como o esporte olímpico brasileiro depende do dinheiro das loterias e do patrocínio de estatais, acredita que as torneiras vão secar depois do escândalo do vôlei?

Falo do problema do Brasil, não é exclusivo do vôlei. Questão é a forma de se acreditar que é um grande esporte que e não é. O vôlei não é nem o segundo mais praticado. As pessoas confundem os heróis das seleções brasileiras com o voleibol no Brasil. Sendo um produto, você precisa ter criticas, formadores de opinião e isso você não faz só com a seleção brasileira, se faz crescendo desde o início. Por isso que não se vê base. Nunca se jogou tanto voleibol no Brasil nos últimos anos por conta dos resultados das seleções. A procura nas escolinhas é muito grande mas vamos trabalhando só com a elite. A confederação convoca um garoto com 14, 15 anos, deixa ele seis meses treinando. O jogador vai passando por um crivo que deveria ser feito nos clubes, nos campeonatos brasileiros e não na seleção.

Curioso que as receitas crescem na razão inversa do número de clubes. O modelo do vôlei é um risco aos demais esportes olímpicos?

Quando eu jogava, havia mais de 14 clubes só no Campeonato Carioca. Claro que o esporte profissional exige investimento, o problema é que essas receitas não chegam aos clubes. O modelo do vôlei vem de Cuba, um país que tem uma população do tamanho do estado do Rio e fez da saúde e do esporte uma questão deles lá. Se me perguntar se eu quero morar em Cuba, eu digo não, nunca. Conheci Cuba e quero distância. A questão é que o modelo de lá pega criança com dois, três anos, fazem uma série de testes, e indicam para os esportes em que ela teria possibilidade de seguir. Assim, Cuba se torna só seleção, mas o Brasil não pode ser só isso. Somos um país continental.

Teme pelo desempenho em 2016?

Não tenho ideia do como será a participação do Brasil, o que eu seu é que abri o jornal e vi o Falcão falando de uma ditadura do futsal. Os atletas sentem necessidade, mas o que fazem para calá-los é muito simples. Aqueles que têm possibilidades, se falam, passam a não ter mais. Os melhores são beneficiados, é assim em todo lugar. Mas, em outros países, aqueles que são pouco melhores ao menos tem possibilidades de tentar se tornarem bons o suficiente para chegar ao nível dos melhores. Aqui não temos essa condição. Outra falácia é o marketing que faz do voleio uma entidade modelo, com um Campeonato Brasileiro de quatro meses, entre dezembro e abril. Só que no meio disso você tem natal, ano novo, carnaval, Semana Santa, e o resto pertencia à seleção. Ali é o grande faturamento da confederação. Eles poucos se interessam pelo voleio no Brasil.

Como o modelo esvaziou os clubes e não desenvolveu a formação nas escolas, estamos no pior dos dois mundos?

Outro grande erro vem da surpresa com o título mundial do handebol, que possivelmente é o esporte mais praticado nas escolas. Eles estão aplicando o mesmo que o vôlei fez, selecionando as melhores, sob o comando de um técnico estrangeiro de alto nível. A diferença é que a base existe nas escolas. O voleibol tem o mini-vôlei e agora confederação diz que foi ela que desenvolveu mas lembro que ganhei uma rede pequena com estacas quando meu filho era pequeno de presente de um amigo. Foi nela que meu filho começou junto com o Bruninho que hoje é capitão da seleção brasileira. Esse programa Viva Vôlei é um programa de marketing, a fim de outras coisas que não levar o voleibol para as crianças. Depois, o que fazem, se tem alguma revelação, jogam na seleção. A Jaqueline (campeã olímpica) deu um depoimento para o Sportv de que saiu do Recife com 17 anos direto para seleção. Esse é um exemplo. O handebol era o nível nosso, estudantil, tínhamos deficiência técnicas que fomos encurtados. A geração mais prejudicada foi a chamada de prata, foi base para tudo, para estudo, cobaia de preparação física. Eram jogadores e viraram atletas. Eles sabem o que sofreram com isso, o sacrifício que foi, deles e de todos os contemporâneos

Em 97 você criticava a CBV por não repassar o direito de arena aos atletas…

Esse é o grave problema do esporte no Brasil, também no futebol. Era um direito imprescritível que os cartolas reduziram para cinco anos. Falo e provo porque tenho mais de 60 álbuns, com a história do vôlei desde 1976. Digo que sou uma bomba atômica por isso, as pessoas se esquecem mas é algo que faz parte da minha vida. Lógico que me faz mal, tem que fazer mal.

Assim como no vôlei, sua saída do Botafogo fo traumática. Ao mesmo tempo que é reconhecido por ter tirado o clube do buraco, teve contas reprovadas no último balanço.

Fui verificar, dizia respeito a um contrato de 600 mil com um o administrador do clube que trabalhou anos no clube e criou uma nova pessoa jurídica porque havia se separado da mulher. Não posso controlar tudo, fui pego de surpresa. É fácil verificar quem rouba o Botafogo. Sou favorável que se abra o clube para um devassa. Meu sigilo fiscal está aberto desde que todos os ex-presidentes abram os seus, a começar do momento em que o Montenegro entrou e o Botafogo se arrebentou financeiramente. Peguei o clube com todas as receitas antecipadas. Os documentos da gestão anterior (do ex-presidente Mauro Nei Palmeiro) tinham sido roubados. Durante a auditoria e a renegociação da dívidas com a Receita Federal e a Justiça do Trabalho, descobrimos que a dívida, que eles diziam ser de R$ 30 milhões, já estava em R$ 220 milhões. Só em 2005 pudemos começar a publicar os balanços dos anos anteriores. Tiive que acrescentar 100 milhões no passivo em função do que encontramos e agora dizem que essa dívida fui eu que fiz. Entreguei o Botafogo com certidão negativa em 2008. Por conta do fechamento do Maracanã e da demanda pelo Engenhão, o clube nunca teve tanto dinheiro para honrar seis compromissos.

Não considera estranho ter assumido um cargo executivo no Atlético-MG ainda na vigência do mandato?

É mais uma dessas mentiras que se tornam verdades. Fui avisado pelo Conselho Deliberativo do Botafogo que a posse do novo presidente estava marcada para dia dois de janeiro, mas as data acabou sendo remarcada para o dia cinco, quando eu estava começando no Atlético. Não larguei o Botafogo nem larguei nada que eu fiz na vida. O Botafogo é algo muito sério na minha vida, por parte de pai, de mãe, de Heleno de Freitas e de João Saldanha. Tenho meus defeitos, não sou santo, mas nunca roubei. Não foi fácil esse período. Minha família brigou comigo por não ter rebatido tudo que se falou contra mim e agora briga para que eu não dê essa entrevista.

A instabilidade da cobertura do Engenhão, que motivou a interdição do estádio, era preocupação quando sua gestão ganhou a concessão do estádio?

Era, antes de a gente entrar na concorrência. A gente soube que cobertura deu uma mexida quando foi instalada, mas logo depois veio um parecer que estava segura. Não seria irresponsável de expôr o Botafogo e as pessoas a um risco desse. Se piorou depois, não sei. Se o fechamento do estádio foi para viabilizar o Maracanã, tampouco me interesse. Só sei que o Botafogo não pode reclamar de que foi excluído do ato do TRT (que obrigava o clube a destinar 20% de suas receitas aos credores em troca do parcelamento das dívidas e a suspensão das penhoras) por causa do fechamento do Engenhão. Apesar de anunciada gestão moderna, o Botafogo optou por não pagar imposto. Hoje, qualquer receita do Engenhão seria tomada pelos credores. Saiu recentemente uma matéria da Marluce Martins, no Extra, mostrando que o Botafogo sonegou 95 milhões do ato trabalhista. Imagino que essas receitas que só podem ter sido aplicadas no futebol. Agora, mais importante do que a Libertadores, é torcer para mais um absurdo que seria a ajuda do governo na questão das dívidas dos clubes.

Você foi cobrado por ter trazido seu filho para jogar vôlei de praia pelo clube…

Nunca aconteceu isso até porque ninguém joga o circuito por clubes. Foi a Supergasbras que o patrocinou e ele me pediu que treinasse sua dupla, o que fiz de graça. Nunca dei força, foi por conta própria que ele virou treinador. Hoje, ele dirige a primeira dupla do do ranking feminino. Antes de deixar a CBV, o Ary repetiu a maldade que tinha feito com o vôlei de quadra. Como quer criar uma liga mundial de praia, montou uma comissão técnica em Saquarema para tirar as duplas do seu treinamento local. A estrutura não custa pouco, em torno de R$ 300 mil mensais e poderia beneficiar muita mais gente se aplicada na base. Quando as duplas jogam fora do Brasil, os técnicos têm que pagar sua passagem. Há três semanas, eles entregaram documento discordando. Nunca vou aceitar que aqueles que lutaram pelo vôlei, sejam prejudicados, a começar pela geração de prata, que foi a mais sacrificada. Sobre ela, o ex-presidente da CBV costuma dizer que a história só fala dos vencedores. Tem toda razão.

Fonte: blog Bebeto de Freitas 23 03 2014
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Bebeto de Freitas: “O esporte no Brasil é uma casca de ovo podre”

Ex-técnico da seleção de vôlei faz duras críticas à gestão esportiva no país

Um dos sonhos de Bebeto de Freitas vai se transformar em realidade no ano que vem. Seu currículo extenso de conquistas no vôlei — como jogador e técnico — e a participação ativa no movimento olímpico desde 1968 o fazia ansiar pelo dia em que o Brasil sediaria uma edição dos Jogos Olímpicos. Mas agora que o feito está próximo, o sentimento é de decepção.
O treinador da “geração de prata”, a seleção masculina vice-campeã olímpica em 1984 e apontada como transformadora do vôlei brasileiro, tece críticas ácidas à organização do Rio-2016. O carioca de 65 anos — que também já atuou como dirigente no futebol (foi presidente do Botafogo e executivo do Atlético-MG) — não entende por que a desenvolvida Barra da Tijuca foi escolhida para receber as principais instalações da Olimpíada. Lembra que as cidades costumam aproveitar os Jogos para recuperar áreas degradadas.

O descontentamento não para por aí.

Nesta entrevista a ZH, Bebeto dispara contra a gestão esportiva no Brasil e garante que, salvo algumas exceções, “não existe esporte de alto nível” no país.

Você sempre adotou uma postura crítica em relação ao modo que o esporte é administrado no Brasil. Quais são os principais problemas que você vê?
O mais estrondoso é a forma como é tratado o esporte no Brasil. Esse é o mais absurdo. Se a gente pegar, nos últimos 10 anos, todos os escândalos das federações e confederações, de contas que não batem, documentos e contratos ilegais… Existe uma forma de exercer o esporte no Brasil que é terceirizar. A forma que se encontrou para manipular o esporte no Brasil é terceirizando. O dinheiro vem do governo, eles pagam essas empresas, e o que acontece depois ninguém vai atrás para saber. Ficamos com o legado da dúvida, que é o grande legado do esporte no Brasil. Mas não acontece só agora. São problemas de mais de 30 anos. Eu dei uma entrevista em 1997, quando briguei de vez com o comando do vôlei brasileiro, em que faço uma acusação exatamente como a que foi feita agora na confederação (veja detalhes sobre o caso do vôlei abaixo da entrevista). Só que eu não tinha provas contundentes como temos agora. E ninguém nunca me respondeu nada.

O Brasil tem investido muito no esporte de alto rendimento. Estamos perto de ser uma potência olímpica?
Nunca nos faltou recursos. Só que eles nunca chegaram onde deveriam chegar. Só estamos nos preocupando agora porque temos uma Olimpíada no Brasil. Estamos vendo a quantidade de técnicos estrangeiros e atletas estrangeiros com naturalidade brasileira. Não somos um país olímpico e não podemos disfarçar isso. O que não significa que não possamos fazer a Olimpíada. O México, que não é uma potência esportiva, fez Olimpíada (na Cidade do México, em 1968). A Grécia também. Mas se você quer se tornar uma potência, isso tem de chegar na massa. Existem certas questões definitivas dentro de qualquer área: a quantidade gera qualidade. O Brasil tinha quantidade de jogadores de futebol porque você andava em qualquer praça e tinha campo de futebol aqui e ali. Esse crescimento nunca chegou ao nível que deveria chegar em outros esportes.

Mas a repercussão de uma Olimpíada aqui não pode ajudar na massificação?
Acho que vai gerar interesse. Mas você não faz uma Olimpíada, gastando o que está gastando, para despertar interesse. O ponto é técnico. A massa esportiva brasileira não tem condições de ser revelada. O Brasil trabalha com a elite. Os melhores são escolhidos, mas os melhores não praticam um esporte de alto nível. Não temos esporte de alto nível no Brasil, salvo alguns. Esses recursos teriam que entrar para a massificação desses esportes. Em cinco, seis, 10 anos, você teria uma geração de novos esportistas. Jogamos fora essa possibilidade em um país jovem e com carências de trabalho. A indústria esportiva é a única que cresceu nos momentos de crise mundial. Desde 1980, ela sempre cresce. Nós estamos gastando para fazer uma cobertura maravilhosa e ter uma garagem que é um lixo. O esporte no Brasil é uma casca de ovo. Um ovo lindo, branco, só que dentro ele está podre.

Você acha que organizar a Olimpíada aqui foi um erro?
Sempre dei a maior força para a Olimpíada. Sempre quis, principalmente no Rio de Janeiro, que é a minha cidade. Eu frequento o movimento olímpico desde 1968. É a primeira Olimpíada que vejo em que a estrutura foi montada no local mais valorizado da cidade. Existem áreas enormes degradadas no Rio. Em outras cidades-sede, todos aproveitaram para reconstruir essas áreas. Londres foi assim. Estive lá dois anos antes dos Jogos. Não dava para chegar ao local de metrô. Ali, hoje, o bairro foi recuperado, criaram transporte. Em 1984, fui a Seul, e eles já estavam escolhidos para ser sede em 1988. Passamos pelo rio que corta a cidade e parecia que você estava passando em um canal de esgoto. Quatro anos depois, aquilo tinha sido transformado em balneários. Em Barcelona, a região do porto era perigosíssima de andar. Mudou tudo. Quando o Rio se candidatou para 2004, o projeto era fazer tudo no Fundão. Acabar com a Favela da Maré, com o Alemão, toda a aquela parte degradada da cidade. Ali é uma zona que representa de 30% a 40% da população da cidade, que vive em palafita, em situação precária. Aí o governo tem dinheiro, vai fazer uma intervenção… e faz na Barra da Tijuca. A região com o maior número de licenças imobiliárias. É dinheiro botado fora, porque é um dinheiro que o setor privado já está investindo. Criaram uma superestrutura esportiva em um local onde a maior parte da população não chega, porque não tem transporte de massa. Vão fazer o BRT, mas é ônibus. Não venham me dizer que a Barra da Tijuca é o melhor lugar do Rio de Janeiro para se fazer uma Olimpíada. Que é o melhor lugar para se construir, não tenha dúvida. Mas não o que vai valorizar a cidade.

Você mencionou os escândalos em federações e confederações. O que acontece para eles proliferarem?
A Dilma disse há um tempo que a corrupção é uma senhora no Brasil. Eu diria que é uma anciã no esporte. Se você precisa da maioria mais um (de votos) para ser eleito presidente do vôlei brasileiro, você precisa de 14 votos. Só 14 votos que decidem quem vai ser o presidente. E isso serve para todos os esportes. Não fiquem surpreendidos no dia em que fizerem uma investigação no esporte como essa da Lava-Jato e descobrirem tudo que é tipo de coisa. O problema é que isso não vão fazer nunca, porque a primeira coisa que se faz é abafar. O que aconteceu com o vôlei, hoje ninguém lembra mais. Ninguém fala.

No caso do vôlei, alguns atletas se manifestaram e protestaram, mas nem sempre isso acontece. Por quê?
O atleta é o mais fraco de todos, apesar de ser o mais forte de todos. Se eles decidirem dizer: “Queremos ver tudo que está acontecendo na confederação de vôlei (CBV) ou não jogamos mais”, a coisa muda. Isso não acontece porque não existe legislação esportiva. Nos Estados Unidos, os atletas param a liga de basquete, de beisebol, de futebol americano. Lá, os esportes são comandados, dentro de seus limites de liberdade, pelos atletas. A maior lição que tive na vida no esporte foi com um empresário, que é o maior responsável pelo desenvolvimento do vôlei brasileiro, o Antônio Carlos de Almeida Braga, o Braguinha. Uma vez ele me deu uma bronca e disse: “Garoto, se você não tiver adversário, eu não tenho como te pagar”. O que o Murilo e o Gustavo fizeram (protestaram contra a CBV) não foi acompanhado por outros. O Murilo se indignou dizendo que esse dinheiro iria para o vôlei. Eles têm toda a razão e direito de cobrar. Gostaria que todos entendessem que, o que eles estão cobrando, não é para eles. Eles são a exceção. Os recursos são tirados daqueles que não são o Murilo, o Carlão, o Giba, o Renan. Ao longo de 30 anos, imagina os recursos que deixaram de chegar aos atletas. Se eles entendessem isso, e parassem de vez, tudo mudava.
Os resultados do vôlei mascararam a real situação do esporte?
O vôlei é o esporte que mais ganha títulos no Brasil desde 1980. Todos diziam que era a confederação modelo. Sabe quantos times profissionais têm na confederação modelo? Dez. O Campeonato Brasileiro começava em dezembro e terminava em abril. Com Natal, Ano-Novo, Carnaval, Semana Santa no meio. Aí eu dizia: “vamos usar o exemplo do vôlei no futebol então. Começamos o Brasileiro em dezembro, terminamos em abril e no resto do ano é Seleção Brasileira”. Ninguém critica porque os esportes são pequenos no Brasil. E aí, quando a seleção brasileira apresenta resultados, dizem que é do trabalho administrativo e não dos atletas. E quando você olha por trás do voleibol, não tem nada. O mesmo vale para várias outras modalidades. São os absurdos que os atletas não podem falar, se não nem são convocados para uma seleção.
Entenda o caso do vôlei
No ano passado, uma série de reportagens da ESPN revelou irregularidades em contratos da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). De acordo com o canal, a CBV pagava agências de marketing e de eventos pela “intermediação” dos contratos de patrocínio com o Banco do Brasil. As agências escolhidas eram de pessoas ligadas a Ary Graça, então presidente da entidade, e os pagamentos chegariam a cifras milionárias. A ESPN também citou supostos contratos superfaturados com escritórios de advocacia de amigos do dirigente.


Fonte: blog Bebeto de Freitas 07 04 2015
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Bebeto de Freitas entra para o Hall da Fama do Vôlei

Esquecido pela vaidosa cúpula do esporte brasileiro, Bebeto de Freitas ganha reconhecimento internacional, o segundo em menos de um ano. Crítico e irônico na análise do momento político-esportivo, ele pede a ''atuação do FBI no combate à corrupção no Brasil''.
 Em outubro, o ex-jogador e técnico da ''geração de prata'' entrará para o seleto grupo do Hall da Fama do Vôlei. Será a oitava personalidade brasileira condecorada, em Holyoke, Massachusetts (EUA), onde o vôlei foi criado, em 1895. Em 2014, Bebeto teve seu nome incluído no livro que homenageia as trinta mais importantes personalidades do vôlei na Itália. 
Após conquistar cinco títulos dirigindo o clube italiano Maxicono Parma (1990-1995), Bebeto treinou a Seleção da Itália, sagrando-se campeão da Liga Mundial, em 1997, e Campeão Mundial em 1998. Esse feito o colocou como o único técnico brasileiro a ter título por outro país em todas as modalidades do esporte. No Brasil, já havia se consagrado, quando dirigiu as Seleções Olímpicas de 1984 e 1988, conhecida como ''geração de prata''. Emoção “Quando o seu trabalho é reconhecido por adversários dentro das quadras, no bom sentido, tem realmente um valor diferente. É um prêmio muito importante, pois o reconhecimento vem lá de fora e isso me enche de orgulho. Estou muito contente, uma vida dedicando tudo para o crescimento do esporte me sinto muito feliz”.

Crítica
Crítico com boa argumentação, cultura herdada do tio, João Saldanha, o maior jornalista esportivo brasileiro de todos os tempos, Bebeto lamenta o momento político-esportivo. Ele não silenciou diante do escândalo de corrupção na Confederação Brasileira de Vôlei e ainda cobra: “Continuamos sem saber o que aconteceu e vamos ficar assim, sem saber nada daquele episódio na CBV”.
Diante das denúncias de corrupção, em geral, ele fala sério, mesmo na ironia, referindo-se às prisões de cartolas, diante do escândalo na Fifa. “A nossa salvação é pedir um FBI no Brasil. A Polícia Federal já não dá conta de investigar tanta denúncia por aqui. Por isso, estou mudando de time de coração. Sempre fui um botafoguense apaixonado. Agora, visto a camisa do FBI”.


Fonte: site Uol Esporte 03 07 2015
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BEBETO: MUITO ALÉM DO SEU PRÓPRIO TEMPO

Naquela noite, o time de vôlei do Municipal tremeu. Clube da zona norte do Rio de Janeiro, não era páreo para o Botafogo, com mais da metade de seu elenco inteiro convocado para a Seleção Brasileira. Mas, o destaque dos destaques era seu levantador. Sobrinho de João Saldanha, atrevido como o tio, Bebeto (ainda não havia incorporado o “de Freitas”) era um mágico. Era o tempo em que o vôlei tinha regras muito distintas das atuais. Naquela época, havia a vantagem e o ponto só acontecia após o saque ser confirmado. O set era de 15 pontos, embora muito mais longo. Mas o que consagrava Bebeto era o bloqueio valer como toque. O levantador precisava dominar os fundamentos manchete e toque com precisão. Precisava colocar a bola na pinta para os atacantes, sem cometer dois toques ou condução. E aí, Bebeto sobrava.

O jogo contra o Municipal naquela noite foi um passeio. Três sets a zero, parciais de 15/1, 15/1 e 15/0. Do massacre botafoguense ficou na memória um lance: o ataque explodiu no bloqueio, e a bola ia cair atrás dele, sem peso, mansa. Bebeto então surge, rola e se posiciona embaixo da bola que estava a menos de um metro de distância do chão. Com um toque preciso faz o levantamento para Paulão, ponta-atacante do Botafogo. Do outro lado da quadra, o levantador do Municipal estava estático. Não montou o bloqueio duplo para evitar o ataque de Paulão. Ainda olhava para Bebeto, admirando aquele ser do outro mundo.

O tempo passou. Enquanto Bebeto incorporava o “de Freitas” e assumia o cargo de treinador da Seleção Brasileira de Vôlei, o levantador do Municipal era agora jornalista esportivo. Assim como antes, Bebeto de Freitas inovava. Ao perceber que tinha jogadores mais baixos que seus principais adversários, apostou num jeito brasileiro de jogar, incorporando a velocidade asiática no ataque e o posicionamento mais dentro de quadra das escolas soviética e polonesa. Aliou a isso, a inventividade de seus jogadores. Foi com ele que Bernard trouxe da praia o saque Jornada nas Estrelas e William o Viagem ao Fundo do Mar. Foi também de Bebeto a ideia de bloquear o saque adversário.

O Brasil, até então mediano no cenário mundial do Vôlei, passou a protagonista, conquistando a medalha de prata na Olimpíada de Los Angeles. Era ele o técnico na vitória sobre a até então imbatível União Soviética de Savin e Zaitsev, no Maracanãzinho,

por três sets a dois (2/15, 15/13, 15/12, 13/15 e 15/7), partida que durou três horas e meia. Era a final do Mundialito realizado no Rio, dois anos antes dos Jogos Olímpicos. Ali, naquela quadra, naquele 25 de setembro de 1982, começava a hegemonia brasileira. Um ano depois, de novo contra a União Soviética, a histórica partida no Maracanã, debaixo de um público de mais de 90 mil pessoas e uma chuva torrencial. Mais uma vitória brasileira, dessa vez por três sets a um.

Bebeto formou uma gangue de exímios levantadores. William, Bernardinho, Maurício, Ricardinho (a quem classificava de genial), Marcelinho… todos têm no seu DNA cadeias genéticas transferidas pelo treinador. Bernardinho é o que mais se aproxima. Não pela qualidade técnica de jogador, mas pelo confessado aluno que foi. “Eu sentava ao lado dele no banco para aprender. Não era o titular da seleção e dei sorte. Suguei o que podia”, disse uma vez. Mas era o titular do time da Atlântica-Boavista, equipe profissional também dirigida por Bebeto e bancada pelo mecenas Antonio Carlos de Almeida Braga, o Braguinha, dono da gigante corretora de valores da época,. Saiu da seleção ao brigar com Carlos Arthur Nuzman, então presidente da CBV, e seu antigo companheiro de time, no Botafogo. Bebeto foi para a Itália provocar nova revolução e transferindo a hegemonia do leste europeu para o vôlei italiano. Por aqui, seus discípulos Radamés Lattari Filho, José Roberto Guimarães e Bernardinho tratavam de dar continuidade ao seu trabalho de fazer o Brasil liderar o vôlei mundial

Inquieto e apaixonado pelo Botafogo, Bebeto se meteu no que classificou de “a pior fria da minha vida”. Assumiu a presidência do clube e, com uma administração corajosa – e também controversa – imprimiu nova imagem, marcada, principalmente, pelo arrendamento do Estádio Nilton Santos. As constantes brigas internas no Botafogo – o gênio do tio Saldanha era uma de suas características de comportamento – fizeram com que se afastasse do clube. Um dia, chorando, disse: “eles não sabem o quanto eu amo o Botafogo. Eles não sabem”.

Inquieto, inovador, brigão, carinhoso, exigente, amoroso e genial, Bebeto de Freitas morreu. Aos 68 anos, um ataque fez seu coração enorme parar de bater. Fazia o que mais gostava: inovar. Trazia para o Atlético Mineiro um time de futebol americano, um projeto pronto, sem custo e vencedor, como afirmou em entrevista coletiva, minutos antes cair ao chão no Hotel da Cidade do Galo.

Bebeto não deixa vazios. Seu legado é imenso e sempre foi prazeroso para ele transferir conhecimento. Parafraseando Getúlio Vargas, Bebeto de Freitas saiu da vida e entrou para a história. O vôlei brasileiro é o que é, hoje, por sua culpa.


Fonte: blog Bebeto de Freitas 14 03 2018
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Sob aplausos, Bebeto de Freitas recebe último adeus de amigos e familiares

Ex-presidente e torcedor fanático do Alvinegro, o mentor da Geração de Prata do vôlei nacional recebeu o carinho no velório na sede do Botafogo.
O saguão da sede social do Botafogo ganhou gente aos poucos. Eram amigos, familiares e torcedores, todos à espera do último adeus a um dos maiores nomes do esporte nacional. Eram quase 17h quando o corpo de Bebeto de Freitas chegou a General Severiano. Ex-presidente e torcedor fanático do Alvinegro, o mentor da Geração de Prata do vôlei nacional foi recebido sob aplausos. Morto na tarde de terça-feira, aos 68 anos, depois de uma parada cardíaca, Bebeto recebeu o carinho na casa de um de seus maiores amores.
O Botafogo abriu as portas para a despedida e homenageou seu ex-presidente com a bandeira a meio mastro. Mais cedo, em Belo Horizonte, também foi realizada uma cerimônia na sede do Atlético-MG, onde era diretor de administração e controle. O corpo de Bebeto vai deixar a sede do Botafogo às 9h desta quinta-feira, em um carro do Corpo dos Bombeiros, rumo ao Cemitério São João Batista. O enterro será às 15h.


Durante todo o dia, amigos, familiares e personalidades do vôlei e do futebol foram prestar homenagens ao ex-técnico. Gente como Jorge Barros, auxiliar de Bebeto na Olimpíada de Los Angeles; Marcus Vinícius Freire, Carlão, Radamés Lattari e Renan Dal Zotto, treinador atual da seleção.
- Bebeto, sem dúvida, é o principal protagonista de tudo isso. Cara que estava à frente de todos os projetos, e com o diferencial de que conseguia trazer todo mundo com ele - disse Renan.

O corpo chegou ao Rio de Janeiro por volta de 13h30, no aeroporto de Santos Dumont. Lá, passou por trâmites burocráticos até seguir para General Severiano. Torcedores aplaudiram quando o caixão entrou na sede do Botafogo, pouco antes das 17h. Antes disso, chegaram coroas de flores da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) e de times como do próprio Botafogo, Fluminense e Chapecoense. Jogadores que atuaram sob o comando de Bebeto na seleção italiana também enviaram flores para homenagear o ex-técnico.


Marcelinho, ex-levantador da seleção e que joga atualmente pelo Botafogo, chegou cedo à sede para um treino com a equipe. Antes, falou sobre a importância de Bebeto para o vôlei nacional e sua luta contra a corrupção no esporte.
- Há vinte anos anos ele já enxergava a corrupção que está acontecendo hoje e não foi ouvido. Um dos motivos que ele foi para o vôlei italiano foi por causa disso. Ele foi para lá e não poderíamos ter deixado isso. Ele mudou o vôlei brasileiro. O que ele fez pela Itália, poderia ter feito ainda mais por aqui - disse o levantador.
Do futebol, o primeiro a chegar foi Carlos Roberto, técnico do Botafogo quando Bebeto era presidente. O ex-treinador ressaltou os feitos do amigo à frente do clube do coração.
- Já éramos amigos. Ele resgatou o Botafogo de uma fase difícil, recuperou a sede... Fez várias coisas boas para o nosso Botafogo. Em 2006, deu um suporte muito importante para nosso título.
Presidente do Botafogo, Nelson Mufarrej também esteve na sede para homenagear Bebeto. O mandatário afirmou que o clube ainda deve homenagear Bebeto.
- Um dia triste. Já tive a oportunidade de dizer o que representa o Bebeto ao Botafogo. Um grande desportista que nos deu 11 títulos com o vôlei. Também como presidente do clube. Ainda estamos discutindo e não tem nada programado. Mas tenho certeza que o conselho Deliberativo vai fazer para o Bebeto - disse.
Também ex-presidente do Botafogo, Carlos Augusto Montenegro foi outro a ir à sede do clube para se despedir do amigo.
- Muito novo, ex-atleta, mudou a história do esporte, do vôlei. E, apesar da paixão pelo vôlei, sempre antenado ao Botafogo, alucinado pelo Botafogo. Bebeto deixou uma lição do que é ser apaixonado por um clube - disse.
Outras personalidades, como João Moreira Salles, diretor de cinema e empresário, também prestigiaram o adeus a Bebeto.
Com três dias de luto decretado pela morte de Bebeto de Freitas, Botafogo põe bandeira a meio mastro em General Severiano nesta quarta.
A carreira esportiva de Paulo Roberto Freitas, o Bebeto de Freitas, é extensa: foi jogador e técnico da seleção brasileira de voleibol. Comandou a histórica geração de prata da seleção masculina em Los Angeles-1984. Além do feito, também revelou uma série de jogadores que fizeram da equipe uma seleção imbatível nos anos seguintes, como Carlão e Giovane. Bebeto também foi o mentor de dois outros grandes treinadores do vôlei mundial: José Roberto Guimarães e Bernardinho. Depois, se sagrou campeão da Liga Mundial de 1997 e do Mundial com a Itália em 1998, até que o amor pelo Botafogo bateu mais forte em seu peito e lhe fez trocar de esporte.


No futebol, teve a primeira passagem pelo Atlético-MG em 1999. Trabalhou no clube ainda em 2001. Foi presidente do Botafogo entre 2003 e 2008. Posteriormente, voltou ao Galo como diretor-executivo, em 2009. Assumiu a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer na gestão de Alexandre Kalil na prefeitura de Belo Horizonte, no início de 2017. Com a eleição de Sérgio Sette Câmara para presidente do Atlético-MG, no final do ano passado, retornou ao clube, desta vez no cargo de diretor de administração e controle.


Fonte: site G1 14 03 2018
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