OS INTERESTADUAIS DE 1906 -1916
Em 1908, já com o seu quadro consagrado, o Botafogo excursionou novamente a São Paulo, enfrentando em dois dias seguidos, os fortes quadros do C.A. Paulistano, que seria o campeão do ano e da A.A. das Palmeiras. Nosso team foi reforçado por dois jogadores do Fluminense: João Leal, nosso ex-defensor e Edwin Cox, o famoso centro avante da época.
Eis como a imprensa paulista de então descreveu os encontros:
2º jogo — Paulistano x Botafogo. Data: 15 de Agosto de 1908. Local: São Paulo. Resultado: Empate, 1x1. "O primeiro match da serie São Paulo versus Rio - ontem realizado no ground do Velodromo, entre os teams do C. A. Paulistano e do Botafogo F. C., do Rio, atraiu àquele local extraordinaria concorrencia, principalmente de famílias da elite paulistana, que ostentavam custosas e garridas toilettes, dando desse modo, um aspeto "chic" à bela reunião de ontem.
Às 3,45 da tarde foi iniciada a pelejo, estando os teams organisados da seguinte maneira:
PAULISTANO — Brito; Tommy, Fernão, Macedo Soares, J. Miranda, Rubens, Colston, Peres, Bibi, Pelayo, J. Prado. BOTAFOGO -- E. Coggin, O. Werneck, M. Maio; A. Sampaio, Viveiros de Castro, J. Leal, R. de Lamare, F. Ramos, E. Cox, R. Sampaio, E. Sodré. Atuou como refere o Snr. H. Friése. Dado sinal do inicio do jogo as duas equipes empenharam-se logo numa luta geral, logrando o Paulistano aproximar-se do goal do Botafogo sem contudo alcançar qualquer êxito. De lado a lado vém-se os jogadores trabalhando tenazmente, correndo daqui, defendendo do dali, mas a feição do jogo não desperta interesse. É que ele se desenvolve falto de regra e de combinação, sobretudo.
A defesa do Botafogo não consegue passar a bola para os seus forwards e nem sustenta-los nos ataques. Da parte do Paulistano os forwards não são capazes de combinar entre si de modo a levar a efeito um ataque e manter-se no terreno adversario esperando ocasião propicia, apesar de excelentemente auxiliados pela defesa. Entretanto, apesar dos jogadores se esfalfarem, foi esse o aspecto do primeiro tempo, que terminou sem conseguir nenhum dos teams marcar goal. Recomeçada a luta, no segunda hal-time, o match teve, então, uma fase mais acentuada, mais viva. O jogo de ambos os lados tornou-se rápido e o Botafogo começou a desenvolver melhor jogo, parecendo querer evidenciar certa superioridade. É assim que os seus forwards fazem mais escapadas ameaçando o goal do Paulistano. Viveiros de Castro trabalha com denodo, distribue o jogo em todas as direções, tornando-se um elemento poderoso na luta. Na defesa, M. Maio., porta-se admiravelmente, rompendo todos os ataques dirigidos contra a goal. Dessa maneira, pois, o Botafogo fez por alguns minutos, um jogo inteligente do qual resultou, certa vez, ir a bola aos pés de Flavio Ramos que, numa carreira vertiginosa, consegue passar com os halfs e os backs adversários. Nesse ocasião, o goal-keeper, na iminencia do perigo sai para rebater a bola, mas Flavio logra iludi-lo e marca, então, o primeiro e único goal para a sua equipe. Esse feito é aclamadissimo pelas arquibancadas e também é motivo paro os rapazes do Paulistano meterem-se em brios. O que é foto é que dai por diante, o Paulistano redobrou de energia, atacando com insistencia os seus adversários. E momentos houve em que foi necessário todos os jogadores do Botafogo irem postar-se à frente do seu goal, tal a impetuosidade com que o Paulistano está atacando. De uma feita, porém, as nossos forwards romperam todos os obstaculos que lhes foram opostos e chegaram junto ao goal adversário. Algumas peripécias desenvolveram-se nesse local e, afinal, Peres, recebendo a bola de Bibi, marca o primeiro e único goal para o Paulistano, sob estrondosos aplausos. O jogo prossegue, em seguido, mais entusiasmado, porém, dentro de poucos minutos estava terminado o tempo, com um belo empate de 1 goal a 1. De ambos os lados todos jogaram bem, não sendo justo destacar-se este ou aquele jogador. O refere agiu corretamente".
NOTAS
— O Botafogo jogou desfalcado do grande Lulu Rocha, muito bem substituído por Castro.
No quadro do Paulistano figurou Macedo Soares o nosso defensor de 1906. O grande Rubens Sales começava a celebrizar-se e Tutú transformara-se em centro media. O juiz foi Friése, o famoso crack do Germania.
3º jogo — A. A. Palmeiras x Botafogo. Data: 16 de Agosto de 1908. Local: São Paulo. Resultado: Pailmeiras, 1 x0.
"A peleja ontem disputada no Velodromo, pelas equipes do Botafogo F. C. e da A. A. dos Palmeiras, foi incontestavelmente um sucesso em toda a linha. As arquibancadas estavam repletas de famílias e, em torno do campo, era grande a concorrencia de povo. O jogo primorosamente disputado, foi cheio de lances emocionantes e de peripecias interessantíssimas, que empolgaram o publico durante os setenta minutos regulamentares. Precisamente as 3,40 minutos da tarde, os dois teams, deram entrada em campo, precedidos do refere, Sr. Stany, do S. C. Germania. Os bravos jogadores, como é da pragmatica paulista, foram recebidos com prolongados aplausos. A organização dos teams obedecia à seguinte ordem:
PALMEIRAS — Hugo; Urbano, Lefévre; O. Egydio, TooCollet, R. Guimarães; Doadora, O. Bicudo, R. Masine, R. Saimpaio, M. Egydio.
BOTAFOGO — E. Coggin; O. Werneck, J Leal; A. Sampaio, Viveiros de Castro, V. Crespo, Rolando, F. Ramos, E. Cox, B. Sodré, E. Sodré. Dado o sinal de inicio da luta, imediatamente os jogadores entram decididos em ação, e o jogo desenvolve-se de todos os lados, com os ataques da linha de forwards do Palmeiras sobre o goal dos seus adversários. Estes, logo em seguida, em justa represalia, começam a fazer alguns rushs contra o Palmeiras, dando o que fazer à sua defesa. Estabelece-se, então, uma luta esplendida e rapida entre os teams. Da parte do Botafogo ha forte empenho em pôr embargos contra a combinação que 03 forwards do Palmeiras já começavam a executar. Recebendo varias vezes a bola da linha de halves, Deodoro, de uma feita, escapa com ela, e vai até ao goal do adversario, depois de haver passado os respectivos backs. Era goal pela certa, e aquela multidão de senhoras, que enchia as arquibancadas, anciosa, ofegante, levanta-se e acompanha as peripécias do valente jogador. Mas, Coggin sai do goal e consegue tirar a bola de Deodoro pondo-a fóra do campo. Livre desse perigo, o digno adversario do Palmeiras, longe de cuidar só de sua defesa, organiza rapidamente o seu ataque e em poucos segundos as seus farwards enfrentam as posições adversarias, envolvendo-se em franca disputa. O Botafogo apresentou ontem, no seu team, um elemento de primeiro ordem, que conseguiu, em poucos momentos captar os simpatias do público. Queremos nos referir ao forward Mimi Sodré — um petizinho destemido a valer que fez a defesa do Palmeiras duplicar a sua vigilancia e os seus esforços. Mimi Sodré não tem por habito jogar como de regra, na sua posição, porque ele está sempre junto da bola, quer ela esteja no centro do campo, quer na extremidade. Muito veloz, esperto, possuidor de quasi todos os conhecimentos do foot-ball, Mimi Sodré é um verdadeiro ratinho bronco.
Com um elemento, pois, dessa ordem a linha de farwords do Botafogo praticou, ontem, um jogo deveras magnifico. A despeito, porem, dos esforços de ambos os teams, pouco depois terminou o primeiro tempo do match, sem lograr qualquer um deles fazer um goal. Recomeçado a peleja, o jogo teve a ação brilhante da primeira fase, sendo iniciados belíssimos rushs dos dois lados.
Parecia que a luta de ontem ia ter o mesmo resultado do da vespera, isto é, um empate e quando os forwards do Palmeiras, depois de haverem tentado já inumeras vezes sortidas contra o goal do Botafogo, decidiam fazer qualquer coisa de aproveitavel.
Octávio Egydio, que cada dia se vai tornando excelente half, numa bela ocasião apanha a bola e com bôa diretriz manda o Deodoro, que, correndo vertigionosamente, vai até ao canto da linha de goal do Botafogo. Colocado otimamente, Deodoro passa a bola a Octávio Bicudo que vinha na, sua posição acompanhando a corridsa do seu colega. Decididamente desse lance jogado pelos forwards do Palmeiras ia resultar afinal um goal. E, de fato, Bicudo, que depois de sua estada nos Estados Unidos se nos tem revelado um jogador completo, recebendo a bola de Deodoro, não vacila, e com formidavel kick marca o primeiro e único goal para o Palmeiras, que foi acolhido por estrondosos aplausos partidos de todos os lodos do Velodromo.
Diante do êxito desse lance, o Botafogo tenta também contra o goal do Palmeiras vários ataques, mas a defesa deste consegue inutiliza-los todos. Poucos minutos depois estava terminado o jogo com a vitoria do Palmeiras por 1 goal a 0. Do lado do Botafogo, todos os rapazes portaram-se às direitas, "cavando" cada um coisas impossíveis. No team vencedor merecem elogios Hugo, Urbano, Lefévre, T. Collet, Octávio, Egydio, Deodoro, Bicudo e Masine. Pouco teve que fazer o digno referee Sr. Stany, porque o jogo de ontem primou pela delicadeza de ambos as partes. Depois elo match, foi servido no Grande Hotel, lauto jantar aos rapazes do Botafogo, ao qual compareceram varios jogadores dos teams C. A. Paulistano e da A. A. das Palmeiras. Terminado o jantar, os nossos hospedes dirigiram-se em bonde especial para a "gare" do Norte, onde embarcaram para o Rio. Na "gare" do Norte foram afetuosissimas as despedidas, sendo entoados os hinos de guerra".
NOTAS — Foi a primeira vez que o Botafogo enfrentou a gloriosa e hoje extinta A. A. das Palmeiras, que seria sua tradicional adversaria e amiga, tendo em sua vida agitada, muitos pontos identicos a do Botafogo. Seus socios no Rio, eram alvi-negros e vice-versa, como Carlos Lefévre, um de nossos campeões de 1910 e Raphael Sampaio que na vespera defendera o Botafogo contra o Paulistano e no dia seguinte jogou pelo Palmeiras contra nós. Aliás, o Palmeiras era tambem alvi-negro; em 1908 de camisa preta, do lado esquerdo e branca, do direito; em 1911, de camisa preta, de gola e braços brancos e já em 1914, com sua última camisa, branca, de faixa preta, ao peito. — Esse jogo marcou também a estréia luminosa em nosso primeiro quadro de Mimi Sodré, o mais leal player dos campos cariocas, que, quasi uma criança, estréara na temporada, em nosso segundo quadro, ascendendo ao principal, apesar de suas excepcionais qualidades, somente em 1910. O que foi sua fulgurante estréia, já lemos acima.
— Ha duvidas quanto à constituição de nosso quadro que, para "Jornal do Comercio" foi este: Coggin, M. Maio e Octávio, J. Leal, Viveiros e Ataliba, Canto, Flavio, Cox, Mimi e Emanuel. Damos preferencia, porém, à que consta do registro de jogos do clube, que é a seguinte: Coggin, J. Leal e Octávio; Rolando, Viveiros e Ataliba; Henrique Teixeira, Flavio, Cox, Mimi e Emanuel.
DESCRIÇÕES DA IMPRENSA CARIOCA DA ÉPOCA
4º jogo — Botafogo x Germania —Data: 8 de setembro de 1908: Local: Rio. Resultado: Botafogo, 4x0.
"Chovia miudamente e uma humidade penetrante produzia terrivel mal estar, quando os teams entraram em campo, o do Botafogo F. C. com dois elementos do seu 2º team, e o do Sport Club Germania, sem Riether, o full-back aplaudido em São Paulo e entre nós nas pugnas com o Rio Cricket A. A.
Dinorah, referee correto e competente, apita e os teams tomam posição. São êles: Botafogo F. C. — Coggin, Octávio Werneck, M. Maio; Rolando de Lamare, Viveiros de Castro, Ataliba; Millar, Flavia, Raphael Sampaio, Benjamin Sodré e Emanuel Sodré.
S. C. Germania - Gronau, Marques, Vaz Porta; Gerhordt, Thiele, Anfiloquio; Kirscgner, Einfuhrer, Stani, Behrmam e Hugo.
E começa o jogo, mal conduzido e sem lances, como o da véspera. Dado o kich-off pelo Botafogo, a bola vai logo aos forwords do Germania, que ameaçam o goal contrário, obrigando os backs e o goal-keeper deste os bons trabalhos. O Botafogo, porém, domina desde logo e ataca, embora sem a sua habitual combinação. Depois de alguns incidentes e de uma outra investida do Germania, sem resultado e sem ordem, Flavio Ramos escapo-se e da um shoot que Groncu rebate otimamente; voltam os do Botafogo à carga e Rafael Sampaio consegue fazer um belo goal de meia atura.
Há, depois disso, um hands de Rolando, punido. O valoroso half-back tem o costume de levantar constantemente os braços quando defende; deve perde-lo porque é, nessa sua nova pósição, um jogador de grande destaque. O 2º goal do Botafogo, feito dez minutos depois, foi conseguido por Flavio, de um passe de B. Sodré. E, sem mais incidente; apreciáveis terminou o 1º half-time.
No 2º tempo do jogo; a desorganização no ataque do Germania foi maior ainda, só conseguindo o team avançar um pouco mas sériamente, logo ao princípio e já no fim do match. No princípio, depois de dois bons passes de Gerhardt, um a Hugo e outro a Kirschrier, éste dá forte shoot que Coggin defende com um corner. O corner não produz resultado e o Botafogo firma-se resolutamente nas investidas. Seus forwards fazem passe; e dão shoots que o goal-keeper devolve reais bons kichs, mais parecendo praticar o jogo de back, até que Benjamin Sodré consegue, a 20 jardas aproximadamente, marcar um belíssimo goal alto. Quase que em seguida, Flavio Ramos faz o 4º goal para o seu clube, de um passe de Rafael Sampaio. No fim do jogo, conforme acima dissemos, é que o ataque do Germania se concerta melhor, proporcionando boas defesas do Botafogo, especialmente de Coggin, e alguns corners contra este. Tudo, porém, é infrutífero e o simpático team de S. Paulo finda o último dos seus jogos no Rio sem conseguir um ponto único. O jogo não emocionou nem prendeu. — N. M.".
E outro jornal: — "Ambos os teams jogaram bem, porém seria injustiça não salientar mas Rolando de Lamare e B. Sodré que foram os que mais cavaram para a vitoria do glorioso team do Botafogo F. C.".
NOTAS — O Botafogo jogou desfalcado de Lulu e Gilbert Hime, substituídos por Viveiros e Mimi, sendo que este registrou o seu primeiro goal em primeiros quadros, magistralmente como se viu. O jogo realizou-se no campo do Fluminense, como também o que se segue:
5º jogo: Botafogo x Palmeiras. Data: 12 de Outubro de 1908. Local: Rio. Resultado: Palmeiras, 5x1. "O dia de ontem amanheceu um tanto frio, e ameaçava constantemente, com ligeira brisa sudoeste, o sinal de chuva. O Corcovado estava encoberto de nuvens cinzentas carregadas de água. Eram os melhores indícios de tempestade. Na exposição, o barômetro do correio marcava 2-1, que significa tempo variável; era a última esperança. Eram precisamente 3 horas da tarde quando demos entrada no elegante ground do campeão carioca, o Fluminense F. C. A relva molhada pela garoa dava idéia de um elegante e esmeraldino tapete da Turquia. Às 3 e meia horas da tarde, a equipe do Palmeiras dá entrada em campo, debaixo de salva de palmas. Este team vinha capitaneado por Collet, o simpático. Logo depois, entra a rapaziada querida do Rio de Janeiro e a predileta do belo sexo. Esta é a equipe é o do Botafogo, dirigido por O. Werneck. PALMElRAS — Penteado, Moraes, Lefévre, O. Egvdio, Collet, Guimarães, Godinho, J. Chaves, Masine, M. Egydio, D. Campos. BOTAFOGO — Coggin, Dinorah, O. Werneck, Rolando, V. Castro, Ataliba, N. Hime, Flavio, Pullen, Mimi, Emanuel.
Como se vé da organização acima, o Botafogo foi buscar elementos no Paisandú, e no América Foot-Ball, o Sr. E. Pullen, daquele e o Sr. Dinorah, déste.
O team do Palmeiras vestia camisa preta e branca e a equipe do Botafogo possuia; camisas das mesmas córes, porém, em listas. R. Sampaio, o juiz dá sinal para ser tirado o "toss". Octávio e Collet aproximam-se, o níquel sobe ao ar, e ao tocar o chão, torna-se favorável ao team do Botafogo. Colocada a bola no centro, cabe a saida ao team do Palmeiras. A linha parte combinada, era passes largos e rasteiros. Porém Viveiros escora a bola, avança e vai entregar a sua linha de ataque. Estava o jogo em pleno ardor, pois as passes se multiplicavam e os halves se interpunham. Eram passados uns 10 minutos de jogo e todos cavavam como leões. As palmas saudavam os teams. Collet dava ordens, e Octávio chamava pelos seus. Que belo jogo se desenvolvia! Si a equipe do Palmeiras tem demonstrado contra o Fluminense o jogo que fez contra o Botafogo, iria imaculada para a "smart" capital paulista. Eram passados cinco minutos de jogo, quando o Garfinho, com belo shoot, marca o primeiro goal para a sua equipe. A linha de frente do Botafogo avança; Urbano querendo defender o seu goal, faz um corner, que foi tirado por Ataliba. Flavio escora a bola com a cabeça e marca o primeiro goal para o team do Rio. O jogo estava estupendo, cheio de peripécias. Por toda a parte só se falava nos dois teams. Como eles jogam bem, isto é que é jogo! As avançadas se multiplicam; Masine, o querido "center-forward" do Mackenzie, faz prodígios, marcando o 2º goal para o Palmeiras. Pouco depois acaba o primeiro tempo. Na segunda fase do jogo, Viveiros multiplica-se, mas é tudo baldado. Rolando e Mimi fazem as delícias dos espectadores. Flavio escapa em combinação com Pullen, porém Urbano, o discípulo de José Rubião, corta-lhe as intenções. O jogo está belo. Em dado momento, é J. Chaves o encarregado de marcar o terceiro goal debaixo de estrondosa salva de palmas. A linha de frente do Botafogo carrega sobre o goal paulista. Mario Egydio aproveita a occasião, escapa conjuntamente com Deodoro. Deodoro centra, Dinorah rebate com a cabeça, a bola vai ter aos pés de Mario Egydio; este passa a J. Chaves, que com seguro shoot marcou o quarto goal para o Palmeiras. O tempo estava quase a terminar quando o ligeiro Masine escapou e marcou o quinto goal para os paulistanos. A bola é colocada no centro do campo. Rolando dá a saída, o Botafogo avança, porém a sorte não os protegia. Mimi parte em combinação e com Emanuel, shoota em goal, pórém Orlando, com admirável calma, defendeu o seu goal. Rolando e Mimi, depois do jogo de ontem, podem ser considerados os melhores jogadores cariocas em suas posições. Do lado do Palmeiras, todos jogaram bem; e do Botafogo, Mimi, Rolando e, um tanto sofrível, Emanuel. Aos dois teams muitos cumprimentos pela belo jogo que desenvolveram. O match foi, de fato, mais renhido que o do, ante-ontem. Os jogadores empenharam-se com mais denodo, demonstrando que, para uma derrota, só mesmo uma vitória. E foi por êsse fato que o Palmeiras logo no primeiro half-time quis mostrar o seu alto valor, marcando, após alguns instantes de luta, um goal feito por Godinho que foi como uma soberba epopéia; assim o atestou a assistência”.
-NOTAS — De fato, o Palmeiras possuia um quadro formidável, com o escol do futebol paulista, sendo que em 1908 não disputara o campeonato que logo venceu seguidamente; em 1909 e 10 quando a êle voltou.
— A derrota do Botafogo, vice-campeão carioca e que era 1908 não foi vencido pelo campeão, o Fluminense, com o qual empatou por 4x4 e 2x2, por tão alto score, causou grande surpreza. É preciso considerar-se, porém, que o nosso quadro, além de desfalcado de Lulú, Millar e Gilbert, foi enxertado por dois elementos estranhos, Dinorah de Assis e Edgard Fullen que, na temporada seguinte, integraram-se como dois dos maiores defensores do clube. Pullen, durante anos a fio, quer no futebol, quer no tenis, defendeu bravamente nossas, cores. Dinorah, tragicamente falecido em 1921, foi um formidável zagueiro, dos maiores, se não o maior de seu tempo. Iniciou-se no Internacional, de S. Paulo e, mudando-se para o Rio, em 1908, defendeu, a convite de Belfort Duarte, as cores do América, revelando logo, porém, suas simpatias pelo Glosioso que defendeu valorosamente de 1909.
Teve um trágico fim pois baleado em uma tragédia no qual as circunstâncias o envolveram sem que tivesse a menor culpa, mal restabelecido, em 1909, entrou em campo para defender nossas cores contra o Fluminense, mas em 1911, ainda como consequência do ferimento recebido, sua saude declinou assustadoramente e Dinorah deixou o futebol. Desapareceu. Em 1921 o telégrafo anunciou o seu fim, afogado nos águas do Guaiba.
— Nos quatro interestaduais de 1908, como se viu, figurou sempre no lugar de notável centro-médio que já era Lulú Rocha que devido a uma operação estava afastado do quadro. Viveiros, o hoje benemérito Comandante Eurico Viveiros de Castro, tendo atuado sempre admiravelmente. E, por falar em Viveiros, é o único exemplo que conhecemos, no futebol carioca, de e filhos defendendo as cores de um clube: o Comandante e seus filhos Lauro, Eurico e Emanuel Sodré Viveiros de Castro.
Acervo particular Alceu de Oliveira Castro Jungsted
Fonte: Boletins Oficiais nºs 73 de outubro de 1948
74 de novembro de 1948
75 de dezembro
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