Os Interestaduais de 1906 - 1910
13º jogoO histórico bofetão de Abelardo Delamare em Gabriel de Carvalho naquele Botafogo x America realizado em 25 de junho de 1911 em nosso campo, colocara o Botafogo fora do Liga. De fato, reagindo a pesado insulto do player rubro que já vinha provocando Flavio Ramos, Abelardo aplicou-lhe um dos mais famosos bofetões que conhece a história do futebol carioca, seguindo-se grande conflito. Sem ouvir o Botafogo que solicitára fossem os fatos devidamente apurados, em menos de 48 horas, a Metropolitana aplicou-lhe a pena de advertência e suspendeu por um ano nosso inegualavel atacante.
Sentindo seus brios ofendidos com o que considerava uma grande injustiça e uma iníquo perseguição, o Botafogo reagiu a altura, desligando-se da Metropolitana, em gesto desassombrado e nobre, sem medir consequências que dele adviessem, recebendo a irrestrita solidariedade de seus extraordinários defensores, os melhores da cidade, que preferiram ficar no ostracismo, mas à sombra da gloriosa bandeira alvi-negra, a mudar de camisa e a ter os atrativos de um campeonato.
Este gesto edificante é unico no vida do futebol carioca. O Glorioso, sozinho, sem rivais à altura de seu renome, não perdeu um único de seus defensores que eram, repetimos, os mais completos jogadores da cidade, quiçá do Brasil. Formou-se aí a mística botofoguense que faz do Glorioso um club excepcional, diferente de todos os outros, pela sua fibra, coragem, estoicismo e espírito de luta e sacrifício. Perdemos, certamente, a ocasião de conseguir um tri-campeonato, mas ficamos de cabeça erguida, não aceitando o que considerávamos uma afronta a nossos brios. Nessa emergência perigosa recebemos a reconfortadora e irrestrita solidariedade de três bravos clubs paulistas que merecem nossa imorredura gratidão: a A. A. das Palmeiras, nossa tradicional e grande amiga que, em um gesto parecido, também se desfiliára e o S. C. Americano e o S. C. Germania que desafiando todas as proibições da Liga Paulista vieram bravamente enfrentar-nos, trazendo seus primeiros e segundos quadros, em uma inovação que nunca mais foi reproduzida.
Para o grande decepção da Metropolitana já a 23 de julho, a imprensa da época odiava, nestes termas, a visita do glorioso Americano, uma das mais puras glórias do futebol brasileiro e a constituição de nosso quadro: — "Trata-se de um encontro entre o Campeão do Rio de Janeiro e o provável Campeão paulista. Um, já célebre pelo valor e pela sua teimosia, digamos mesmo nevrose de vitória acha-se em, apurado training, em verdadeiro "pé de guerra", desde o momento em que, com a sua retirada Liga, declarou-se adversário cordial dos clubs filiados. O outro, cujo team passou por uma frutuosa reforma, deve o leitor lembrar-se que só foi derrotado uma vez em S. P: e que sua linha de ataque vale bem a formidável defesa formada por ltaborai, Menezes e Hugo de Morais. Acrescente-se a isso o mais o atrativo imaginado pela diretoria do Botafogo, mandando vir os dois teams daquela sociedade" — "Abelardo, o maravilhoso forward, não podendo jogar neste macth vai ser substituido pelo Sr. Raul de Carvalho. Outrora seria Flavio o suplente; mas o tradicional forward do Botafogo, o antigo soldado cujo nome aparece com o primeiro gesto de vida do seu club é preterido como uma coisa inútil. Querem uns que ele seja decadente; porém Flavio ainda não merece o epiteto. Ressente-se, é certo, de training e como tal perdeu aquela desenvoltura que o fazia excepcional e temível, mas, nos primeiros dias em que ensaiou para jogar contra o Palmeiras, ressurgiu nele um pouco dessa agilidade imprescindível no jogo de foot-ball.
A mesma imprensa assim descreveu o nosso:
13º jogo — Botafogo x Americano. Data: 23 de julho de 1911 — Local: Rio. Resultado: Americano 3x2.
"Quando daqui dissemos que o match de domingo seria um combate entre herois, adestrados na luta, não nos enganavamos pois sabiamos que o Botafogo, com os teams primorosamente formados e o Americano as suas equipes disciplinadas e aguerridas iriam entreter uma peleja ingente, jamais vista nos nossos grounds. Desde o inicio do combate até o seu final, anciosamente esperado por todos que se interessam ou deixam-se levar por um impulso de simpatia, para a fado deste ou daquele team, ambos foram fortes, testemunhando em cada golpe sua destreza e a sua proficiência. Mas (leva-nos a justiça a declarar desassombradamente) a rapaziada do tem alvi-negro portou-se com tanta heroicidade, com tanto ardor e coragem, que só mesmo uma ingratidão da sorte poderia roubar-lhe a vitoria de ontem, conquistada palmo a palmo, com gigantesco esforço e inaudita galhardia.
Aos embates do Americano, o Botafogo antepunha uma barreira sólida onde vinham se quebrar os seus golpes violentos. Eram Lefévre, Villaça e Baby zelando cuidadosamente por aquele goal que necessitava ficar inviolável... Entretanto, depois de uma liça herculea, o Americano conseguiu vazá-lo três vezes... A sorte não quis dar a mão ao team alvi-negro, porque este lutava desde o princípio contra ela...
As 3,15 da tarde, Haroldo Coas, o juiz corretissimo, chamou as teams à luta e alguns segundos mais uma poderosa carga do Botafogo chamava atenção da defesa inimiga. Mario e Raul, os estreantes, querem mostrar que são bem dignos de merecerem a confiança do seu club. Em belíssima combinação, cinco minutos depois do kick-off, abriram o score do Botafogo, em um goal indefensável, porque, a um shoot vigoroso de Emanuel, Mario se atira sobre Hugo de Moraes, resoluto e impavido, entrando com ele e a bola até junto da rede protetora. Voltando a bola ao centro, o Americano dá a saída: Décio e Otavio investem de rijo sobre o goal do Botafogo; mas Lulú tinha feito protesto de impedir o seu antigo companheiro de se salientar na pugna e apodera-se da bola, devolvendo-a aos seus forwards. Nessa ocasião o jogo emociona os arquibancadas; os forwards americanos multiplicam-se e combinam-se; os half-backs do Botafogo redobram de atenção. Seguem-se alguns minutos de luta perfeitamente equilibrada e finda o primeiro half-time.
No segundo tempo, começado às 4 horas em ponto, a mesma luta perdura e a mesma vontade de vencer existe em cada um dos teams adversários. A um momento de desatenção de Lulú, Décio escapa e shootando quase sem querer, devagar, preguiçosamente, marca o 1º goal para o seu time.
A resposta que merecia este feito depressa se faz sentir; Rolando avança ajudado por Villaça; Lulú os anima e os estimula, até que Raul, tomando a bola passada por Mario investe e shoota inteligentemente de vez, para que Hugo não a visse e nem pudesse defendê-la ... Era a 2º goal do Botafogo. Nessa ocasião o luta atinge ao seu mais alto grau de interesse; vê-se o Americano empenhar todas as fôrças para tirar a diferença que tem sobre ele o Botafogo e este dispensar os maiores esforços pára assoberbar de vez o adversário. Então os forwards do Americano atacando com vontade e perseverança, atravessam a poderosa tinha de halves do Botafogo; Décio, um tanto atrazado para se livrar de Lulú shootou violentamente. E uma bola rasteira entra pela esquerda do goal defendido por Baby, sem que este possa chegar a tempo de retê-la, tendo assim o Americano igualado o seu score ao do Botafogo. Neste pedaço último da luta, de frisante igualdade de forças, reconhece-se a superioridade do jogo empregado pelos dois fortissimos rivais. E, se faltando apenas um minuto para terminar o 2º half-time, J. Pedro conseguiu fazer um goal garantindo a vitória do seu club, foi porque Baby ao defender a bola shootada por Décio, escorregou e caiu na mesma ocasião que aquele jogador, com a boa cabeçada, introduzia ó bola no goal.
Terminava, assim, a grande luta em que se bateram dignamente, com delicadeza lhaneza de trato, os dois clubs amigos que ontem fizeram as delícias da numerosissima assistência, onde o elemento feminino sobressaia pela sua graciosidade e estimulava contendores com o seu nervoso aplauso. Resultado final: Americano, 3 goals x Botafogo 2 goals.
Todos os jogadores se portaram como verdadeiros herois e perfeitos cavalheiros. No Americano, salientaremos Menezes, Itaborai e Hugo, sendo que o ultimo revelou-se, entretanto, um abusador de "driblíngs” que degeneraram, às vezes em "carrings". No Botafogo, não fazemos seleções: enviamos-lhe nossos cumprimentos pelo êxito da festa e felicitações pelo brilhante resultado que embora desfavorável para si, confirmou o seu valor de campeão.
Os teams rivais:
Americano: Hugo: Menezes, Campos, Arriza, Oscar; Rufin, Otavio, Décio, Alencar, J. Pedro.
Botafogo: Baby; Lefévre, Villaça; Rolando, Lulú, Juca; Emanuel, Raul, Mario, Mimi e Lauro.
O JOGO DOS SEGUNDOS TEAMS
Nesse jogo coube tombem a vitória ao Sport Club Americano, que venceu o seu valoroso adversário por 4 x 3. Os goals foram feitos em ardem cronológica na seguinte disposição:
1º half — 1 h 36 — Hasche (Botafogo) -- 1 h 41 Dante (Americano); — 1 h 4' - Damasceno (Botafogo) — 1 h 53 -- Paula e Silva (Botafogo).
2º half -- 2 h 18 — Dante (Americano) ; 2 h 28 — Dante (Americano) - 2 h 45 – Danta (Americano).
O jogo correu regularmente, estando o Botafogo em inferioridade devido à falta de seu goal-keeper Coggin, substituido à último hora por Dinorah que, apesar da grande vontade que empregou e o colossal esforço empenhado, não podia defender as constantes investidas do adversário".
NOTAS — Foi este o nosso segundo quadro: Dinorah; Dutra e C. Vianna, Cesar, Ademaro e Meira Lins; Rasteiro, Damasceno, Hasche, Paula e Silva e Antonio Leal.
— Segundo o registro de jogos do club, nossos dois pontos foram marcados por Mario Fontenelle, o jovem atacante campeão pelo nosso 2º quadro, que fez uma estréia brilhantíssima.
— Nosso arco já estava confiado a Alberto Alvarenga, o Baby, como Villaça, vindo do América e que foi o maior arqueiro carioca da época.
— Não queremos encerrar estas notas sem umas palavras sobre a vida brilhante e efêmera deste glorioso S. C. Americano, que foi tão nosso amigo na adversidade. Fundado em Santos em 1903, mudou-se mais tarde para S. Paulo cujo campeonato da Liga Paulista passou a disputar em 1907. Alcançou o apogeu de 1911 a 13, sendo bi-campeão paulista de 1912-13. De seu formidavel conjunto faziam parte azes do quilate de Hugo, Itaboraí e Menezes, o mais famoso triângulo do época, Otavio Bicudo, o grande Décio, Irineu Malta, Eurico Menedes, Alencar Monte, Juvenal Campos e muitos outros.
Deu o glorioso Americano ao Brasil as duas primeiras vitórias em jogos internacionais no interior e no exterior. A primeira foi obtida em S. Paulo, em 13 de agôsto de 1911 contra o poderoso scratch uruguaio que nos visitou, do qual faziam parte os famosos irmãos Bertone que aqui se radicaram, defendendo as côres do mesmo Americano.
Com o mesmíssimo quadro que enfrentára o Botafogo, o Americano abateu sensacionalmente seu poderoso adversário por 3 x 0, tendo o terrível Décio marcado dois goals e Alencar um.
Em 1913 pela primeira vez um quadro brasileiro ousadamente excursionava ao exterior, ao Prata, e esse quadra era do bravo Americano, reforçado apenas por dois atacantes do Ipiranga, Formiga e Friedenreich. Estreando em 10 de agôsto em Buenos Aires, no campo do Racing, o Americano para gaudio nacional abateu por 2 x 0 forte selecionado argentino, goals lindamente marcados por Décio, o primeiro, e por Friedenreich, o segundo. Foi este o inesquecivel conjunto vencedor: Hugo; Menezes e Chico Neto, A. Bertone, J. Bertone e Thiele; Friedenreich, Juvenal, Décio, Alencar e Formiga.
Voltando ao Brasil após tão brilhante excursão, vítima de terrível crise interna, sosobrou inesperadamente, mas o nome glorioso do S. C. Americano ficará indelevelmente gravado na memória dos desportistas brasileiros por esses feitos imortais aos quais ligou seu nome Décio Viccari, o nosso grande campeão.
9.°
14º jogo: Botafogo x Germania. — Data: 6 de agosto de 1911. Local: Rio. Resultado: Botafogo, 3x2.
Após o Americano, recebemos a visita do valoroso Germania, cujo jogo foi assim descrito pelo "Jornal do Comércio" (da tarde): "A vitória do campeão — Lulú - Abelardo. — Apesar do triste dia de ontem, realizou-se com o assistência seleta de mais de 2.000 pessoas, o grande match interestadual em que se bateram denodadamente o Sport Club Germania e o Botafogo Foot-Ball Club, campeão do Rio de Janeiro.
A vitória deste último, que daqui auguramos porque conheciamos fartamente o seu valor, foi de incontestável merecimento, e alcançado debaixo de todos os ditames de justiça, tendo sido ratificada pela opinião de um juiz que tem se imposto pela sua rara aptidão e indiscutivel imparcialidade. Depois de 75 minutos de um combate gigantesco onde a bravura de um team contra-balançava com a galhardia e coragem do outro, venceu o mais forte, sem que de leve esta vitória pudesse deprimir o leal e correto adversário representado pela fidalga rapaziada do Germania. E o público que assistiu a esta luta titânica, que viu passo a passo, que acompanhou minuto a minuto, todas as suas peripécias e lances, assim o confirmou, pelo seu constante e entusiástico aplauso. Palmas febricitantes, gritos de louvor e de contentamento, chapéus e leques agitados com delirio, era o espetáculo que se assistia logo depois de um goal marcado, sem que a menor discordância entre espectadores perturbasse a saudação unisona que saia de todas as bocas.
O jogo dos primeiras teams: — Precisamente às 3,20 Borgerth, o referee intransigente, dá o sinal de saída e a bola impelida por Mario vai ter aos pés de Abelardo que, ontem disposto e alegre, escapa por entre os half-backes inimigos, procurando a viva força marcar o primeiro ponto para o seu clube.
Mas, esbarra deante de Vaz Porto e Niel que inutilizam os seus esforços, apoderando-se o primeiro da bola e passando-a ao seu companheiro que, rapido, atira-a, entregando-a aos seus forwards. Então o ataque do Germania se faz sentir, despertado por este golpe do inimigo e numa vingativa investida faz recuar a assombrosa barreira constituida pelos halves do Botafogo. Villaça, entretanto, calmo e refletido, não se deixa iludir pela rapidez da ataque; espera os forwards do Germania para roubar-lhes a bola, o que faz com destreza e habilidade repelindo-a para bem longe. O Botafogo insiste, agora: Mario, Raul e Abelardo investem, guiados e sustentados por Lulú; a defeso do Germania retrocede diante do brusco ataque do Botafogo; Abelardo desvencilha-se de Vaz Porto e, recebendo frente uma bola que lhe passa Raul, shoota-a inteligentemente, conseguindo marcar o goal para o seu club (3,30).
Volta a bola ao centro. O Germania da a saida resoluto, procurando ultrapassar halves inimigos; mas é ainda Lulú o obstáculo desta carreira do adversário que o impossibilita de prosseguir. Apoderando-se da bola restitui aos seus forwards que logo a perdem, mas Juca que ontem também esteve feliz, vigia a extrema esquerda que pretende es apar pela ala e embaraçando-lhe os passos torna-lhe a bola, passando-a a Lulu. Esse avança alguns metros e shoota violentamente indo a bola, depois de vencer a resistencia oposta pelas mãos do goal-keeper, introduz --se na rede para marcar o 2º goal do Botafogo (3.35). O que seguiu-se depois deste feito que bem mereceu o frenético aplauso das arquibancadas, excede a qualquer descrição que procuremos fazer. O Germania ainda sob a pressão da violência das investidas do Botafogo e da aclamação entusiástica das arquibancadas, precipita o jogo; mas recuperando aos poucos a reflexão, combina bem e em belos e acertados passes, vai até o goal do Botafogo para retroceder vencido ante a defesa brilhantemente feita por Lefévre e Baby. O jogo tem lances emocionantes durante esses momentos; ora é Lulú salientando-se no campo pela sua elegância e correção; ora é Guilherme Baungartner ameaçando o goal inimigo com os seus bonitos e perigosos centros. Proximamente a findar o 1º half-time, o Germania, concentrando o ataque, atira-se de rijo sobre a defesa inimiga, procurando a todo transe eliminar a vantagem do seu digno contendor. Lefévre e Baby não esmorecem um só instante; têm confiança no seu valor e na sua maestria. Entretanto, a uma investida mais forte dos forwards germânicos, o in-side right Bungner shoota com boa direção, marcando um goal para o Germania, debaixo de estrondosa ovação dos assistentes. Pouco depois terminava o 1º half-time.
No 2º tempo, que serviu para mostrar o entrainement dos dois rivais, pois apesar do estado lastimável do campo e do vigor da luta nenhum deles se mostrava enfraquecido e cansado, as mesmas ocasiões difíceis e perigosas se apresentaram, para que ambos os contendores testemunhassem a suao galhardia. No princípio, o Germania atacou com constáncia, porém vimos os seus ingentes esforços se paralisarem a frente de Baby que, sempre atento, guardava e, garantia o seu posto de honra. Neste half-time, Abelardo, o maravilhoso forward, aproveitando-se de uma falsa rebatida de Niel, quando defendia um comer, marcou o 3º goal, com shoot alto e forte, sendo o mais belo do dia; e o Germania, em revanche, consegue o seu 2º e último ponto, um kick dado por Fried numa bola quebatera na trave e que Baby não pudera defender.
Às 4,20 o juiz, a quem não podemos poupar elogios, dava o match por terminado com a brilhante vitória do Botafogo, consagrado pelo público de ontem o mais valoroso team dos campos cariocas.
Os segundos teams
Embora sem grande interesse, foi entretanto o jogo dos segundos teams cheios de peripécias e lances que emocionaram por vezes a assistência.
0 Botafogo que logo em começo demonstrou a sua superioridade, venceu o seu digno adversário pelo score de 2 a 0. Os goals foram feitos, um por Hasche e outro por Nilo, ambos no 2º half-time. Estrearam neste team, Raul Rodrigues, Carlos Rocha e Alvaro Werneck. O primeiro que, folgamos em registrar, é seguro nas suas defesas e tem um shoot violento, próprio de full-back, jogou ontem muito bem, defendendo bons shoots do inimigo.
Carlito, o goal-keeper, já conhecido no Botafogo como perfeito conhecedor de sua posição, apanhou boas bolas ontem e manteve a inviolabilidade do seu goal, sendo por este motivo alvo de significativa ovação. Alvaro tem qualidades excelentes de half de ala e esteve feliz também.
O 1º team, como se verá, entrou em campo desfalcado de Mimi e Rolando, sendo aquele substituido "pelo out-side atual do team, Raul de Carvalho, que teve como suplente o seu antigo jogador Emanuel, ontem um prestimoso auxiliar que muito contribuil para o êxito da vitória.
Os teams adversários:
GERMÂNIA: Gronau, Niel, Vaz Porto II; Kirschner, Gerhart, Vaz Porto I; Amstetter, Bungner, H. Gerhart, Fried e Guilherme. BOTAFOGO — Baby, Lefévre, Villaça; Juca, Lulú, Edgard; Emanuel, Abelardo, Marrio, Raul e Lauro.
Os foot-ballers paulistas embarcaram pelo noturno de 6 horas, sendo nesta ocasião feita pelos sócios do Botafogo grande manifestação de carinho e trocados amistosos brindes.
NOTAS — Emanuel Sodré, o magnífico extrema defensor do club desde sua fundação, ainda em plena forma, despediu-se das canchas nesse dia, para dedicar-se totalmente a seus estudos jurídicos. E hoje é um dos mais brilhantes e cultos desembargadores do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, o que não o impede de comparecer a todos os jogos do seu Glorioso, revelando que jamais esmorecerá o seu amor ao gremio que fundou e que tão bravamente defendeu. Também defendeu o Botafogo pela última vez o valoroso Carlos Lefévre pois, retornando a S. Paulo, voltou ao Palmeiras, cujas cores defendeu brilhantemente até 1916 quando se aposentou. Integrou-se definitivamente em nosso quadro principal, tendo jogado de half, Edgard Dutra que viria a formar com Villaça uma das mais formidáveis parelhas de backs que já possuiu o Botafogo. Edgard é, por assim dizer, o chefe esportivo desta grande família Dutra, tradicional defensora do Glorioso, em todas as épocas e que já deu ao club nada menos de dez defensores: os cinco irmãos Edgard, Antonio, Djalma, Osmar e Clovis Soares Dutra seus sobrinhos, os quatro irmãos Alkindar - Adalcy e Alternar Dutra de Castilho e Alfredo Soares Dutra Filho, keeper atual de um dos nossos quadros de water-polo.
— Pela primeira vez exibiu-se no Rio um jovem, então desconhecido e que futuramente seria o celebre e terrivel "El Tigre": Friedenreich, que brilhou marcando os pontos do seu club, pois que o primeiro, segundo outras descrições, foi também de sua autoria.
E, fato curioso, em sua enorme carreira encerrada unicamente em 1935, Friedeereich nunca mais teve ocasião de enfrentar Botafogo.
— Foi este o nosso segundo quadre vencedor do Germânia: Carlito, C. Vianna e Rodrigues, Alvaro, Adernaro e Meira – Nilo, Rasteiro, Damasceno, Hosche, Silva e Antonio Leal.
- Pela primeira vez, coisa que poucos sabem, defendeu as cores alvi-negras em jogo organizado, atuando com grande destaque no goal, como se vê da descrição transcrita, figura gigantesca de Carlos Martins do Rocha, o Carlito, um dos maiores, senão o maior dos botafoguenses, dedicado até quase a loucura à defesa de nossa bandeira.
Carlito, entretanto, não permaneceu no goal, pois já em 1913 aparecia como o seguroa zagueiro do nosso segundo quadro, firmando-se em 1917 como o magnífico e center-half de nosso quadro principal, na qual tornou-se conhecido como um sucessor de seu irmão, o magistral e grande Lulú Rocha, figura exemplar de desportista e de botafoguense.
- O S. C. Germânia, hoje Pinheiros, não pratica mais o futebol, foi campeão da Liga Paulista em 1906 e 1915.
Alceu Mendes de Oliveira Castro
Acervo particular Alceu de Oliveira Castro Jungsted
Fonte: Boletim Oficial do BFR nº 85 de outubro de 1949
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